ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DA DIVISA (20/07) Breve história do - TopicsExpress



          

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL DA DIVISA (20/07) Breve história do Brasil em textos poéticos Lucas Labigalini Fuini Peço licença aos leitores deste jornal para trazer um outro estilo de escrita para a coluna dessa semana. Faço poesias como hobby e há alguns anos atrás as publicava nas páginas de um jornal de minha cidade natal, Itapira/SP. Assim, permito-me utilizar de uma série de poemas cronológicos para dar um pouco de contexto histórico, político, econômico e geográfico às manifestações recentes, seguindo na tese de que a crise institucional vivida pelo Brasil hoje nada mais é do que o resultado de um projeto construído desde o período colonial e que consagrou o Estado patrimonialista e corrupto, intrinsecamente ligado a uma elite política e econômica que usurpa e usufrui de recursos públicos, em um país que ainda traz marcas em seu território de uma economia de arquipélago voltada para o exterior. Portanto, assim descrevi o início de nosso transcurso histórico: “Terra revelada fecunda e imensa/O estrangeiro achou que era mito/ Fez então a guerra com o nativo/E a história se mostrou tão densa; As ocupações militares para cambiar/ Produtos tropicais de valores sabidos/ E os cativos africanos são abduzidos/ Pela máquina colonial para explorar; O trabalho é tratado por segregação/ Em engenhos e senhores hereditários/ O Nordeste cumpre a missão de berçário/ Da riqueza inicial exportada em direção; À Europa, requinte e arte eruditas/ Poder e luxo expressos em castelos/ Realeza satisfaz seus gozos e credos/ Com o suor brasileiro em faces feridas; Cidades e vilas surgem na paisagem/ Com a cruz da Igreja filosofando a fé/ E os barcos vão com açúcar, ouro e café/ E vêm com degredados ávidos por miragem; De corpos, águas e terras à vontade/ Saciou-se demais e fez a mistura/ No povo mestiço, raiz de uma cultura/ No novo mundo, poço de felicidade; Corta a floresta, antes mula agora o trem/ No arquipélago a ligar coisas e lugares/ Em mar de pobreza e ilhas de prosperidade/ Avança a economia e pouco muda a sociedade/ Pois no projeto inicial, assim é que convém; Ao aventureiro, sem plano e sem cordura/ Ao topar sua caravana em um homem cordial/ E no cenário mais sublime, fazer o carnaval/ E chegar ao novo século, um país caricatura; Que busca sua identidade como império/ Depois república, com capital amortizado/ Em reis e generais, progresso orquestrado/ Com pobres e lixos em mocambos deletérios; Pois mantém potencial ainda não satisfeito/ De atravessar a sua própria revolução da indústria/ Precisará de metrópoles, rodovias e de astúcia/ Para avançar como país de um milagre imperfeito; Tempo em que um conselheiro clamava em sermão/ Então ‘Sertão será mar, mar será sertão’/ E aquilo que era região se tornará o território?/ E aquilo que era esquecido, será promovido?/ Da confusão de sociedades, eis o observatório”. Para o século vinte, dos anos de integração nacional no Brasil, pensei-os da seguinte maneira: “Vejo aquilo que era mata verdejante/ Cana, café e soja tomaram espaço/ Pois o moderno se impõe incessante/ Em estruturas sociais em descompasso; Entra o século XX, órbita das cidades/ Dominam o campo, riqueza emanada/ Operários perambulam na realidade/ Dura do trabalho, chaminé acinzentada; Paulistas compram guerra, querem poder/ O dinheiro diz tudo, querem o Brasil unitário/ Elites regionais escrevem seu parecer/ Ordem vem primeiro, povo é retardatário; A capital carioca é palco da política/ Mas vem um presidente do Brasil de metas/ Da bossa nova e das praias, então a mítica/ Dá espaço ao concreto, estradas penetras; Descobre-se o interior, norte e centro-oeste/ Há minérios, terras, rios, planaltos e até gentes/ Ferrovia não ligará mais, caminhão terá o frete/ E os migrantes cruzarão regiões, futuro em mente; Mas as metrópoles escolhem seus protegidos/ Dá trabalho e até casa, mas o preço é elevado/ Tem terreno onde o sol se põe, barraco é abrigo/ Era provisório, mas pelo Estado é abandonado; Ame-o ou deixe-o, assim é o lema da nação/ Democracia resolverá todos os problemas/ Mas enquanto houver terra e imóvel sem função/ Para o social, cidadania é só um estratagema; Para dar esperança ao país do futuro/ Abençoado por Deus, sem catástrofe e guerra/ Mas nossos políticos constroem um muro/ Para afastá-los da realidade, a justiça não é cega; A Copa do Mundo foi o sonho escolhido/ De nação que se aproxima, somem diferenças/ Mentira repetida vira verdade, passa à mito/ Mas o fosso só afunda, cada qual com sua sentença; Assimilamos o novo com facilidade sem igual/ Somos um povo mestiço, do labor e da caridade/ Pena que o controle fica no mundo do imoral/Assim perdemos tempo e direito à felicidade” E analisando o período que compreende os anos 1970 aos anos 1990, tratei da seguinte maneira: “Esse tal de milagre brasileiro é tema de cobiça/ De uma realidade socioespacial que diversifica/ Seu povo em regiões, classes, formas e culturas/ Em país que aos 70, 80 e 90 fez sua estrutura; De ornitorrinco, ser que é meio mamífero e meio ave/ Mistura de coisas que funcionam nessa Terra-parte/ Pois propicia modernização e riqueza concentradas/ Em um entorno espacial de atraso e pobreza espalhadas; Amazônia ocupada e alugada é o mingau para o dólar/ Tem minério, madeira e energia, índio quer colar/ Nem precisa, o governo quer que amem seu país/ Sem flores, sem lenço e nem documento, o que me diz?; Vandrés e Velosos, Gils e Buarques com a canção/ Versos poéticos para os céticos chamam a atenção/ Censura-se tudo, do ovo à galinha, para evitar o perigo/ O Grande-irmão vigia tudo e bane da pátria, antes abrigo; Desconcentração industrial, de São Paulo ao interior/ Pleno emprego e crescimento, da casa para o labor/ Nem precisa contestar, parece que vai durar eternamente/ Carro, TV e família, polícia noite e dia, sonho dormente; Então veio a abertura, anistia-se todo mundo e mais quem vier/ Bandido, vagabundo, assassino ou político, dar o chá na colher/ Para os militares, transição gradual, aposentadoria integral e etc/ A esquerda ficou feliz, mesmo com cicatriz, e se juntou às Diretas; Inflação e desemprego e veio o desassossego, década perdida/ General quis ser esquecido e o futuro presidente, em despedida/ Quis o destino que voltasse ao poder um coronel contra a inflação/ Controle de preços e reforma agrária, não durou nem um verão; Oligarquia ou sindicato duelam pelo cetro do poder/ E era para ganhar o barbudo, mas alguém poderia temer/ Preferiram o playboy, bom de cara e discurso, eis o futuro/ Mas o irmão foi dedo-duro e o secretário morreu no escuro; Impedido foi embora, eis a glória dos banqueiros e do FMI/ Acabou a CPI, a direita abraça o povo, a moeda tem pedigre/ Estabilidade resolve tudo, frango é barato e enche a barriga/ Mas a economia começa a encolher e o tucano já não bica; Vêm a crise lá da Rússia e encharca nosotros e los Hermanos/ O Real perde peso e o Peso que era dólar some nos bancos/ Na ressaca sobe os juros e nadamos sem investimentos/E a reeleição que antes era a solução, torna-se o sofrimento; Essa foi mais uma parábola, do Brasil país do presente/ Tanta coisa aconteceu e parece que nada mudou à frente/ Idas e vindas, ciclos da economia, aqui é mais complicado/ Era para avançar, quiseram atrasar, ficou tudo enrolado; Mas poderia ter sido pior, o Haiti não é aqui/ Não temos terremoto e vulcão, só sol e açaí/ Esperamos a vitória, somos fortes e resignados/ Na vida do milênio, nós seremos resgatados?”. Ainda por não ter a clareza e correta dimensão daquilo que significou politica e economicamente a “Era Lula”, as poesias anteriores estão datadas até fins dos anos 1990. Em outro poema, explorando outra temática e intitulado “Estrofes para um Nataos”, busquei atualizar a discussão já para o período de Dilma Rosseuf. Vejamos: “Dicotomias da nação esperança/ Em um Natal de notícias justapostas/ Corrupção, Copa e Crise nas finanças/ E as feridas de exclusão expostas; Eis a President(a), mulher de fibra/ Acasalou com coronéis larápios/ Ministérios viram redes de intriga/ Por cargos e desvios no cardápio; Vêm estádios, elefantes obesos/ Com a FIFA e a CBF tomando conta/ E o dinheiro público vai de contrapeso/ No galinheiro da União, raposa toma conta; No mar calmo do Oceano Atlântico/ Sai petróleo, royalties para Estados/ Mas os donos do litoral estão em pânico/ Por dividir o lucro com os desabastados; E a recessão econômica européia/ Há “marola” ou ressaca no horizonte/ Inflação de gasto ou consumo, panacéia/ Em Wall Street, a caminho do desmonte; E no mundo árabe, teve primavera/ Para derrubar os donos do poder/ Porque a pilhagem do Estado prospera/ No Brasil, os jovens querem entender; O que será do próximo ano, e o futuro?/ Poderemos alimentar certas expectativas?/ Caminharemos em um país sem muros?/ Ou em um paraíso tropical, sem perspectiva?” Propus assim um panorama breve em poesia do projeto de Estado e nação que se tornou o Brasil, talvez delineando algo parecido com o samba de Sylas de Oliveira, “Aquarela brasileira”, mas longe de ter cores tão bonitas e contagiantes quanto o poema em samba-enredo do sambista carioca, que dizia assim em seu início: “Olha, essa maravilha de cenário/ É um episódio relicário/ Que o artista num sonho genial/ Escolheu para esse carnaval/ E o asfalto como passarela, será a tela/ Do Brasil em forma de aquarela (...)”. Lucas Labigalini Fuini é Professor Doutor da Unesp-Ourinhos e coordenador de projetos de pesquisa, ensino e extensão universitária (Email: [email protected]).
Posted on: Mon, 12 Aug 2013 11:43:40 +0000

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