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Açúcar, sal e alguma coisa a mais Ao completar 30 anos de vida, a Pastoral da Criança amplia a própria fórmula para se adequar ao novo contexto social do Brasil 15/08/2013 06:52 Osny Tavares Quando a Pastoral da Crian­­ça surgiu, em 1983, a mortalidade infantil no Brasil era de 70 crianças para cada mil nascidas vivas, equiparável a do Vietnã no pós-guerra e a do Sudão ao longo do Conflito de Darfur. Nesse cenário de calamidade, a entidade sediada em Curitiba ficou conhecida por dois símbolos: o soro caseiro e a médica sanitarista Zilda Arns, divulgadora da receita que salvou milhares de crianças. Em 2010, quando a fundadora da Pastoral morreu tragicamente no terremoto no Haiti, a mortalidade infantil já havia caído para 17 a cada mil nascimentos. Agora, prestes a completar 30 anos de existência, a entidade recalibra o foco para auxiliar o desenvolvimento dos filhos do novo século, enquanto consolida a sucessão de sua diretoria. “O sonho da doutora Zilda era que a Pastoral sobrevivesse a ela”, lembra o filho, Nelson Arns Neumann, médico epidemiologista e coordenador internacional da entidade. Ele lembra que a Pastoral tem como missão fortalecer a família – uma causa que não se esgota. “No começo, o problema era a mortalidade e a desnutrição. Hoje temos outros desafios e um novo contexto social, marcado pela ascensão econômica”, diferencia. O novo foco está atrelado a preocupações que são, antes de tudo, dos pais. Acesso e qualidade da educação, prevenção ao uso de drogas e cuidados para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas. Para isso, a Pastoral combate o que chama de “cultura de delegação”, em que os pais transferem a responsabilidade sobre a criação dos filhos. Um fenômeno que começou nas famílias pobres, que tinham uma visão algo messiânica dos médicos e professores, mas que agora atinge as classes mais altas, segundo Arns Neumann. Um exemplo citado é a substituição da brincadeira de rua pelas academias e escolinhas de futebol. A preocupação com a segurança forçou uma infância regrada, em que os pequenos perdem oportunidades de improvisar, compartilhar e interagir com os colegas. “Se a pessoa contrata até um decorador para dizer de que forma deve viver, imagine em relação a questões mais complexas, como a criação dos filhos”, compara. Esse raciocínio embasa a campanha contra o uso de drogas, em que a Pastoral incentiva a construção de uma cultura de autonomia para o jovem, para que ele possa dizer não com base em uma reflexão moral própria. Mil Dias Uma das principais novas campanhas é a dos Mil Dias, em que é ressaltado o cuidado especial durante a gestação e nos dois primeiros anos de vida, período crucial para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas. São orientações que vão desde o posicionamento do bebê no berço até a importância do aleitamento. “Antes, o principal motivo da não amamentação era a fraqueza da mãe, hoje é a praticidade do leite em pó. Pra você ver como o tempo passa”. Manter o número de voluntários é desafio Nos anos anteriores ao seu falecimento, Zilda Arns preparava um processo de sucessão na entidade. A Pastoral havia mudado o estatuto, limitando o tempo na coordenação a um mandato de quatro anos, com direito a uma reeleição. Em 2007, Zilda encerrou seu último mandato na coordenação nacional e foi substituída pela irmã Vera Lúcia Altoé, educadora com carreira voluntária dentro da Pastoral. Nelson Arns Neumann havia declinado do cargo por acreditar que a liderança precisava ser ocupada por uma pessoa de perfil comunitário. Zilda passou então à coordenação internacional. Um compromisso oficial motivou a visita a Porto Príncipe em janeiro de 2010, quando um terremoto vitimou a médica e outras 300 mil pessoas. “Tivemos um ano inteiro de homenagens, que as poucos foram se transformando em um apelo para que continuássemos a causa”, lembra Nelson, que ocupou o cargo vago pela morte da mãe. Hoje, um dos principais desafios da entidade é manter o número de voluntários. São 202 mil agentes, metade formada por líderes comunitários que dedicam, em média, 24 horas semanais ao trabalho. Uma rede que teve ligeiro encolhimento ao longo dos anos, atribuído à queda no número absoluto de crianças no Brasil e à dificuldade em formar redes comunitárias, apesar de a internet ter compensado essa perda de presença física. “A solidariedade está ligada à fragilidade. Uma pessoa pobre consegue se enxergar nos problemas de outra”, afirma. “Mas está acontecendo um retorno. Após a evolução da renda, as pessoas estão percebendo que o caminho para a felicidade não se esgota no ‘ter’”.
Posted on: Thu, 15 Aug 2013 13:29:28 +0000

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