A MÍDIA E O GOVERNO... "O resto do mundo é mero aprendiz, em - TopicsExpress



          

A MÍDIA E O GOVERNO... "O resto do mundo é mero aprendiz, em relação aos brasileiros, em matéria de concentração de propriedade da mídia e, principalmente, de ligações perigosas entre ela e o poder político. Pois é pela falta de uma legislação do gênero, que proteja os interesses dos consumidores sobre o dos detentores desses meios, que nós já estamos, há anos, mergulhados “no sensacionalismo, no escândalo e na simplificação” crescentes na programação das mídias de massa, e submetidos, na maior parte dos estados do país, ao fenômeno do “coronelismo eletrônico”. Já ultrapassamos longe o estagio das relações perigosas entre a mídia e o poder político: no Brasil as duas coisas concretamente se confundem. sarna O ponto de partida desse processo foi o golpe aplicado por representantes de velhas oligarquias que, prestes a serem banidas do cenário político pela redemocratização do país após o regime militar, se auto presentearam repetidoras da Globo ou de outras redes nacionais que foram os embriões de monopólios regionais de opinião e informação realimentados com verbas oficiais de propaganda de seus próprios governos, pela manipulação dos quais esses “coronéis” e seus clãs se eternizam no poder. Contagem não muito recente mostrou que políticos controlam diretamente 1/4 das emissoras comerciais de televisão do Brasil: 60 de um total de 250. E esse número se refere apenas aos canais que detêm concessão governamental para gerar programação. A Rede Globo tem 21 afiliadas pertencentes a políticos, o SBT tem 17, a Bandeirantes, 9. É preciso somar a isso o resultado da multiplicação em metástase das redes de telecomunicações sustentadas por “igrejas” das ultimas duas décadas. Foi-se o tempo em que as novas confissões nasciam antes; hoje, a partir de operações obscuras nas áreas de concessão e autorização para transferências de canais, forma-se primeiro a rede de comunicações e em cima dela cria-se a “confissão religiosa” que irá sustentá-la. Cada uma dessas redes “religiosas”, assim que se consolida como potencial fabricante de candidaturas, acaba criando também o seu braço político e a sua “bancada” no Congresso. acm2 Esses dois mecanismos levam à criação de máfias políticas virtualmente indestrutíveis. Nos mercados publicitários incipientes do Norte e do Nordeste do país, onde não circulam verbas suficientes para sustentar, de fato, mais do que umas poucas estações de rádio, pululam as redes de rádio e TV do esquema do “coronelismo eletrônico” e das novas igrejas, que se auto-alimentam: elegem os governadores e prefeitos locais que anunciam preferencialissimamente apenas nos seus próprios meios de comunicação, matando a concorrência de inanição. Calam, assim, todas as vozes dissonantes e se tornam “donos do pedaço”. E se, por acaso, alguma onda ética ameaçar varrer um “coronel eletrônico” do cenário político, ela não chegará aos telespectadores, ouvintes e eleitores das suas jurisdições, que ficarão sabendo do que se passa apenas através das lentes cor-de-rosa dos meios de comunicação dos próprios acusados. Por isso, em caso de ameaça de impeachment, todos eles escolhem, rapidamente, o caminho da renúncia, tendo a reeleição como certa. Nos períodos eleitorais, aliás, entrará, nos intervalos desses “noticiários”, o “horário eleitoral gratuito” – espécie de prêmio de consolação concedido aos políticos ou candidatos a políticos “sem mídia própria”, para uso em véspera de eleição. Nesses períodos, os veículos eletrônicos de massa, ditos “livres”, estão proibidos de veicular qualquer tipo de informação sobre os candidatos que possa ser interpretada como uma opinião contra ou a favor de algum concorrente ou mesmo notícias que possam parecer (ou ser julgadas como) favoráveis a determinados postulantes a cargos eletivos. As notícias devem ser anódinas, como as do Diário Oficial. E todos têm de abrir espaço gratuito para as peças de propaganda elaboradas pelos próprios candidatos. Mesmo que conheçam fatos desabonadores, os comentaristas das emissoras terão de se abster de revelá-los e até de explicar determinados assuntos. Os entrevistados dos programas de rádio e tevê também deverão ser “policiados” para não manifestarem suas preferências eleitorais ou partidárias. Apesar do esforço dos jornalistas sérios das TVs – que ainda os há – para furar esse cerco, é quase impossível consegui-lo. Somente o jornalismo escrito – acessível apenas aos 15% da população que não são afetados pelo chamado “analfabetismo funcional” – pode ser de fato independente no país, se quiser sê-lo. (Analfabeto funcional é o indivíduo que, embora tendo frequentado escolas, não compreende bem o que lê e é incapaz de desempenhar as mais simples operações aritméticas, uma grande maioria no Brasil, onde o ensino publico é de baixíssima qualidade). Mas no front empresarial, os jornais independentes estarão circunscritos a disputar as migalhas de um mercado açambarcado por uma única rede que, graças aos expedientes descritos e à “bonificação” que paga aos publicitários que a elegem como mídia para veicular seus anúncios, detém, em média, bem mais que 50% da audiência nacional e de 70% do bolo publicitário. Também nesse campo as redes “religiosas”, que vivem apenas subsidiariamente de verbas publicitárias privadas e, assim, podem praticar preços vis para disputá-las, são um poderoso inimigo da imprensa independente. Não existe, por outro lado, nenhuma restrição à propriedade cruzada de diferentes meios de informação numa mesma praça ou em âmbito nacional. O esquema de poder que vive das distorções das leis de propriedade da mídia no Brasil explica boa parte do atraso institucional do país e da longevidade política dos responsáveis por ele. A reversão desse processo é praticamente impossível, pois a política de comunicações do país é definida entre os “sócios” das empresas a ela sujeitas, detentores de mandatos legislativos. E impedir a concorrência de se estabelecer, em vez de ampliá-la, tem sido sua preocupação primordial. Pelas normas por eles estabelecidas, proprietários de redes de TV aberta podem ser donos, também, dos sistemas de distribuição de TV a cabo ou por satélite, e sem a obrigação de carregar concorrentes, escândalo proibido em todo o resto do planeta. Por enquanto, a política para TV fechada no Brasil, de exclusiva responsabilidade de quem detém a outorga dos sistemas de carregamento (a Globo), é de mantê-lo caro para os consumidores, de modo a não dividir a audiência hegemônica que ela detém na TV aberta, e inacessível para os canais de concorrentes. Recém-associada à Sky de Murdoch, a Globo, que já tem a Net, carregadora nacional de TV a cabo, fez com ele um acordo para privilegiar, nesses dois sistemas que controlarão mais de 90% da oferta de TV por assinatura do país, as produções domésticas de ambos. Os donos de todos esses privilégios podem, igualmente, ser donos de jornais e rádios nas mesmas praças que atingem com suas TVs e subsidiar-se mutuamente em práticas que claramente caracterizam “dumping”, tanto nos preços que cobram pela publicidade uns dos outros que todos veiculam, quanto nas possibilidades de mídias cruzadas que podem oferecer aos anunciantes em detrimento dos concorrentes." vespeiro/tag/imprensa/page/5/
Posted on: Mon, 15 Jul 2013 00:46:50 +0000

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