Assino embaixo do texto do Bruno Cava. Já passei por situação - TopicsExpress



          

Assino embaixo do texto do Bruno Cava. Já passei por situação semelhante com amigos petistas: "Três companheiros petistas vieram falar comigo por que eu não escrevo um texto ou nota sobre o novo episódio do "mensalão". Estão estranhando e perguntam se eu teria mudado de ideia, ou se achava que Genoíno e Dirceu não mereceriam mais a solidariedade. Respondo a eles: fiz a minha parte. Defendi incansavelmente o governo Lula, durante a atuação no movimento estudantil, nos blogues, nas redes, quando parte da esquerda desertava em nome de uma pureza burguesa e moralidade conservadora. Participei de eventos, debates, mesas, polemizando ferrenhamente contra o discurso anticorrupção, cujo alvo sempre foi, pela via transversa, as políticas sociais e democráticas de Lula. Minha voz não perdeu a convicção em nenhum momento, e não tive qualquer pudor de "ficar mal", romper alianças e desfazer genuínas amizades, com quem quer que fosse, porque era o que eu acreditava e acredito. Ataquei essa farsa antilulista com tamanha paixão, mesmo sem qualquer parte nos aparelhos do partido, que não foram poucos os petistas e governistas a ficar desconfortáveis e até melindrados. Era uma febre que me consumia, mobilizando todos os meus conhecimentos e argumentos. Fui a um evento na UnB, em 2007, organizado pela amiga Mayra Cotta e o CA de direito, estava na mesa com o prof. Juarez Tavares e Alexandre Mendes e, sem medo do escândalo, fizemos um mordaz contraponto à pauta de criminalização, dominante no evento. Junto da UniNomade, participei desde 2006 de textos e manifestos, em posição inequívoca contra o espetáculo punitivista, num momento em que era minoritária, quase herética. Fizemos uma revista inteirinha sobre isso. Nosso último manifesto data de 3/11/2012, com boa repercussão nas redes. Nunca escrevi sobre a corrupção como um tema nacional digno de uma pauta transformadora, senão como o grande espantalho com que a classe dominante diverte de sua dominação brutal, racial e classista, que é a própria corrupção sistematizada nas instituições desta democracia. E agora? Ora. Os perseguidos políticos de alto coturno contam com uma panóplia de recursos políticos, jurídicos, econômicos, com uma estrutura formidável para fazer frente à farsa. Eles têm ministros do STF, altos escalões do governo e do partido, e um batalhão de advogados caríssimos. Vocês estão muito bem. Outros perseguidos políticos, aqui no Rio e noutras cidades, vivem um drama muito diferente. Existe uma comissão inconstitucional, orquestrando vários poderes públicos e operando em segredo, com poder de caçar qualquer um que esteja nas manifestações e, ipso facto, seja suspeito de "vandalismo". Nenhuma novidade, quando qualquer jovem negro favelado é a priori suspeito de "tráfico". Existem centenas de militantes respondendo processos por tipos penais de perigo abstrato ("formação de quadrilha armada", incitação), e/ou sem indícios ou provas, e/ou simplesmente por razões de conveniência, para desmobilizar os grupos na frente dos protestos. Mataram 10 pessoas na Maré, desapareceram com Amarildo, sem falar nos mil Amarildos e Amarildas anuais. Existem pessoas que tiveram as casas devassadas e foram presas abertamente por motivos políticos (não por acaso, separadas dos "presos comuns", ou então proibidas de voltar às ruas na liberação provisória), sem o menor esboço de apoio probatório, e temos a situação irônica de ter pelo menos uma ativista exilada noutro país. Máscaras foram proibidas na rua, podem conduzir coercitivamente quem quer que seja para identificação criminal, e ainda exigem aviso prévio para fazer manifestação. Temos também uma autêntica polícia secreta, violando correspondências, dados sigilosos, espionando conversas, fazendo rastreamento político e ideológico, um novo SNI internauta, no que ainda será o Watergate brasileiro. Estamos diante um enorme consenso de criminalização que reúne agentes do judiciário, legislativo e executivo, da esfera federal, estadual e municipal, inclusive da defensoria pública e setores da OAB, tudo legitimado e incitado pela grande imprensa, jornalistas, colunistas, políticos, intelectuais e "blogueiros progressistas". É um bloco inédito que, a título de proteger vidraças de banco, paredes brancas e manequins da Touloun, não hesita em espancar, torturar, prender, achacar e humilhar, sob a desculpa de restauração da ordem pública. Vivenciamos sucessivos pogroms nas dispersões de protestos, com destaque para a "varredura" da Lapa, no 20J. Nesse contexto de violações oficiais, estamos começando a reorganizar uma resistência efetivamente, iniciando fóruns, grupos de trabalho, comissões populares. Estamos começando a dar o nome aos bois, a saber quem está fazendo o que, e como vamos reagir a isso. Começamos com pouca gente, com algumas pessoas indignadas e corajosas para confrontar a máquina, e está crescendo. Mas é um trabalho difícil, árduo, e precisa de mais gente. Aí eu pergunto? O que vocês, petistas defensores do Genoíno e Dirceu, estão contribuindo? Que escândalo seletivo é esse? Se são tão amantes da liberdade, para defendê-la a qualquer custo para Genoíno e Dirceu, cadê vocês? Eu respondo: estão do lado errado. Vejo petistas e governistas, intelectuais ou políticos, reforçando a máquina que tritura pobre, negro, mulher, manifestante. Tudo em nome de um compromisso histórico que permite melhorar a vida dos pobres. É a desculpa automática. Mas estamos diante de uma situação gravíssima neste momento de manifestações, uma hora crucial, uma urgência fatal; e vocês se preocupam apenas com os seus, seus próprios líderes, sempre em nome do Grande Projeto e do Destino Manifesto que julgam encarnar. Querem meu apoio agora? Não terão. Me excluam da lista, desta vez, eu estou do outro lado. Não me sinto comprometido por seus compromissos históricos. Façam a sua parte primeiro antes de contar comigo. Vocês transcenderam a realidade e perderam a medida das coisas."
Posted on: Fri, 20 Sep 2013 14:43:52 +0000

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