CAPÍTULO XIX. POBREZA DE RITA E CUIDADO QUE TINHA NA OBSERVÂNCIA - TopicsExpress



          

CAPÍTULO XIX. POBREZA DE RITA E CUIDADO QUE TINHA NA OBSERVÂNCIA DAS REGRAS Temos visto, em capítulos anteriores, o grande amor de Rita, mesmo desde menina, à pobreza, pois, não obstante o bom estado econômico de sua casa, vivia. com tanta sobriedade que, sua alimentação era frugal e até escassa, com o fim de poder aumentar os socorros aos pobres. Quanto ao vestido, já ficou dito, procurava o mais simples, fugindo quanto podia dos vestidos novos, e vistosos com que sua mãe tratava de enfeitai-a. Temos visto também, quando dona de casa, seu generoso desprendimento para com os pobres, aos quais socorria segundo os meios de que dispunha. Quando viúva e sem filhos chegou a desprender-se de todos os bens, segundo afirmam seus biógrafos - para desse modo ver-se livre de cuidados, confiando na Providencia que nunca lhe havia de faltar. Pois bem; este espírito de pobreza que Rita possuía no mundo, cresceu, desenvolveu-se ainda mais durante os anos que habitou naquele pobre mosteiro até a morte. Naquela casa santa tudo respirava pobreza, sendo suficiente acomodar-se à parcimônia da observantíssima comunidade para cumprir perfeitamente com a preciosa virtude da pobreza. Mas Rita foi além, porque os santos não ficam ordinariamente satisfeitos senão excedendo os limites humanos e chegando até o heroísmo; de modo que nossa santa achava sempre modo de diminuir aos poucos aquela mesma escassez da Comunidade, para multiplicar suas mortificações e mais e mais crescer no mérito duma virtude que é o fundamento da vida religiosa. Não é que Rita, pelo menos aparentemente, fizesse alguma coisa que a singularizasse entre suas Irmãs, senão que, devido ao seu espírito de penitência, enriquecia a prática desta virtude nos pequenos detalhes a que se pode estender o valor da santa pobreza, os quais, passando para muitos desapercebidos, serviam a Rita para se avantajar no exercício de tão preciosa virtude, assim como no de outras muitas de inestimável valor. Seu hábito, embora não fosse diferente do que usavam as demais religiosas, era, limpo sim, porém, o mais usado e pobre, e, segundo a tradição e atas do processo, parece que não usou outro durante os quarenta e quatro anos que viveu no convento. Na cela, que ainda hoje se conserva convertida em capela, tudo respirava pobreza. Era uma pequena habitação situada na parte velha do antigo dormitório, que só recebia luz por uma pequena janela. A mobília, reduzia-se a uma cruz, algumas estampas da Paixão de N. Senhor, e uma cama, formada por algumas tábuas com uma esteira, mas no meio de tanta pobreza e escassez julgava-se feliz porque não esquecia as dores e privações de Jesus crucificado, em cuja contemplação as horas e dias pareciam-lhe momentos imperceptíveis. Esquecida por completo das coisas do mundo, desprendida de todos os bens terrenos, seu único patrimônio era Jesus crucificado; este desprendimento era tão grande que, instada às vezes por suas Irmãs para que trocasse o hábito, respondia: Bem estou assim, irmãs queridas; o que eu preciso mudar é o coração, inflamando-o no amor do desamparado Jesus, pregado na cruz por meus pecados. Como acima indicamos, parece que só usou um único habito, o mesmo que serviu de mortalha ao seu santo corpo depois que sua alma voou ao céu. Enquanto a outras mortificações, sabemos que refreava o corpo com jejuns e abstinências, observando não só as prescritas pela Regra, mas também outras mais rigorosas que costumava multiplicar até onde a saúde e as forras lhe permitiam, seguindo em tudo o conselho dos superiores e do confessor a cuja vontade plenamente se sujeitava. Jejuava todos os anos três quaresmas completas, todas as vigílias, não só as de preceito, como também muitas outras de devoção, e especialmente as da Santíssima Virgem e dos Santos seus advogados particulares. Comia só uma vez por dia, e jamais bebia vinho. O absíntio, a cinza e as lágrimas eram o condimento disfarçado de sua comida. Passava a maior parte do ano só a pão e água, e quando, diminuindo suas forças pelos anos, começou a faltar-lhe a saúde, aumentou algo seu alimento. mas tão pouco que todos se admiravam como podia viver assim. Aquele seu amado caminho, no qual tão a gosto se achava, mais parecia um cárcere do que morada de uma religiosa, pelo obscuro, úmido e falto do mais necessário. Nem se sabe se nele havia um leito; o que de certo se sabe é que quando Rita, vencida pela fadiga, se via obrigada a dar ao corpo algum descanso, deitava-se no chão, ou sobre uma tábua, levantando-se à meia noite para castigar seu corpo com mais duros tormentos, com ásperos cilícios e sangrentas disciplinas, que aplicava em sufrágio das almas do purgatório, das quais era devotíssima. Durante o dia disciplinava-se mais duas vezes, uma pela conversão dos pescadores, e outra pelos benfeitores da Comunidade e da Ordem. Com tudo isto, diz o P. Tardi, não se contentava se a todo momento não sentia em tormentos a carne inimiga e rebelde: pelo que trazia sempre bem Aconchegado um cilicio composto de pungentes crinas, além do que unha tecidos na parte interior da túnica alguns espinhos, que a feriam sempre que tentava a andar. E entre esses espinhos e as outras asperezas da vida foi que a nossa Bem-aventurada como o lírio místico dos Cânticos, se mantinha escondida, inacessível às paixões, bem defendida, e cada vez mais cândida e bela, por que mais conforme estava com o seu celeste Esposo, que também se coroou de espinhos.
Posted on: Mon, 18 Nov 2013 09:40:16 +0000

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