7 de setembro de 2010 Paulo Lins, Magnoli e a roda viva do - TopicsExpress



          

7 de setembro de 2010 Paulo Lins, Magnoli e a roda viva do racismo Paulo Lins foi vítima de racismo ontem no programa Roda Viva que entrevistou Demétrio Magnoli. Eu quero deixar claro que ao dizer isso, não estou falando que a direção e produção do programa e da emissora, os entrevistadores, o entrevistado Magnoli, ou a apresentadora Marília Gabriela são ou foram racistas. Mas Paulo Lins, o único negro, pardo, afro-brasileiro, ou chame como quiser, o único não-branco na mesa, foi vítima de racismo. Parece contradição mas não é. Magnoli foi chamado para ser entrevistado pelo programa. Como um dos seus temas é a questão das cotas raciais, a produção sentiu necessidade de ter um negro na mesa, para fazer o “contraponto”. É o segundo programa da nova fase do Roda Viva. Semana passada entrevistaram Eike Batista. Nenhum dos entrevistadores era negro, e imagino que a produção não sentiu essa necessidade. Para debater cotas, Paulo Lins foi chamado, além do seus predicados, por ser negro, era a resposta sincera que ele queria ouvir. Por isso foi racismo. E foi vítima, porque ficou ali não no seu papel de escritor, de pensador. Mas de “negro”. Objetificado. De novo, não quero dizer que todo a produção, ou os demais participantes eram racistas, ou que todo o Roda Viva deveria ter 1 negro, ou dois, ou três. Eu quero mostrar que o problema é mais fundo, que o buraco é mais embaixo. Quando Paulo Lins apontou “Você sabem por que eu estou aqui?” causou comoção nos membros da bancada e no entrevistado. Eles agiram como se tivessem sido, pessoalmente, acusados de racismo. Paulo Lins ensaiou apontar que entre os técnicos havia uma proporção de negros muito maior do que a bancada. Mas parou no meio do caminho, de arrebentar de vez, de colocar um pouco de verdade naquilo ali. Pena que não fez isso. Pena que o Roda Viva não é mais “Vivo”, ao vivo. Porque são nesses momentos de rompimento que a verdade invade a TV. O problema é o seguinte, simples assim: as condições objetivas entre brancos e negros no Brasil, oportunidades educacionais, condições financeiras, tratamento da polícia e do judiciário, são desiguais. Isso gera situações onde para debater cotas em um programa de TV, inclusive para falar mal delas, é necessário adotar uma “cota racial” entre os participantes do debate, para legitimá-lo. Se as condições objetivas entre negros e brancos fossem iguais no Brasil, não só as cotas não seriam necessárias, como seria natural termos uma diversidade maior na TV, nos cargos governamentais, nas universidades, nos cargos de direção de empresas. Tão natural que talvez pudéssemos debater questões raciais sem se sentir “obrigado” a convidar um negro para legitimar esse debate. Mais, provavelmente nem precisaríamos ter esse debate. Alguém debate discriminação de descedentes de japoneses no Brasil? Não… É por isso que ações que promovam a igualdade e a diversidade no Brasil são tão importantes. E digo o seguinte: eu me identifico com parte dos argumentos do Magnoli. De outros tenho nojo. E acho suas conclusões completamente estúpidas. Eu me identifico em relação ao ideal, enquanto ideal, de democracia racial, miscigenação e escolhas culturais do Brasil, é melhor do que o projeto de sociedade multicultural (com grupos raciais separados) dos Estados Unidos. Mas isso enquanto ideal e objetivo, porque essa ideia não pode ser uma farsa construída em cima de um cotidiano de desigualdade e opressão racial. E as bobagens, as construções intelectuais patéticas dessa turma do Ali Kamel, Magnoli, Demóstenes Torres, são de doer. Por exemplo, todas essas tentativas de desconectar racismo e escravidão. Ontem Magnoli, disse que o racismo surgiu depois da abolição, para discriminar os que antes eram separados pelo estatuto da escravidão. Essas conversas, e outras como de que houve negros donos de escravos, de que os africanos ajudaram no tráfico de escravos, e de que havia escravidão tradicionalmente na África.São fatos históricos. Mas e daí? O que é óbvio, e claro que eles tentam apagar dizendo isso? Parece que eles estão querendo discutir algo como “os negros/africanos não eram todos bonzinhos e os brancos maus”. Mas não é essa a questão, nem isso que está sendo dito! Ao contrário, quem é contra o racismo defende que o ser humano é igual independente de cor! A questão fundamental, concreta, óbvia, é que historicamente milhões de brasileiros descendentes de africanos foram trazidos ao Brasil à força, explorados, assassinados etc…E que as consequências disso se estendem na condição social atual do seus descedentes e em uma série de práticas das instituições brasileiras que não foram reparadas objetivamente ou corrigidas até hoje. Barrar essas ações e deixar que a inércia resolva isso é negar que essa discriminação ainda existe hoje e ser cúmplice com ela. O problema não é o legado histórico por si só. E não fazermos nada hoje para mudá-lo. Os brancos da mesa, principalmente Marília Gabriela e Magnoli, se mostraram incomodados com as dificuldades em “nomear” os negros, ou pretos, ou afro-brasileiros. Reclamaram do politicamente correto, da patrulha. Tadinhos. Queridos, deixa eu explicar para vocês: quando há respeito, quando a relação é entre iguais, você provavelmente chamará a pessoa pelo nome. E poderá fazer piada, ele fará de volta, chamar de negão, o outro te chama de alemão etc… Quando não for motivo de espanto o Joaquim Barbosa ser o único ministro negro do Supremo Tribunal Federal. Quando for absolutamente natural a diversidade em todos os espaços e as pessoas tiverem oportunidades iguais e se bancarem pelos seus méritos, não vai ter problema, inclusive, a mesa do Roda Viva ter apenas brancos. Quando Paulo Lins for chamado para participar do Roda Viva por ser Paulo Lins. E não por ser negro, ou preto, afro-brasileiro, pardo, nomeie o “outro” como quiser, para discutir cotas. Quando houver igualdade objetiva, igualdade de condições sociais entre negros e brancos no Brasil. Nesse dia não importará muito como você chamará o outro. Não será necessário, nem lembrado, o politicamente correto. Porque a igualdade será real, não uma questão de linguagem. Porque Paulo Lins não será o outro para dar colorido a mesa. Seremos todos iguais com pleno direito às nossas diferenças. remidia.wordpress/2010/09/07/paulo-lins-magnoli-e-a-roda-viva-do-racismo/ Via Sanzio de Treviso
Posted on: Wed, 17 Jul 2013 03:45:36 +0000

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