"A organização indica orientações essenciais, mas não decalca modelos oficiais de sensibilidade, de gosto, de hábitos pessoais. Se camaradas mais responsáveis pretendem que a sua própria imagem sirva de molde aos outros camaradas ou pretendem que as características próprias e os juízos próprios se tornem parâmetros de modelos para julgar as qualidades dos outros, revelam, além de certa vaidade ou suficiência, um profundo desconhecimento do que é ser comunista e do que é ser humano. E se camaradas menos responsáveis, copiando mais ou menos conscientemente «os seus responsáveis», adquirem tiques e poses, se perdem a naturalidade e a espontaneidade, acabam por adquirir um maneirismo burocrático que amputa ou limita gravemente a sua personalidade. Ser comunista não impede que se ria mais ou se ria menos, que se goste de estar em casa ou de passear ao ar livre, que se aprecie ou não se aprecie um bom petisco, que se fume ou não se fume, que se beba ou não se beba um copo, que se viva mais ou menos intensamente o amor. É o excesso que pode corromper e degradar. A absorção completa e exclusiva na atividade política, sem deixar tempo não só para outros interesses mas para a admissão da sua própria existência, pode ser sintoma de dedicação e mesmo de paixão revolucionária. Não é certamente a forma mais completa e desejável de ser revolucionário. O revolucionário entrega à luta as suas melhores energias. Aceita privações e sacrifícios. Mas não só é justo que tenha, como é necessário que tenha, os sentidos voltados para a vida. O amor pela vida não contradiz a determinação de a dar, se tal a luta impuser. Próprio também do comunista que, por ser comunista, não deixa de ser um ser humano, antes mais intensa e profundamente o é." Álvaro Cunhal – O partido com paredes de vidro
Posted on: Sat, 21 Sep 2013 11:19:57 +0000
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