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CARÍSSIMOS AMIGOS, LEITORES E AMANTES DESTA PÁGINA – SÉRIE CONTOS DE ADEMÁRIO ALVES. POR ADEMÁRIO ALVES CONTO SEGUENALDO: O EX CAMPONÊS E COMBATENTE ATORMENTADO PELO DESÂNIMO DE SUA LONGA VIDA DE RECLUSÃO Ademário Alves Seguenaldo viveria o desânimo profundo da alma e do espírito. Desde o dia em que ele deixou a sua terra natal. Qual o motivo disso tudo? Ninguém pode dizer nada. Desde então, uma tristeza avassala sua alegria e todas as suas silenciosas pegadas, pelos caminhos sinuosos da vida, são as pegadas do medo e da incerteza que ele cultiva em seus dias amargos e sombrios. Seguenaldo escurece como as tardes nos vales sombrios da Virginia. Seguenaldo não sabe o que pode acontecer com ele. Não sabe e não consegue, sequer, parar para pensar mais na sua vida desarrumada e desalojada de sentido. Seguenaldo é a desolação. Ele é um dia sem neve nos Alpes e sem Sol nos Sertões de Euclides da Cunha. O Rio de Janeiro queima em chamas e Seguenaldo não vai nunca á praia. Angustiado da vida, ele se recolhe como as andorinhas negras em verões intempestuosos. Ele crer muito mais no fim de tudo do que no começo de todas as coisas. A desordem eterna do caos parece que reina em absoluto sobre sua vida longa vida de desânimos e desalentos. Desatino mesmo é, para ele, viver sobre essas condições existenciais. A derrota inesperada aos finais da vida não poria um desânimo maior àquele descendente de camponeses e ex-soldado, que teria lutado arduamente durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Ele sempre foi um militar exemplar, um soldado que todo comandante queria tê-lo na sua guarnição. Um exímio atirador e manuseador de rifles. Seguenaldo era aquele homem de combate, de estratégias minuciosas e de uma generosidade incomum a um militar de formação profundamente belicista. Odiava os traidores da pátria como um fascista odeia a democracia. Era aquele comandante que toda a tropa necessitava confiava cegamente. É necessário narrar em exortação que Seguenaldo jamais colocou seus homens em risco como fez Rommel quando invadiu o norte africano nos auspícios anos de medo, de insegurança e de ostentoso pavor. E foi isso que o fez construir um ódio mortal pelos traidores de todas as tendências. Já na altura de seus 86 anos de vida. Seguenaldo era um velho. Um velho exemplarmente jovem, pois ainda nutria em seu espirito o desejo de viajar pelos quatros cantos do mundo como um transatlântico navega por águas incertas e turbulentas. Este era Seguenaldo o navegante homem pela vida das amargas tristezas. Aliás, registre-se que, se tiver algo de que ele possa ou venha a admirar, por ter guardado em si um incomensurável orgulho, é de ter lutado entre os praças da Segunda Guerra Mundial. Era aquele gladiador moderno e, naquelas batalhas, que o combate era limpar os rifles e fazer as refeições para aqueles que lutavam de fato, ele se saia razoavelmente bem. Seguenaldo, que nunca dera um tiro, cantava aos quatros cantos do mundo que foi um extraordinário combatente. Ele não se esquece de nada. Nem mesmo do dia em que se perdeu entre um front and out. Ele ficou perdido e chorou de medo. As lições da vida não pregam heroísmo o tempo inteiro e, voltando para a tristeza de Seguenaldo, nada o pode agora alegrá-lo. O dia de sol surge no horizonte como uma ameaça devassadora e inesperada porque, diz ele, nunca esperar simultâneo a luz do sol e o riso sem aspas de sua cafuza boca escondida por detrás de um bigode que recordaria Dom Pedro I. - Diria Agenor, seu amigo mais contundente. Seguenaldo afastou-se dele por ter denunciado esta verdade. Esta verdade causou-lhe o isolamento mortal. Na casa onde morava, investiu-se de uma reclusão inimaginável e proibiu Agenor de aproximar-se dela. Seguenaldo estava definitivamente resolvido a mergulhar em si mesmo como um velho monge mergulha nas profundezas de uma oração irrecorrigível no quarto escuro de um mosteiro do século XII. A casa escura e as coisas abandonadas indicavam que aquele homem não estava bem. Inimigo de toda a vizinhança, ninguém se aproximava para ajuda-lo. Seguenaldo ia se morrendo a cada dia: sem lua, sem sol e sem amigos por perto. Cheirava mal como cheiram todos que vivem abandonados à rua da amargura. Entregue aos trapos, passava o dia inteiro ouvindo músicas de Mozart. Seguenaldo não se contentava em viver para si. A vida de Seguenaldo não era uma vida fácil. Seguenaldo era um homem profundamente infeliz. Definitivamente triste, ele era a insensatez da vida. A tristeza dele era perigosamente contagiosa e era por isso mesmo que ninguém o chamava para nada. Seguenaldo ia-se consumindo como aquele fogo da beira da estrada que aos poucos vai consumindo a grama ressecada pelo calor do Sol. A essa altura, Seguenaldo era também uma espécie de amargura e profundo desespero. Não se havia noticias de filhos. Como ele era um homem estranho, ninguém saberia dizer nada de sua vida pregressa. Se o havia filhos, poucos arriscavam a dizer que os conheciam. Seguenaldo viveria só há anos. É. Nada era fácil para Seguenaldo. Uma tristeza voraz acometeria profundamente o coração daquele pobre homem filho de camponeses. Herdeiro direto de uma família de trabalhadores do campo, que viu seus rebentos perderem suas vidas nas disputas sanguinárias pela terra, ele não se conformava com isso e, com isso tudo, santificado na sua garganta, ele pensava em vingança na altura de seus longos 86 anos. Dizia que não deixaria por nada aquela sensatez dos inglórios. A vontade era de chorar e morrer como morrem as andorinhas nos ventos impiedosos das tempestades tropicais. Sem destino e sem qualquer motivação para viver entre os homens comuns, Seguenaldo pensava o tempo todo em sumir na vida. Mas, ele jamais teria sumido daquelas tardes cinzentas, semelhantes aos quadros de Van Gogh. Seguenaldo parecia um ex camponês que Van Gogh pudera ver a perambular pelas tardes cinzentas das terras baixas da Europa. Seguenaldo foi o único que escapou com vida das emboscadas, que levaram a vida de seus pais e irmãos. Deixando-o vivo um homem com um espírito arruinado pelas desgraças da vida. Note-se que essas desgraças chegaram conforme a colheita ia tecendo o poder de uma prosperidade que vinha com chuva, sol e violência. Seguenaldo plantava a terra, e, às vezes, colhia as suas dores mais desumanas. A vida dele foi assim: viver para ver seus horizontes inóspitos pelas tragédias do campo e do tempo. Seguenaldo eram o retrato e a imagem do abandono. Outros dias, ele corria em fuga e desesperado. A casa dos pais pegava fogo como se ali estivesse a anunciar as outras dificuldades pela vida afora. A ida para a guerra foi o recomeço de uma nova vida. Com uma nova violência e um velho desespero como parâmetro desde os tempos de juventude, ele não costuma confessar eu as tardes ainda eram intranquilas. Seguenaldo não pudera entender o que se passava com a sua vida. A vida dele era quase um holocausto, um martírio sem fim e uma tragédia que se repetia dia após dia. Mas ele ia vivendo longos misteriosos e dias de solidão e amarguras. Seguenaldo era admirador das flores, mas não havia de cultivá-las enquanto aquelas lembranças fertilizassem sua angústia, sua tristeza e seu desespero por não conseguir por fim às trevas que se encontravam sua alma e no seu espírito. Seguenaldo ia morrendo-se aos poucos no horizonte como se as últimas folhas fossem levadas pelos ventos e pelo tempo. Ele era apenas o Sol a despontar no horizonte que uma centena de recordações dolorosas invadia seu espírito. Sem paz consigo mesmo, Seguenaldo perambulava pelas estradas sinuosas do desespero. Seguenaldo pensava em viver sobre essas atrocidades do destino. Com isso, viveria a recordar o porquê de ter chegado ali depois de ter ocupado um quinhão de terras devolutas. Ali fertilizava o chão, o sangue de seus pais. Ali ele deveria morrer curvável às dores e ao destino. Ali deveria fincar-se a alma de um combatente e de um homem justo na medida do acaso e do tempo principalmente. Em reclusão profunda no mosteiro de sua própria alma, Seguenaldo mergulhava-se nas tristezas profundas dos deuses e na insanidade eloquente dos homens sem pazes. Uns diziam que ele ficou assim depois da aposentadoria. Em casa, o dia inteiro e sem trabalhar em nada, ele teria ficado e permanecido exposto à tristeza arrebatadora daqueles que se aposentavam e iam viver do nada, propensos às intempéries negativas do espírito e da alma. Ora, poderia ser feito de argila a dissolver-se por quaisquer águas que viessem com o verão de Euclides. As chuvas não cairiam. O transcorrer dos tempos e outros tantos dizeres iam-se fundamentando numa explicação nova para entender-se aquele homem octogenário. Diziam alguns com a exata certeza, que ele sofreria do mal de Menelau. Este mal surgiu quando ele viu sua mulher fugir com um homem mais novo que ele dez anos. Para esses, Seguenaldo jamais teria admitido isso em público e jamais também aceitaria falar no assunto. Novamente recluso e, outra vez agora com a alma insolúvel, refugiou-se dentro de um vazio sem amplidões comparativas. A escuridão apenas era das noites e de todo o universo sobre seus espíritos. E se recolheu para dentro de si mesmo como se vivesse em um mosteiro de almas que clamavam por perdão. Assim, pôde externar as tristezas dissolvidas em sentimentalidades atemporais. O fogo do inferno não pareceria aquecê-lo ainda em vida. Em resumo, o improvável pode ser construído assim: um quadro novo de Van Gogh, exposto ao público, era uma história nova na transmissão dos sentimentos de Seguenaldo. Contados aos jovens, que não poderiam ter acesso a um homem desses e com aqueles detalhes de uma longa vida. ADEMÁRIO ALVES 16.09.2013.
Posted on: Fri, 20 Sep 2013 01:42:55 +0000

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