A banda toca, o guitarrista faz caretas e o vocalista dança de - TopicsExpress



          

A banda toca, o guitarrista faz caretas e o vocalista dança de maneira engraçada, enquanto sorri cantando pra mim. Eu preciso de um cigarro. Vou para o fumódromo, outrora vazio, agora lotado de pessoas. Fumantes em sua maioria, mas não todos. Me afasto um pouco da multidão e acendo meu fumo. - Está perdido? - É tão óbvio assim? Me sento ao lado da garota. Loira. olhos verdes, mais ou menos bonita. - Você é igual o resto? - Quem é o resto? Ela aponta portos amigos dela, playboys. - Não. - Eu disse pra eles que meu nome é Laissa, eles disseram que não. São uns panacas. Você é panaca? - Acho que não. - Acha? Ou você é ou não é. - Eu acho que os panacas não tem consciência de sê-lo, então dizer que não sou panaca não teria validade nenhuma. O iPhone dela apitou, ela leu a mensagem pra mim. - quer vir na minha casa?, é um panaca. Não, estou no Infarta. - O que faz dele um panaca? - Ele estava em uma balada comigo ontem, eu estava com uma amiga que veio da Alemanha. De lá ele ligou pro chofer dele nos buscar e fomos pra casa dele, onde ele fez macarrão pra a gente. Ele acha que é grande coisa por ter um chofer que vai buscá-lo às quatro da madrugada. Você é assim? - Não. - Por quê não? - Eu não tenho chofer, nem casa, nem macarrão. E mesmo que eu pudesse ter, eu não teria. Chofer. - Por quê não? - Porque não vejo utilidade, se for pra viver feito um medroso mimado eu perfeito me trancar em um porão pelo resto da vida. - Não estou achando meu cigarro. - Quer um? Tirei meu maço do bolso. - Quero, ah não, o meu maço está aqui. Ela pegou o maço do chão, eu o havia pisoteado sem querer quando me sentei. Então apareceu um dos amigos mimados dela. - Alexia, me dá um cigarro? - Não. Mas ele tem. Ela apontou pra mim. O Playboy ficou me olhando. Então virou pra ela de novo. - Só um, o meu acabou. - Já mandei pedir pra ele. O Playboy ficou me olhando com cara de cachorro mendigo. Saco. Tirei um cigarro do malo e dei pra ele. - Muito obrigado, de verdade. - Tudo bem. Então apareceu outra amiga dela, dessa vez cortou o intermediário, veio directamente pra mim e pediu um cigarro. - Viu - disse Laissa - você não pode dar liberdade pra essas pessoas. Dei um cigarro pra garota, que sumiu na multidão. - Pra que você usa isso? - O headphone? - É. - Pra ouvir música. - Aqui? - Antes de estar aqui eu estive em outros lugares, e ele não cabe no meu bolso. Ela pegou seu iPhone e me mostrou o papel de parede, uma imagem vectorizada muito familiar. - Sabe quem é? - Sei. - Como ele chama? Quando ela perguntou isso, por alguma razão além das minha compreensão o nome desapareceu das minha mente, como um prefeito lapso de memória, algo que sempre esteve lá, mas de repente sumiu. - Não consigo me lembrar agora. - Você conhece mesmo? Ele chama Hendrix. Fala o nome de três músicas dele. - Little Red House... Mais uma vez, lapso. - Quais outras? - Não lembro. - All The Lighthouse, gosta dessa? - Não sei, eu não conheço. - Você não gosta porque não conhece, é uma crítica social. - Talvez eu não concorde com a crítica quando ouvir. - Você vai concordar, me dá seu celular. Tirei meu celular do bolso e assim que desbloqueei a tela ela o arrancou das minha mão. Ficou olhando pra tela. - Onde fica o notepad nesse troço? Pego o celular de novo e abro o bloco de notas. Ela o arranca da minha mão novamente e começa a escrever algo, seus dedos batem rápido no teclado virtual. - Maldito telhado brasileiro. Está aparecendo tudo errado, o que é isso? Está mudando as palavras! - Se chama autocorrect. - Por que você usa isso, não sabe escrever? - Eu não escrevo letra por letra, como você, eu deslizo pela tela, acho mais prático. Depois de brigar muito com o autocorrect ela me devolveu o celular. (vide foto) - O que é nirmak? - Panaca. Então o celular dela apitou de novo. Ela leu a mensagem em voz alta. - Eu não vou aí só por você. É um panaca. - Sabe o que eu acho? Acho que você conheceu tantos panacas na sua vida que agora acha que todo mundo é. - Não acho não. - Quantos não-panacas você já conheceu? Ela esticou quatro dedos da mão. - Se em toda a sua vida, você só conheceu quatro pessoas que não eram panacas, logicamente é natural que você presuma que todos que vê são panacas. Então mais uma amiga dela apareceu, loira, magra, alta. Começaram a conversar. - Vù levù cuché avequá? - Croissant, champagne rouge. - Oui oui, je te seime culavù pù. - Oui. A garota francesa foi embora. - Outra panaca, quer ir pra casa do panaca lá. - Você morou na França? - Não, mas já visitei dezoito vezes. - Você visitou Lion? Eu morei dois meses lá, se é que isso é tempo suficiente pra se morar. - Conheci sim. O que você aprendeu lá? - Aprendi que esquilos nem sempre têm medo de pessoas, só isso. - Esse é o problema da França. Que tipo de música você gosta? - Nenhum tipo exclusivo. - Qual você estava ouvindo? - Uma ópera. - Gosta de Eletrônica? - Não muito. - Me dá seu fone. Ela pegou o celular do bolso e selecionou uma música, pegou o plug do meu fone e conectou. - Você precisa ouvir pelo menos três minutos antes de dizer que não gosta. Ela deu play. Punts punts, toc toc wii wii... Então entrou um sax razoável, bateria repetitiva. Vocal fraco, podia estar falando que o amor é lindo ou que duendes levaram a mãe dela embora, eu não saberia dizer qual. Eu peguei meu celular enquanto ouvia e comecei a selecionar uma música. Ela arrancou o celular da minha mão e começou a escrever algo com uma das mãos (vide outra foto), enquanto tampava meus olhos com a outra. A loucura chegou no level 6. - E aí, o que achou? - O instrumental é razoável, o sax. Quer ouvir a última coisa que eu toquei no meu? - Não precisa. Mais um amigo dela. - Alexia, como diz como vai você em alemão? - Vai se foder. O amigo foi embora. - Vou te passar meu telefone, me dá seu celular. - Não precisa. - Ah... Pela primeira vez ela expressou alguma emoção. Aposto que ela acreditava piamente que eu seria mais um dos seus amiguinhos, seu exército de zumbis particular. - Então a gente vai lá pra casa do cara, foi um prazer te conhecer. Ela levantou e esticou a mão pra apertar a minha. Correspondi. - Tchau, Alexia ou Laissa? - Ainda não sei. Assim ela sumiu na multidão. Psicopatas, sempre psicopatas.
Posted on: Sun, 20 Oct 2013 10:35:19 +0000

Recently Viewed Topics




© 2015