Como eu tô de saco cheio de tudo isso, pretendo dar um tempo de - TopicsExpress



          

Como eu tô de saco cheio de tudo isso, pretendo dar um tempo de estar aqui, mas deixarei algo para que pensem. "Vejo-te picado pelas moscas venenosas, vejo-te arranhado e sangrando em muitos lugares. E teu orgulho nenhuma só vez sequer encolerizar. Elas desejariam teu sangue com a maior inocência. Suas almas exângues reclamam sangue e picam com a maior inocência. Mas tu, que és profundo, sofres profundamente até com pequenas feridas e antes da cura já passeava outra vez por tua mão o mesmo inseto venenoso. Pareces-me altivo demais para matar esses insetos vorazes. Mas toma cuidado para que teu destino não venha a ser o de suportar toda essa venenosa injustiça! Aparecem zumbindo também à tua volta e, mesmo quando te louvam, seus louvores é pura importunidade. Querem estar perto de tua pele e de teu sangue. Adulam-te como um deus ou um diabo! Choramingam diante de ti como diante de um deus ou um diabo. Que importa? São aduladores e chorões, nada mais que isso. Muitas vezes também se tornam amáveis contigo, mas foi sempre essa a astúcia dos covardes. Sim, os covardes são astutos! Pensam muito em ti com sua alma mesquinha. Suspeitam sempre de ti. Tudo o que dá muito o que pensar se torna inquietante. Eles te castigam por todas as tuas virtudes. Só te perdoam, do fundo do seu coração, teus erros. Como és benévolo e justo, chegas a dizer: "não tem culpa da mesquinhez da sua vida". Mas sua alma tacanha pensa: "aquele que vive uma grande vida é sempre culpado". Mesmo que sejas benévolo com eles, ainda se consideram desprezados por ti e pagam teu benefício com atos malévolos. Teu orgulho silencioso lhes é sempre desagradável e se alegram sobremaneira quando te mostras bastante modesto para ser vaidoso. O que reconhecemos num homem é também o que nele nos irrita. Toma cuidado, portanto, com os que se mostram pequenos. Em tua presença se sentem pequenos e sua baixeza arte e alimenta invisível vingança contra ti. Não notaste como costumavam calar quando te aproximavas deles e que sua força os abandonava tal como a fumaça de um fogo que se extingue? Sim, meu amigo, és a má consciência de teus próximos porque são indignos de ti. Por isso te odeiam e bem gostariam de sugar teu sangue. Teus próximos hão de ser sempre moscas venenosas. E o que é grande em ti deve necessariamente torná-los mais venenosos e mais semelhantes às moscas. Foge, meu amigo, para tua solidão, para onde sopre o vento rijo e forte. Não é destino teu ser espanta-moscas. Assim falava Zaratustra." (trecho extraído do capítulo As Moscas da Praça Pública, do livro Assim Falava Zaratustra, Nietzsche - tradução Antonio Carlos Braga).
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 03:14:16 +0000

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