As biografias não autorizadas fazem parte de um rico processo de desenvolvimento cultural e histórico de nossa sociedade. Sem elas, a bem da verdade, não conseguiríamos sequer frequentar os bancos das escolas, visto que qualquer área de conhecimento (da matemática à geografia, da biologia à história), para ser devidamente aprofundada, necessita, em determinado momento, que se façam incursões sobre a vida privada de determinadas personalidades, ou celebridades, como queiram. Aliás, como a Segunda Guerra Mundial poderia ser transmitida, com fidedignidade, de geração para geração, se não fossem analisados aspectos da vida privada, da intimidade, de Adolf Hitler. Agora, para escrever sobre Hitler, teremos que obter prévia autorização de seus descendentes? Qualquer atividade relacionada à psicologia estaria fadada ao fracasso, por outro lado, se fossem proibidas as obras biográficas sobre Freud. Essa é uma alegação descabida. Não discuto aqui somente o aspecto da liberdade de expressão, prevista constitucionalmente, mas o destino do já estéril mercado literário brasileiro, bem como da cultura nacional como um todo, se formos colocar mais um entrave à produção de obras e artigos, já tão desestimulada pela pirataria, pela rápida transmissão de dados via internet, e pela falta de investimentos governamentais (eu por exemplo, sempre que escrevi, tiver que pagar para publicar). Tomara que o Supremo Tribunal Federal, a quem foi confiada a última palavra sobre o assunto, libere, para o bem de nossa sociedade, as biografias não autorizadas, pois sem elas comprometida estará toda a informação que é transmitida séculos e séculos por gerações afora.
Posted on: Mon, 04 Nov 2013 20:57:18 +0000