Conheci a Baixinha em 1973, na casa de Fátima Mallas, a Tatina, - TopicsExpress



          

Conheci a Baixinha em 1973, na casa de Fátima Mallas, a Tatina, onde ela cuidava de sua filha Ana Paula. Logo chamou minha atenção aquela mulher pequena, muito ativa, que me falava de um mundo que eu já ouvira e do qual queria me aproximar. Tivemos uma simpatia mútua e eu, progressivamente, comecei a mergulhar nos conhecimentos que ela me trazia do mundo dos espíritos, das curas usando as mãos, das ervas e da Umbanda. Ela foi me contando sua história que mais parecia saída de um livro de aventuras. Nascera em 1936, no noroeste do Estado do Rio de Janeiro, na localidade de Pirapitinga, próxima à cidade mineira de Além Paraíba. Sua mãe, Maria, era filha de um rico fazendeiro, em cuja fazenda seu pai, Antônio, era boiadeiro. Para desgosto dos pais de sua mãe, ela se apaixonou por Antônio e como era costume no interior, quando os pais de uma moça não aceitavam um namoro, os namorados fugiam e isso criava uma situação social em que os dois tinham que casar. Seu avô se aborreceu tanto que não quis seguir esse costume e mandou outro empregado da fazenda atrás para matar Antônio. O casal conseguiu fugir a cavalo para longe e o avô, então, deserdou sua mãe. Eles passaram a enfrentar imensas dificuldades de vida e quando Arlete, este é o nome da Baixinha, nasceu ela era tão pequenina que foi colocada em uma caixa e guardada junto ao forno para se aquecer. Em seu caminho espiritual, Baixinha, por necessidade, teve a cabeça raspada no Candomblé para o Orixá Oxum, tendo como segundo Obaluaê. Após o golpe militar de 1968, com a edição do AI/5, o Brasil entrou em um período negro de sua história, com violência do Estado, perseguição a todos que não seguiam a ideologia dominante e uma intolerância política e social a todos aqueles que buscavam um caminho próprio. Os jovens, perseguidos e perdidos num sistema cada vez mais fechado, materialista, individualista e competitivo passam a procurar outras formas de viver. Um desses caminhos foi o viver comunitariamente, valorizando a generosidade, a auto gestão e a espiritualidade. Nesta ocasião, eu e minha primeira mulher, Márcia - que era amiga da Fátima -, resolvemos morar em comunidade, com nossos filhos. Baixinha, que continuava cuidando da Ana Paula, juntou-se a nós e assim fomos morar em uma grande casa na Tijuca. Lá, ela e Marcelo Bernardes, seu companheiro de vida e pai de seu filho Nilo Maia, iniciaram seu relacionamento. No período em que a conheci, Baixinha estava afastada da Tenda Espírita Mirim e não tinha uma prática espiritual regular. Junto com outros companheiros e companheiras, a acompanhamos em seu retorno à prática umbandista. De início, foram sessões de desenvolvimento e ensino com o Caboclo Tupinambá, em nossa casa. Ficamos nos reunindo por mais de um ano e, então, Seu Tupinambá nos disse que queria uma casa com o chão de terra e o teto de estrelas. Entendemos que ele queria ir para a mata e após alguns meses de busca, foi encontrado um lugar na mata, próximo ao Jardim Botânico, no Horto. Lá, ficamos trabalhando alguns anos até que no princípio de 1981, Baixinha ficou grávida e precisou suspender seu trabalho incorporando Seu Tupinambá. Diante dessa situação, ela nos encaminhou para sua escola, a Tenda Espírita Mirim, onde tivemos um grande aprendizado no caminho espiritual. Após o nascimento do Nilo Maia, passado seu resguardo, Baixinha voltou à mata e as giras continuaram. Nessa ocasião, Baixinha veio a conhecer médicos e psicólogos que praticavam a psicoterapia corporal Análise Bioenergética. Esses profissionais passaram a freqüentar suas giras e a se consultar com ela. Os fundamentos que compõem esta psicoterapia são a compreensão da unicidade do corpo e da mente, da localização das emoções no corpo e da importância de sua expressão no caminho da integração da pessoa, associada à fundamental consciência desses processos no próprio corpo. E isso tem toda ressonância com o conhecimento umbandista da natureza humana e Baixinha, visionariamente, percebeu isso. Em meados da década de 80, pessoas ligadas à doutrina do Santo Daime começaram a se aproximar da gira em busca de desenvolvimento mediúnico. Baixinha as acolheu e a aproximação se aprofundou. Seu Tupinambá em uma gira nos disse que ele era das terras do Daime, na Amazônia. Nessa época, Baixinha tomou o Santo Daime no Ponto Rainha do Mar conduzido por Vera Fróes, amiga de adolescência do Marcelo e pioneira no estudo acadêmico do chá e de sua doutrina e uma das primeiras filiadas formalmente, de fora da Amazônia, à Igreja do Santo Daime, no estado do Acre Nesse novo caminho, Baixinha e Marcelo começaram a freqüentar a Igreja do Céu do Mar, em São Conrado, a primeira igreja daimista no Rio de Janeiro, onde foram reconhecidos e Baixinha passou a realizar periodicamente giras de Umbanda para desenvolvimento mediúnico dos filiados. Os dois conheceram, em Visconde de Mauá, a Igreja Céu da Montanha e lá também começaram a realizar as giras de Umbanda, estreitando laços que os levaram a se mudar para esta comunidade e retomando o antigo projeto de vida comunitária. Lá, em 1988, Baixinha e Marcelo se fardaram na doutrina do Santo Daime. Quando se completou o tempo em Mauá, Baixinha, Marcelo e Nilo Maia mudaram-se para Lumiar, em Nova Friburgo. Lá, os membros que vieram a formar esta nova comunidade construíram juntos a Cabana Lua Branca para abrigar os trabalhos espirituais, agora, unindo as linhas da Umbanda e do Santo Daime, com giras, concentrações e hinários. O grupo de membros da irmandade foi crescendo, bem como o de visitantes e assim, o pequeno espaço da Cabana deixou de comportar a todos. Numa comunicação intuitiva, Baixinha viu o terreno para a localização da nova casa e a seguir, ela e Marcelo compraram um terreno na subida para Macaé de Cima, onde começou a ser construída, no início dos anos noventa, a sede definitiva para os trabalhos do Caboclo Tupinambá, mentor e guia da Baixinha. Esta casa foi batizada como Flor da Montanha e hoje, já com mais de 20 anos, é reconhecida como um importante centro de desenvolvimento e tratamento espiritual. Ela está integrada à linhagem das Igrejas do Santo Daime, fundada pelo Mestre Irineu, no Acre, na década de 30 do século passado e segue o calendário com os hinários festivos das igrejas. Mensalmente, realiza também as giras de caboclos e pretos velhos. Em meados da década de 80, um dos médicos psiquiatras que Baixinha conheceu foi José Alberto Rosa de quem ficou grande amiga. José Rosa foi o pioneiro da Análise Bioenergética no Rio de Janeiro e mantinha uma clientela em Nova York. Quando decidiu trazer seus pacientes ao Brasil para trabalhos terapêuticos intensivos, em grupo, ele procurou Baixinha e os dois deram início a uma frutífera parceria, que durou até o final precoce da vida dele. Baixinha cuidava da parte espiritual dos pacientes e trazia sua sutil compreensão das ligações corpo, psiquismo e espiritualidade. Com sua sensibilidade sobre o ser humano, Baixinha introduziu o uso do Daime, nos trabalhos terapêuticos com José Rosa, que ela já vinha utilizando nos trabalhos espirituais em sua igreja. Nessa ocasião, ela decidiu iniciar uma prática constante de massagem que denominou Leitura de Aura, a qual ampliava a consciência dos pacientes sobre seu próprio corpo, enquanto ela ia cuidando de suas questões a nível espiritual. As pessoas sentiam tamanha transformação em suas sessões, que logo seu consultório estava com os horários completos. Baixinha manteve esta prática até poucos anos atrás. Vind ik leuk · · Delen
Posted on: Sat, 30 Nov 2013 08:37:22 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015