A literatura como denominador comum. Acabo de receber um email - TopicsExpress



          

A literatura como denominador comum. Acabo de receber um email de uma senhora que me convida, a mim e a outros escritores negros brasileiros e africanos a doar livros para o seu projecto de combate ao racismo. Ela tem toda a legitimidade para fazê-lo. Eu respeito. Mas esta coisa de Literatura negra, escritor negro. A escrita não tem raça. O que escreve não tem raça. É preciso ter muito cuidado porque literatura, quer dizer, a prosa e poesia, é sinónimo de beleza. Se quiserem tomar o que escrevo como literatura africana é problema de quem me coloca essa etiqueta. Não estou nem aqui. Para clichés. Não se escreve com a pele, meus caros amigos. Não se lê com a raça. Tirem a raça da literatura, meus caros escritores, meus caros críticos e estudiosos. É inaceitável no século XXI, neste tempo nosso, fundar-se em estereótipos para catalogar o que está ao serviço da humanidade. Se me chamarem escritor africano não concordaria nem que fosse para destrinçar do de outro continente, pois para mim há apenas Ásia, África, América e Austrália como coordenadas geográficas. Sou apenas escritor moçambicano. Não pertenço a literatura africana de expressão portuguesa, porque a expressão que me dão não fui eu quem a pediu. Limita-me logo à partida a condição do escritor. A raça com que me etiquetam idem. Dá um campo de manobra a mentecarpos, a racistas que estudam e lêem em função da epiderme. Àqueles que estigmatizam. Estamos no advento da globalização. Escritor moçambicano, sim, aceitaria. Negro é a minha raça, de que tenho muito orgulho. Mas não que seja motivo do paternalismo colonial. Doa a quem doer. Não sou escritor lusófono. Sou escritor do mundo. Humildemente do mundo. E não é que seja para reclamar o estrelato, algum expoente. Livrem-me meus senhores. A raça não existe. Livrem-me meus senhores do continente. Nunca roguei complacência. Nunca pedi rótulos. Não creio que a literatura esteja concebida para etiquetas. Falar-se de raças é promover a exclusão de uns ou outros. Os homens são da mesma massa molecular, corporal. Não há continente que melhor assenta ao que constitui a minha produção literária. Sou pela empatia, a mestiçagem e literatura como denominador comum. Quando produzo literatura, presto a contribuição para o humanismo e beleza de mundo. Não me olhem com piedade à minha raça, porque quando assim o fazem tenho eu dó para os quem assim se comportam, porque a raça não é um sofrimento, não é para que se me olhem com complacência. A raça é um dom, como é o dom de escrever e criar. É um dom como qualquer outro que recebemos. É como o dom de amar. Amamos o que merecemos, ao que nos foi legado. O amor é global. Geral. Não se divide. A literatura não pode ser dividida. A academia deve eliminar compartimento estanques. Sermos todos contemporâneos do mundo. Contemporâneos do amor. Sem a raça que lhes engrandece ou lhes diminui. A raça só deve ser manifestada para engrandecimento como do mundo. Do homem. Adelino Timóteo, in "A volúpia do amor & a Herança da escrita", livro em preparação
Posted on: Wed, 04 Sep 2013 02:22:52 +0000

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