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Alan Greenspan não entende por que o culpam da crise Depois de ter dito em 2008 que encontrara um defeito na ideologia do livre mercado e que todo o seu edifício intelectual tinha desmoronado, o ex-presidente da Reserva Federal americana escreve agora que não o podem culpar, dado que “o movimento dos mercados é muito difícil de prever”. Por Marco Antonio Moreno, El Blog Salmón. ARTIGO | 22 OUTUBRO, 2013 - 15:51 Greenspan não fez nada para deter os rebentos de irracionalidade e deixou que as bolhas seguissem o seu caminho com a fé de um devoto nos mercados. Foto wikimedia commons. Alan Greenspan foi considerado um mestre da política monetária durante a sua longa presidência da Reserva Federal, de 1987 a 2006. No entanto, no ano da sua reforma, começou a ser alvo de sérias acusações por implantar as políticas monetárias que ajudaram a incubar a crise financeira que explodiu em julho de 2007 e depois se propagou globalmente com a falência do Lehman Brothers em setembro de 2008. Tanto é assim que, poucas semanas depois da falência do Lehman, Greenspan protagonizava o mais impressionante mea culpa no edifício do Capitólio, reconhecendo que tinha apostado toda a sua fé em que o livre mercado fosse capaz de se regular a si mesmo. Em outubro de 2008, na audiência com Henry Waxman, Alan Greenspan admitiu: “Sim, encontrei um defeito na ideologia do livre mercado. Não sei quão significativo ou profundo é. Mas fiquei muito agoniado por isso”. Waxman pediu a Greenspan que esclarecesse as suas palavras: “Por outras palavras, considera que a sua visão do mundo, a sua ideologia, não estava correta, não estava a funcionar”. “Absolutamente” respondeu Greenspan. “Foi isso precisamente que me surpreendeu, porque convenci-me durante mais de 40 anos que estava a fazer o meu trabalho excecionalmente bem. Mas agora todo isso desmoronou. Todo o edifício intelectual desmoronou no Verão do ano passado”. Greenspan foi acusado de ser um dos principais culpados do crescimento das bolhas pois, sob a sua direção, a Fed manteve a taxa de juros de referência entre 0% e 2,5% por demasiado tempo (mais de seis anos). No entanto, não sabe porque muitos economistas o culpam da crise desencadeada um ano depois da sua saída da Reserva Federal. Como diz no seu último livro, desconhece toda a cadeia de ações que precipitou o colapso económico debaixo do seu próprio nariz. Greenspan diz que “as baixas taxas de juro e o aumento da oferta monetária sob o meu mandato não tiveram nada que ver com a bolha imobiliária. Isso é ridículo”. Veremos aqui por que Greenspan é culpado. As armas financeiras de destruição em massa A partir da sua poderosa posição como presidente da Reserva Federal, Greenspan frustrou constante e energicamente todas as tentativas de regular o crescimento explosivo dos mercados de derivados financeiros (um mercado que do zero, no início dos anos 90, chegou a 126 biliões de dólares em 2002, quase dez vezes o PIB de Estados Unidos), alegando que “reduziam os riscos do mercado”. Apesar das advertências de investidores como George Soros, que preferia ignorá-los ao desconhecer o seu misterioso funcionamento, ou Warren Buffet, que não duvidou em qualificá-los como uma bomba de tempo e “armas financeiras de destruição massiva”. Durante mais de uma década, Greenspan ganhou todos os debates, assinalando que “os derivados são um veículo extremamente útil para transferir o risco, e seria um grave erro regular esses contratos com maior profundidade” Hoje sabemos ao que conduziram os derivados implantados por Alan Greenspan, Robert Rubin e Larry Summers para liquefazer as perdas das recorrentes crises financeiras ocorridas nos anos 90. (Curiosamente, Greenspan, Rubin e Summers figuraram na capa da revista Time em fevereiro de 1999 com o título “Os homens que salvaram ao mundo”). A salvação transitória foi feita depois da falência do Long Term Capital Management, a primeira chamada de atenção sobre o tsunami dos derivados financeiros. Longe de salvar o mundo, os derivados defendidos por Greenspan mantêm ainda a economia mundial em estado de choque, e o sistema financeiro já está há cinco anos a desalavancar-se dessa gigantesca bolha que passou de 126 biliões de dólares, em 2002, a 550 biliões de dólares em 2008 e 700 biliões de dólares, (US$700.000.000.000.000, mais de dez vezes o PIB global), em 2011, de acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais. A ativação dessa ambiciosa experiência patrocinada por Greenspan, que se entregou ao livre funcionamento das forças do mercado, é o elemento que mantém a economia mundial nas sombras, e com um respirador artificial de milhares de milhões de dólares para manter o sistema à tona. Se Greenspan tivesse feito a regulação dos derivados financeiros, a crise poderia ter sido evitada ou reduzida. Os derivados foram criados para suavizar (ou “cobrir”) as perdas de investimento, por exemplo, frente às perdas de dívida ou de títulos hipotecários. Mas ao serem criados em massa, ao assumirem riscos cada vez mais complexos, ao generalizarem-se em grandes pacotes de dívida que foram comercializados em todo o mundo, não só aumentaram o risco e a cadeia de contratos que cobrem dívidas, como também a exposição a que uma pequena rutura de pagamentos desencadeasse o perigo de um efeito dominó. Greenspan sempre apostou que Wall Street se encarregaria de regular sem problemas este mercado, e daí que ao longo de toda a década dos anos 90 recusasse uma e outra vez os argumentos dos que exigiam uma supervisão maior ao sistema financeiro. Uma forma singela de explicar a operação deste processo é a seguinte: num sistema de alavancagem de 1/10, com 100 euros aposta-se o equivalente a 1.000 euros. Se o valor do ativo duplica, você ganha 1.900 euros (2.000 da operação menos os 100 do investimento inicial), mas basta uma queda do 10 por cento para perder todo o seu capital inicial. Nos felizes anos 90, muitos enriqueceram com esta forma de apostas, gerando as bolhas especulativas que rebentariam na década seguinte. Muitos perderam todo o seu capital por entrar nestas apostas, e insolitamente os governos socorreram-nos. Nada disto foi levado em conta por Alan Greenspan. “Ninguém poderia ter evitado a crise” O ex-presidente da Reserva Federal, aos 87 anos, desdiz-se do que afirmou há cinco anos no seu novo livro: The Map and the Territory (“O mapa e o território”), no qual assinala que ninguém poderia ter desarticulado as ameaças que causaram a crise, dado que ninguém poderia tê-la previsto. Greenspan esquece todas as advertências que foram feitas desde os anos 90, frente à ameaça potencial que representavam as bolhas, visíveis para muitos economistas, menos para Greenspan. Para Greenspan, o prognóstico económico tradicional não poderia ter impedido que se assumissem riscos irracionais que incharam as catastróficas bolhas de preços em ativos como a moradia ou ações de alta tecnologia. Depois da crise das ponto com, no ano 2002, Greenspan citou a obra de Robert Shiller e falou da “exuberância irracional dos mercados”. No entanto, muito cedo foi esquecido e Greenspan não fez nada para deter esses rebentos de irracionalidade. Deixou que as bolhas seguissem o seu caminho com a fé de um devoto de que os próprios mercados se encarregariam de as regular. Agora Greenspan diz que não teve nada que ver com a crise e que não o podem culpar, dado que “o movimento dos mercados é muito difícil de prever”. Curiosas declarações de quem era considerado o grande guru do sistema financeiro, o mestre que conseguia com um só gesto acalmar a fúria dos mercados. Parecia que o tinha feito depois da explosão da crise mexicana em 1994, da crise asiática de 1997, e das crises da Rússia e do Brasil em 1998, bem como com a falência da Long Term Capital Management, que custou a bagatela de mil milhões de dólares, uma cifra menor em comparação aos custos da crise atual, que supera os 16 biliões de dólares (US$16.000.000.000.000). Uma “verdade revelada” De acordo com esta entrevista concedida ao The Wall Street Journal, a propósito do lançamento do seu livro, Greenspan declara ter descoberto há menos de um ano, e como uma grande revelação, como o aumento dos ganhos empresariais provocaram uma considerável queda na poupança do país, e como esta queda na poupança (que era compensada com os empréstimos do exterior) implicava uma erosão do investimento em capital e novos projetos. É curioso que esta “verdade revelada” de Greenspan seja um dos princípios básicos da macroeconomia que todo o estudante de primeiro ano aprende: o que não se consome poupa-se ou investe-se; a igualdade poupança=investimento é uma causalidade matemática intrínseca nos modelos de fluxo e é também incluída no Modelo IS/LM. O facto que o Modelo IS/LM perca relevância é justamente fruto da manipulação que faz o sistema financeiro da taxa de juros, dado que o fornecimento de dinheiro, pela via dos derivados, é muito superior à base monetária real. Como, além disso, nunca se sabe a oferta real de dinheiro, dado que é a banca privada que cria o dinheiro sem um padrão regulatório regular (10 ou 200 vezes a base monetária), é impossível encontrar o equilíbrio entre o fornecimento de dinheiro e a preferência pela liquidez (que se expressa ao longo da curva LM). Greenspan também não deteta que um dos elementos chave no aumento dos lucros são as reduções de impostos que patrocinou nos governos de George Bush I e George Bush II, ainda que em agosto de 2010 pedisse que fossem revogadas todas as reduções de impostos da era Bush. Ao descontar impostos, as empresas ficam com mais recursos para especular nos mercados financeiros e alimentar as bolhas de ativos que potencian os derivados financeiros. O mais insólito é que Greenspan, depois de cinco anos de crises, ainda não veja problemas nos derivados financeiros que mantêm o mundo na penumbra. Sem dúvida desconhece que, tal como disse Warren Buffet, são armas financeiras de destruição em massa. Ou, como disse Paul Samuelson, são verdadeiros monstros Frankenstein que estão fora de controlo. O que deteta Alan Greenspan naquela que é a parte mais provocante do seu livro, é a afirmação de que a despesa pública em Segurança Social e Saúde, bem como outros programas de ajuda social, é a razão de a economia dos Estados Unidos ter crescido mais lentamente nas últimas décadas. Curioso e contraditório que manifeste a sua admiração por David Kahneman, economista que justamente valoriza os planos de saúde e o bem-estar das pessoas como princípio de uma vida na qual o dinheiro não é toda a felicidade. Isto confirma o ADN randiano de Greenspan, onde predomina o individualismo e a avareza, credo filosófico que está na outra aresta desta crise incubada desde os anos 80. Tradução de Luis Leiria
Posted on: Mon, 28 Oct 2013 14:23:56 +0000

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