Biscoito de polvilhoTantas vezes eu dizia, devia ter um gravador - TopicsExpress



          

Biscoito de polvilhoTantas vezes eu dizia, devia ter um gravador aqui, para transformar suas incríveis histórias em um livro.Vó, duas letras, um acento, o grampo da vovó, e um sentimento indescritível. Tive duas lindas, carinhosas? Não, não eram assim de por no colo, mas com um AMOR... amor que eu senti, sentia? sinto. Hoje queria escrever sobre uma delas, a Dulce, doce, que teve uma vida cheia de doces, o melhor doce de leite que já comi (na verdade o segundo, o de uma tia é mais gostoso), fazia doces de abóbora (esse quase não comia), de mamão e de tantas outras coisas.Demorava seis meses para vê-la, mas sempre na primeira manhã acordava com o cheiro delicioso dos biscoitos de polvilho (crocantes, grandes – mas não sem graça como aqueles do mercado –, sequinhos – não eram gordurosos como de umas padarias –, resumindo perfeitos) saindo do forno, ela sabia que os preferia aos famosos pães de queijo da D. Dulce.Na Av. Nove de Julho, meu quarto sempre foi o do fundo, em companhia do Pipote (até que ele se foi). Algumas vezes os primos estavam lá, aí o Tio Geraldo (nome do Pipote) tinha que dormir em outro quarto, não deixávamos ele descansar com a algazarra. Coisa de criança, moleque, menino, adolescente, jovem, de família que aprendeu que temos que nos amar. Sabe por quê? Porque éramos todos seus netos, todos. E isso já é motivo, mas também porque implica em muitos outros motivos. Éramos os merecedores do biscoito de polvilho com café, leite, toddy (na casa dela só tinha nescau quando eu ou minha irmã pedíamos, ela não sei como entendia que gostávamos mais), café (já adoçado), pães de queijo, de sal (francês para os de fora) e o seu famoso (mais até que o pão de queijo) pão caseiro (minha boca encheu de saliva mais que meus olhos de lágrima agora).Tudo isso era cheio do amor que ela aprendeu e nos deu, o amor que cuida que acolhe que mostra nas ações que pensa e sente sua importância. Não, ela não era dada a declarações nem a toques, mas sempre tinha um carinho na comida, no quarto arrumado, no chiclete, até na coca-cola sem gás quando estava doente.Hoje foi um dia de despedida, de dizer adeus à sua presença física. Mesmo quando estava já bem doente fiz questão de levar-lhe minha primeira filha para que segurasse em seus braços. Que dia mágico, ela com a bebê no colo fazendo carinho e chamando-a de “meninão da vovó”, não havia o que fazer para que ela percebesse, ou notasse que era uma menina, nem o brinco era suficiente. Nem sei se ela sabe que era eu que estive lá, mas eu sei, eu vi ela demonstrando seu carinho com um filho meu.Dia triste, sim triste, mas muito bom saber que ela vai em paz aguardar sua chamada para a companhia do Senhor, no fim de sua vida, enquanto ainda era lúcida escolheu servir-Lo, a seu modo, na Igreja que a acolheu e mostrou que o caminho verdadeiro é ao lado Dele. Ainda na sua despedida, fez questão de resolver um último conflito entre seus filhos.Sempre representou uma força que uniu a família. Lembro com carinho das noites de domingo na sua casa, todos os tios juntos, com os primos correndo, brincando por todo lado. Os mais velhos levavam suas namoradas e namorados, os mais novos brincando. Depois quando crescemos lá nos encontrávamos para as saídas. Quantas vezes divertidamente voltando com o pão na mão. Mesmo assim lá estavam os biscoitos de polvilho.Podem dizer que ela não era assim, que não tratava assado, mas eles estavam lá, sempre estavam. Os biscoitos de polvilho.
Posted on: Sat, 05 Oct 2013 02:06:13 +0000

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