A ILUSÃO DA RELIGIÃO "O milagre não é dar vida ao corpo - TopicsExpress



          

A ILUSÃO DA RELIGIÃO "O milagre não é dar vida ao corpo extinto, ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo, nem mudar água em vinho, milagre é acreditarem nisso tudo!" Mário Quintana. Quando fazemos a crítica religiosa temos em mente a dimensão social da alienação religiosa. A religião se constitui numa ilusão, e, sendo assim, a hermenêutica teológica é uma alternativa enganosa e um engano mental. Não há um Deus que constrói o Homem à sua imagem e semelhança, antes são os homens que engendram os seus deuses à sua própria imagem e semelhança. Para a religião, imagem equivale à essência, e isso é o que faz dela uma patologia psíquica. Com efeito, os homens, desde a mais tenra idade, enfrentam uma luta contra a Natureza, isto é, tentam negá-la. Além disso, desenvolvem internamente valores morais, onde dentre esses se afirmam as ilusórias ideias religiosas. As ideias religiosas trazem diversos problemas para a sanidade humana, contudo, ainda pior do que a afirmação teológica da religião é sua afirmação através de artifícios filosóficos. A ilusão está profundamente ligada com a repressão dos desejos humanos e a negação dos mesmos. As leis religiosas nada mais são do que produtos culturais. Desse modo, a religião funciona com dois aspectos: o componente neurótico individual e a ilusão coletiva. Em sendo ilusão, a religião só pode ser compreendida como doença psíquica. A religião seria uma consciência do infinito vista pela perspectiva da finitude humana. Esse seu olhar para o céu é, no seu íntimo, um olhar para si mesmo, uma forma velada de mostrar o conflito entre a ação e a contemplação. Toda religião se legitima afirmando tanto a subjetividade como os sentimentos. O Homem limitado e falível mirar-se-á num Deus ilimitado e infinito, todavia, essa consciência não é consciência de si e é exatamente desse erro que nasce a religião. A ilusão da religião consiste em eliminar a oposição (e o contraste) entre o humano e o divino. As qualidades divinas (ou atributos) passam a ser iguais às qualidades humanas. Dois outros erros são a concepção de Deus como humano e a concepção subjetivista de Deus. O ser em si de Deus seria o ser em si do Homem. A verdade da existência de um Deus depende de se acreditar (ou não) nos seus predicados. Os cristãos, por exemplo, acreditam nos predicados do Deus cristão. Com a ascensão do Homem do estado de rudeza e selvageria para a Cultura, com o discernimento do que convém ao Homem, surge simultaneamente o discernimento do que convém a Deus. O Homem se relaciona com Deus exercendo sua essência humana. Nos rituais do Antigo Testamento os judeus doavam o que tinham por principal ao seu Deus. Com efeito, eles afirmavam em Deus o que negavam em si mesmos. O Deus da religião é sempre egoísta, o sagrado seria, portanto, uma espécie de espelho do ser humano falível. A divindade só seria uma verdade se o Homem tivesse o demônio por Deus e o adorasse como o seu ente-supremo, mas quando o Homem adora um ser bondoso, ele contempla em Deus a sua própria essência boa. A humilhação do homem religioso é, na verdade, sua glorificação egoísta e reprimida, por isso a religião consiste numa ilusão e numa patologia psíquica. A meta da religião é o bem, a salvação, a felicidade, portanto ao relacionar-se com Deus, o Homem se relaciona com sua salvação. A ênfase cristã na salvação é infinitamente maior do que aquela dada por outras religiões, o que transforma o Cristianismo numa doutrina da salvação e não numa doutrina de Deus. Desse modo, os cristãos afirmam que a felicidade terrena separa o Homem de Deus, já o sofrimento acaba por reaproximá-los. A infelicidade seria, portanto, um fator vital na constituição do crente, isto é, ela ao oprimir o Homem, torna-o carente de Deus. Tal apelo suprime a liberdade humana. O estágio da religião é uma espécie de estágio inculto. Nele, o Homem acredita que o bem na Natureza é proveniente de Deus e que o mal advém do Diabo. Por isso a afetividade é a companhia dos cristãos. A ideia de um mistério no arbítrio divino é uma mistificação do acaso e um absurdo. Tal concepção é uma boa desculpa para explicar tudo e nada explicar verdadeiramente. É nesse sentido que a Teologia é o símbolo maior da mística. A religião nada explica. Sua opção por explicações simplistas como mistério, milagre, livre-arbítrio, todas essas explicações são teológicas e irracionais. A oração é, nesse sentido, um ato essencial da religião, possuindo elementos de coação à soberania de Deus. Já o milagre seria uma satisfação egoísta do sofredor. A religião é, portanto, uma projeção das carências humanas. A religião equivale à relação que o Homem possui com sua própria essência, então ela não passa de equívoco e contradição. Sua inverdade reside no fato dela julgar que se relaciona com o ser supremo, quando se relaciona consigo mesmo. A divisão da religião primitiva entre homem e Deus é ingênua, mas não é tão maléfica quanto a Teologia, pois esta será a sistematização dessa diferença na consciência humana. Na origem da religião não há diferença essencial entre o Homem e Deus; tanto no Judaísmo como no Cristianismo primitivo, Deus tem as mesmas paixões e características humanas, ou seja, ele é diverso na existência e igual na essência interior. Portanto, a existência do qual fala a Teologia é, na verdade, afastamento do Homem. Nesse aspecto, a prova ontológica da essência divina de Anselmo cai por terra, afinal, segundo tal concepção, Deus não existiria, isto é, seria somente algo a ser pensado, sem existência real. Entretanto, existir é o princípio supremo de qualquer ser. Deus existe por que os homens pensam nele, entretanto, não se pode a partir do próprio conceito deduzir sua existência. Os objetos da razão e os objetos dos sentidos estão separados, a existência empírica real de Deus só pode ocorrer pelos sentidos, caso contrário seria mera fantasia ou ilusão. A própria questão moral é colocada de um modo limitado, dando a entender que somente os homens religiosos podem praticar os princípios da moral e da ética, entretanto é perfeitamente possível uma ética racional sem pressupostos de cunho religioso. A virtude é algo muito maior do que a crença em algum Deus. O conceito de existência divina é associado ao conceito de revelação, sendo esse contraditório. A revelação iria contra a ideia de um Deus subjetivo, de um Deus pessoal. Crer na revelação é confirmar, de modo objetivo, a crença no Deus da afetividade. Estrategicamente, os fatos religiosos tornam-se, posteriormente, dogmas. Através das Sagradas Escrituras o Homem dá oficialmente o nome de Deus aos seus desejos mais íntimos. Afinal, tal Deus se revela na língua do Homem sendo, portanto, o Deus da razão humana. Logo, se o mistério da Teologia é a Antropologia, a revelação (como Palavra de Deus) é, na verdade, palavra dos homens sobre si mesmos. A crença na revelação é infantil e somente é realizada por pessoas que acreditam piamente numa lei que lhes é exterior. A ideia de que a Bíblia possui inspiração divina faz dela algo bom e confiável, mas tal visão é limitada e totalmente incompreensiva, por causa das contradições existentes nas próprias Escrituras. A sofística do Cristianismo consiste em falar da essência de Deus como algo sobre-humano quando ele é na verdade humano. Para a razão não pode haver coisas incompreensíveis. Aliás, Deus é totalmente compreensível, haja vista que ele nada mais é do que a fantasia objetivada. A ideia de Deus como um ser infinito lhe fornece os atributos de eterno, onisciente, onipresente e onipotente. Tais atributos são manifestados fisicamente no tempo e no espaço sendo, portanto, relacionados aos sentidos. Logo, Deus representa o desejo da alma dos homens. Um Deus que é também Homem, tal Deus é a perfeita equivalência do nada, um mero engodo. Afinal, nem Deus é plenamente humano e nem o Homem possui atributos divinos. Tal coisa não passa de ilusão, tal qual é a imaginária distinção entre pai e filho na questão trinitária. A Trindade é uma cisão, sendo um misto de imaginação-realidade. A ideia de três pessoas e uma essência transmite a ideia de um plural que é singular, mas isto aos olhos da razão são apenas fantasmas. Não existe, aos olhos da fé, nenhuma experiência maior do que ela própria. A fé remete os homens a um plano extraterreno. O cristão enxerga-se como alguém especial, sua pretensa humildade não passa de um orgulho reprimido e às avessas. A separação entre crentes e descrentes é evidente nas Escrituras e na história eclesiástica. O cristão só ama outro cristão, sendo intolerante com os hereges e os inimigos de Cristo. A fé é partidária e oposta ao amor. Nessa circunstância a fé bíblica não é moral, pois o Cristianismo só reconhece o amor fundado na fé. A religião devia reconhecer sua humanidade, como a sacralização da essência humana. A moral deveria ser internalizada, para que não seja necessário um deus determinar, o que não seria um agir moral. Ou o Homem se reconhece como natural e humano ou se torna religioso.
Posted on: Sun, 14 Jul 2013 05:03:55 +0000

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