A primeira passeata a gente nunca esquece... No clima destas - TopicsExpress



          

A primeira passeata a gente nunca esquece... No clima destas caminhadas e manifestações que ocorrem pelo país, comecei a recuperar, na memória, lembranças e impressões da minha primeira passeata. Puxa! Faz algum tempo. No início dos anos 80, época de seminarista, quando cursava o antigo 2º grau. Apesar de estudar em uma congregação, na época bastante conservadora, fui seduzido pelos primeiros sinais da Teologia da Libertação, cujo lema era a opção da igreja pelos pobres ( Carta de Puebla). No seminário, recebíamos a visita semanal de dois padres da congregação que realizavam um trabalho pastoral no recém criado Cinco Conjuntos de Londrina. Nestas visitas tive os primeiros contatos com o conteúdo e o método da Teologia da Libertação. Método que me é presente até os dias de hoje: Ver, Julgar e Agir. Foi neste momento que conheci um Cristo revolucionário, sempre envolvido com as lutas de transformação do seu tempo e de seu povo. Mas na verdade, o que me levou a aproximar da perspectiva de transformação social trazida pela teologia da libertação, foi de fato, a primeira manifestação que participei a convite de um dos padres. Lembro que, saímos dos Cinco Conjuntos, zona norte de Londrina e fomos a pé até a prefeitura da cidade. Uma distância significativa. Na memória vêm os sentimentos de alegria, de autonomia, de solidariedade e independência cravados nas faces das pessoas. Não me lembro do cansaço. Aqueles rostos e aquela sede de justiça não me abandonaram nunca mais. Fomos cantando, conversando, sorrindo, conhecendo uns aos outros sob o grande guarda-chuva da fé na humanidade e da união do povo. Nunca morei nos Cinco Conjuntos, mas a participação naquela passeata me fez sentir parte daquele momento histórico, em que o país vivia uma das suas mais belas páginas de luta pela ampliação dos direitos sociais. Senti-me povo, me senti gente, senti que poderia ser sujeito do próprio destino. Estas e as diversas sensações que tive na participação desta passeata permanecem até os dias de hoje. Alguns anos atrás, já fora do seminário e, então estudante na Universidade Federal do Paraná tive outra experiência não menos marcante. Reivindicávamos o direito dos estudantes participar de fato da eleição do Reitor, e pelo caráter público da universidade. À noite, armados com velas nas mãos fizemos uma caminhada na Rua XV, da Reitoria até a Avenida Marechal Floriano. Lá, em um ato revolucionário, sentamos e fechamos a Avenida pedindo à atenção da população à defesa da educação pública. Aquele gesto de rebeldia cidadã embalou boa parte do meu processo de inserção política no mundo. E assim, vieram várias tantas outras caminhadas, manifestações e passeatas. Elas me acompanham até hoje. Nunca consegui me livrar delas. Caminhei junto com os estudantes, junto com o MST, nas romarias da terra, nas romarias do trabalhador, nas passeatas históricas de professores e funcionários, nas lutas pela democratização do país, enfim pareço continuar caminhando. Na verdade, ainda não conclui aquela primeira caminhada. Continuo caminhando. Na frente, o desejo de justiça, de um mundo melhor. Por isto, quando vejo jovens participando de suas primeiras caminhadas me emociono e me embriago de esperança, me renovo. Sei que, para muitos, esta será um marco. E espero que, assim como eu, estes não parem de caminhar. Evidente, que um dos pressupostos para uma boa caminhada é saber para onde se quer ir coletivamente. Por isto, o conteúdo revolucionário, a solidariedade e o desejo de justiça são alimentos indispensáveis. Além disto, é preciso aquecer a alma e o coração. Lembro que as minhas primeiras ações revolucionárias eram acarinhadas pelas belas canções de Chico Buarque, Pablo Milanez, Geraldo Vandré ( A música “Caminhando e Cantando” era solenemente cantada executada em quase todas caminhadas), Milton Nascimento, Elis Regina, Legião Urbana, entre outras. Minhas primeiras ações revolucionárias eram afagadas pela leitura de livros como Brasil Nunca Mais, As Veias Abertas da América Latina, Grande Sertões Veredas, Dom Quixote, O Apanhador no Campo de Centeio e Vidas Secas; e por filmes como, Eles não Usam Black-tie e The Wall. Sei que vivemos em outro tempo. Mas como gostaria que boa parte da nossa juventude pudesse ter a oportunidade de ter embalada a santa rebeldia com o carinho e a alma que só a cultura pode dar. Mais educação e mais cultura devem ser palavras de ordem de qualquer mobilização que pense em um país melhor. Puxa! Escrevi demais. A primeira passeata a gente nunca esquece...
Posted on: Mon, 24 Jun 2013 00:25:16 +0000

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