Carta aberta aos senhores Prefeitos e Vereadores (Para ser lida - TopicsExpress



          

Carta aberta aos senhores Prefeitos e Vereadores (Para ser lida por políticos e por seus parentes e amigos) Senhores Prefeitos e Vereadores, Eu poderia começar trazendo uma infinidade de dados que causariam vergonha aos seus filhos, pais, tios, irmãos e amigos de verdade. Poderia também discorrer por páginas e mais páginas sobre corrupção, mau uso dos bens públicos, nepotismo etc. Poderia ainda, num gesto de falsa nobreza intelectual, ressuscitar teorias, frases e discursos que moldaram, ao longo de séculos, o ideal de Política. Mas... Pergunto-me se há alguma coisa pela qual os políticos deste Esatdo (Maranhão) poderiam repensar seus atos e suas omissões. Talvez haja algo que, aos olhos dos políticos, valha mais (ou tanto) do que o poder e o dinheiro. Sim, não duvido que exista, nos confins das consciências e dos sentimentos dos políticos, uma imagem ou uma lembrança de pessoas queridas, amadas ou, quiçá, idolatradas. Sim, talvez a lembrança de um avô que, rico ou pobre, brincava com aquele(a) netinho(a); um pai ou uma mãe que costumava abraçar e beijar como ninguém mais abraçaria ou beijaria; um filho ou uma filha que acreditava que aquele painho ou aquela mainha era a pessoa mais decente e honesta do mundo inteiro; um irmão ou irmão menor que seguia conselhos daquele(a) futuro(a) político(a); uma professora que acreditava que cada aluno(a) poderia contribuir para que o pequeno mundo em que viviam se tornasse melhor; um amigo que, sendo íntegro no caráter, despertava uma pequena e saudável inveja. Onde estão aquelas pessoas? O que se tornaram ou o que a vida fez delas? Decerto as coisas mudaram, o mundo mudou, e as pessoas também mudaram. Daquele tempo, alguns morreram jovens, outros foram para longe, e há os que continuam nas cercanias públicas e privadas. E alguns — poucos, pouquíssimos—, tiveram o privilégio de, por meios e formas diversas, chegar à política. Esta carta é para os que chegaram “lá”. Especificamente para os prefeitos e vereadores das pequenas cidades (segundo IBGE, aquelas de até 100.000 habitantes). As pequenas cidades representavam, em 2000, segundo dados do IBGE, 96% dos municípios brasileiros. Deixemos, por ora, as outras cidades. Pensemos naquelas nas quais ainda é mais viável se fazer alguma coisa já, hoje, agora. Senhores prefeitos e vereadores das pequenas cidades, certamente ninguém sozinho pode “consertar” o mundo, nem um continente, nem um país, nem um Estado, nem uma grande ou média cidade. Mas, acreditem, a situação nas pequenas cidades ainda pode ser melhorada. Mas, pra que melhorar? Sim, é uma pergunta que deve passar com freqüência na mente de vocês. E a resposta quase todos nós já conhecemos. Mas, vocês já pensaram se o avô, o pai, a mãe, o filho, a filha, o irmão, a irmã, a professora e o amigo sabem qual é a resposta de cada um de vocês, senhores políticos? Será que todos eles já viram imagens como estas abaixo? E, se viram, será que eles sabem que os principais responsáveis são vocês? E, sabendo que são vocês, sabem o que vocês realmente sentem quando vêem essas imagens? E, sabendo o que vocês sentem, o que elas devem sentir? A resposta, essa, sim, acho que poucos dentre eles sabem, e muito poucos têm coragem de dizê-la a vocês, senhores políticos. Mas deixemos a resposta para o final, embora alguns de vocês têm inteligência e perspicácia suficiente para já terem “adivinhado”. EDUCAÇÃO E SAÚDE. Palavras bonitas e de serventias diversas. Da situação à oposição, todos se servem delas para discursos garbosos ou irados. Mas esqueçam os discursos e olhem mais acima as imagens. Há um grupo de crianças apinhadas no chão, cabeças erguidas, pescoços esticados para tentar ver o que uma heróica professora tenta lhes ensinar. Reparem nas instalações, nas paredes, no quadro suspenso por pedaços de madeira, na janela que serve de banco, nas pernas dobradas que servem de encosto para os cadernos. Reparem, na outra imagem, na sala de aula improvisada ao ar livre, sob o sol, sujeita a água das chuvas, e na outra heroína que, de pé, sem nenhum outro recurso didático além da fala, tenta talvez ensinar às crianças como as coisas deveriam ser para o mundo ser melhor. Nas outras duas imagens, o vazio e o inferno. Onde deveria estar algum doente sendo cuidado, há o vazio humano. Onde deveria estar vazio, há inúmeros doentes aguardando a morte que costuma não tardar naquele ambiente. Mas... São imagens, apenas imagens. Aquelas pessoas queridas, amadas e idolatradas talvez nem se importem. Mas, e é aí que devemos chegar, talvez se importem. E talvez elas, aquelas pessoas, não tenham a coragem de dizer o quanto aquelas imagens doem, machucam, corroem suas consciências e suas almas, pois sabem que vocês, prefeitos e vereadores, poderiam trabalhar para evitar que aquelas cenas existissem em seus municípios. Mais que isso: sabem que, na maioria dos casos, vocês encabeçam a lista dos culpados. E, o mais doloroso, sabem (ou descobrem) a resposta para aquela pergunta (“E, sabendo o que vocês sentem, o que elas devem sentir?”): VERGONHA! Mas, pergunto-me, será que tem que ser assim? Será que os políticos, além de não se importarem com aquelas imagens, também não se importam que seus pais, filhos e amigos sintam VERGONHA por eles, os políticos, agirem tão mal ou se omitirem tão covardemente? Não, não acredito! Que vocês não se importem com seus eleitores e com a imprensa eu até acredito. Mas os filhos, sobretudo os filhos? Vocês já imaginaram o quê seus filhos pensam ou pensarão de vocês ao verem aquelas imagens? Vocês já imaginaram que talvez um filho ou uma filha venha, no futuro, a se revoltar com as ações e omissões do pai ou da mãe enquanto políticos? Vocês já pararam para pensar que um filho ou filha talvez um dia precise ser socorrido(a) num hospital ou ambulatório municipal? Já cogitaram a possibilidade de seus netos serem pobres e dependerem da escola municipal? Ou de seus pais precisarem do hospital de um município? DIGNIDADE. Ê palavra bonita! Bonita e forte! Forte como deve ser o alicerce que se prepara para o filho erguer as paredes de sua própria vida. E não é preciso ser doutor na Sorbonne para se ter DIGNIDADE. De todos os sinônimos da palavra DIGNIDADE, acho que o que mais se aplicaria a vocês seja EXEMPLAR. Sim, não se iludam (como o fazem frequentemente), vocês podem ser EXEMPLARES. Senão para todos, ao menos para os pais, os filhos e os amigos de vocês. Refaçam a trajetória do que hoje vocês chamam de sucesso, pois o que hoje é sucesso para vocês é também sofrimento, humilhação, dor e morte para muitos que estão logo ali, a três ou quatro casas de vocês. É difícil? É claro que é difícil! Roubar, matar, fraudar, sonegar também são tarefas difíceis. A DIGNIDADE está também na escolha correta da tarefa difícil. É complicado? É claro que é complicado! Mentir, enganar, trair, acovardar-se também são ações complicadas. O ser EXEMPLAR está também na escolha correta da ação complicada. Não sabem por onde começar? Ora, basta apenas olhar ao redor, ver o que está acontecendo e (1) diagnosticar os problemas mais graves e urgentes, (2) fazer o que pode ser feito hoje e que só depende de vocês; (3) identificar o que não depende de vocês e procurar ajuda e orientação junto a pessoas, entidades e órgãos competentes (e são muitos espalhados pelo país); (4) fiscalizar rigorosamente, como se fosse para salvar a vida do próprio filho, as ações que devem ser implementadas; (5) procurar se informar sobre ações que estão dando certo em outros municípios e tentar adaptar à realidade do próprio município; (6) cumprir com as obrigações legais para que, em hipótese alguma, sejam desviadas verbas da EDUCAÇÃO e da SAÚDE, bem como nunca deixar de utilizar adequadamente os recursos que chegarem (é um crime imperdoável, IMPERDOÁVEL, desviar ou não utilizar as verbas de EDUCAÇÃO e SAÚDE). É prejuízo político e financeiro (pessoal, talvez?)? É claro! Perderão alguns “amigos” e algum dinheiro, mas não ficarão pobres de forma alguma. E os verdadeiros amigos voltarão. É impossível mudar? Não, não é impossível. Vocês não nasceram prefeitos e vereadores. Algum dia, lá atrás, num passado qualquer, vocês acharam que nunca chegariam aonde chegaram. Mas chegaram. Foi possível. E não se pede perfeição, aqui. Pede-se trabalho, compromisso, zelo e responsabilidade para com crianças e doentes. Aqui, por enquanto, só se pede isso. Não poderão, é certo, mudar tudo, nem à perfeição o que pode ser mudado. Mas vocês podem fazer mais. E melhor! Vocês podem dar o máximo! Façam o que for possível, mas façam mais e melhor! Dizem que a vida é curta. Para alguns, é muito mais curta. E sofrida! E mortal! A diferença entre as crianças que estão no chão (primeira imagem) e vocês é que elas nada podem fazer, pois são apenas crianças. A diferença entre os doentes no corredor (última imagem) do hospital e vocês é que eles são apenas doentes. Já vocês, vocês PODEM FAZER ALGUMA COISA! Vocês têm o legislativo e o executivo para criar leis, executá-las, fiscalizá-las e evitar que aquelas imagens assombrem seus parentes e amigos. Vocês têm (e sempre tiveram) a oportunidade de fazer diferente, de ser diferente. Seus filhos e netos têm o direito de sair à rua de cabeça erguida, com orgulho do pai ou da mãe. Não por ter um pai ou uma mãe prefeito(a) ou vereador(a), mas por saber que o pai ou a mãe dá o máximo para que as crianças tenham escolas de verdade, com professores qualificados e bem remunerados, e hospitais e ambulatórios suficientes, equipados e com médicos e enfermeiros também qualificados e bem remunerados. Vocês podem, além de garantir um futuro às crianças e a vida aos doentes, deixar uma bela história para seus filhos e netos contarem e tomarem como EXEMPLO. Construam uma história que possa e mereça ser contada na mesa de jantar de seus netos e bisnetos. Vocês podem mudar a tela da pequena história de suas vidas: cobrir a escuridão e o sangue da VERGONHA com o brilho e as luzes da DIGNIDADE!
Posted on: Tue, 20 Aug 2013 23:22:30 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015