Até quando o motor aguenta? Algumas montadoras estão equipando - TopicsExpress



          

Até quando o motor aguenta? Algumas montadoras estão equipando seus carros elétricos com um sistema de alto-falantes que simula o ronco dos motores tradicionais. Pelo visto (ou melhor: pelo ouvido - ou, melhor ainda: pelo não ouvido), o silêncio ficou demais. Este demais que, para mim, significaria do caralho!, para as fábricas parece significar demasiado, excessivo. Algumas delas justificam a invenção pelo viés politicamente correto: o silêncio dos carros elétricos seria perigoso para pedestres que, ao não ouví-los chegar, estariam mais sujeitos a atropelamentos. Outras defendem a simulação do ruído de motor por achar que o som é um componente importante do prazer de dirigir (alguns carros com câmbio automático possuem um sistema de audio comandado eletronicamente pelo motor, que simula o som de mudanças de marcha). (*) Em algum de meus livros (que se embaralham - todos - na minha mente no fim desta noite insone), escrevi sobre a presença, em alguns teclados digitais, de timbres com o estalido de arranhões num disco de vinil. Ah, como persistem algumas coisas que já não existem! Exemplos claros dessa utilidade inútil também são visíveis na arquitetura, nas roupas, nos móveis... Inutilidades úteis também estão presentes, ainda que menos perceptíveis, em muitas das nossas ideias, em muitos de nossos gestos. Dependendo do rigor da análise ou do nosso humor no momento, podemos considerá-las máu gosto kitsch ou algo necessário para reconhecermos um mundo que parece mudar rápido demais. (*) Como consequência de uma evolução contínua, por vezes nos deparamos com momentos de transição que, se tirados do contexto - desvinculados do que veio antes e virá depois - parecem absurdos (ruído de vinil em discos digitais, ronco de motor envenenado em carros elétricos). Essas fases intermediárias (com suas gambiarras juntando elementos contraditórios) reforçam a convicção de quem pensa que nós, seres humanos, não somos racionais; somos racionalizantes. A racionalidade não estaria na origem do que fazemos; seria um verniz posterior, apenas justificativa de nossos atos. Um alibi para impulsos, instinto, compulsão, sei lá o que... (*) Escrevo enquanto, pela janela, entram os primeiros raios de sol do dia que nasce. É provável que eu revise o texto ao anoitecer. Duas transições, noite>dia>noite, que se repetem desde sempre. Na verdade, são picos de obviedade num dia que, para quem tem olho-vivo-faro-fino-pé-atrás, a cada segundo esta se transformando. (*) O tempo dos cronômetros, que parece tão objetivo e definitivo, é uma abstração que, às vezes, falha. Nessas horas (ops: instantes) surreais, os relógios derretidos das pinturas de Dali são mais reais. há tanto tempo há tantos planos mas eu nunca sei em que ano estamos HG
Posted on: Tue, 03 Dec 2013 16:48:50 +0000

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