COERÊNCIA, PARA QUÊ? Vejo no Facebook algumas pessoas que se manifestam contrárias à tese de que, em razão da triste história de escravidão, discriminação e marginalização dos negros neste país, hoje teríamos uma dívida para com essa parcela da população. Assim, posicionam-se manifestamente contra políticas concebidas para saldar essa dívida histórica e moral, sobretudo as cotas raciais. Até aí, nada de muito atípico. Eu também tenho as minhas objeções às cotas raciais, mas que não se fundam na negação de que a maior parcela da população pobre do país é constituída de negros nem do fato de que, sim, é preciso tomar medidas que alterem esse cenário decorrente de sabidas negligências históricas pós-abolição e de inegável preconceito velado ou nem tanto assim. De qualquer forma, acho a tese da “dívida histórica” razoavelmente insustentável. Uma análise mais cuidadosa facilmente exporia as fraquezas desse argumento que se molda em ideia semelhante à outra, estapafúrdia, de que cristãos devem pagar perante a Corte Celeste pelos pecados de Adão e Eva no Jardim do Éden, ou de que os africanos são descendentes do filho amaldiçoado de Noé. Agora, curioso mesmo, é ver esses que se opõem à tese da “dívida histórica” defendendo a legitimidade da criação imposta do estado de Israel e, agora, de sua abusiva expansão para dentro dos territórios palestinos, fundando-se na mesmíssima tese da “dívida histórica” da humanidade para com esse povo vítima do holocausto e de seus vínculos históricos pretéritos com aquelas terras do Oriente Médio. (Quer dizer, pior mesmo é ter de aguentar a desculpa de que o apoio a Israel, mas não à causa dos negros, não se baseia no fato de que o Estado liderado por Shimon Peres e Benjamin Netanyahu não passam de um braço forte do capitalismo americano naquela região. Não? Se baseia em quê, então? Ah, sim! Na “dívida histórica exclusiva para os judeus”. Uma nova tese. Tão imbecil quanto a original.) •
Posted on: Sun, 17 Nov 2013 18:05:04 +0000
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