De Carlos Esperança - Álvaro Cunhal – o centenário canónico - TopicsExpress



          

De Carlos Esperança - Álvaro Cunhal – o centenário canónico visto por um não correligionário Álvaro Cunhal foi um dos maiores vultos intelectuais do século XX português. A sua dimensão é tal que ninguém a consegue ofuscar. Foi um príncipe renascentista cuja resistência física, psicológica e emocional fez dele o expoente máximo da luta contra a ditadura fascista. Poucos se lhe aproximaram na cultura e no ecletismo. Pintor exímio, teórico da estética, na senda de Jorge Lukács, notável poliglota, escritor que nos deixou uma das mais belas obras do neorrealismo, «Até amanhã, camaradas», Álvaro Cunhal foi ainda um ensaísta, tradutor e teórico do marxismo de gabarito internacional. A superior inteligência e a obstinada dedicação à causa que abraçou fizeram dele o líder carismático do PCP, a que dedicou a vida, um partido que se mantém o maior da Europa depois da queda da URSS e a quem, mesmo os adversários, prestam homenagem à luta heroica contra o fascismo. É o paradigma do combatente e mártir que dedicou a vida a um ideal, do resistente que sofreu todas as torturas sem nunca trair, merecendo, por isso, o respeito de quem preza a coerência, a coragem e a generosidade. O seu relatório da atividade do Comité Central ao VI Congresso, de Setembro de 1965, «Rumo à Vitória» é um documento histórico de notável perspicácia política e enorme qualidade literária. Apenas o elogio a um obscuro coronel, Galvão de Melo, poderá ter pesado na infeliz escolha, em 1974, para a Junta de Salvação Nacional, onde seria um general reacionário ao serviço da direita trauliteira. A capacidade de previsão de Álvaro Cunhal foi sempre impressionante, graças à imensa cultura e à prática política de quem se considerou filho adotivo do proletariado. A ele se deve a avaliação correta da correlação de forças e a travagem do PCP no aventureirismo esquerdista que em 25 de novembro de 1975 lançaria o País numa violenta guerra civil. No centenário do nascimento é um português que merece ser lembrado e homenageado, pese embora a sua irrevogável defesa do leninismo cujo centralismo democrático deu origem ao estalinismo e a outras aberrações históricas que tiveram o expoente máximo no maoísmo e na deriva esquizofrénica albanesa de Enver Hoxha. Hoje, com a terciarização económica, sem a força de operários e camponeses, é de um novo paradigma que precisamos e, talvez, de um homem com a força, a inteligência e o carácter de Álvaro Cunhal, para o definir e o levar à prática, com o mesmo entusiasmo com que ele galvanizava as assembleias para quem falava.
Posted on: Sun, 10 Nov 2013 19:02:40 +0000

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