Depoimento no Dignidade Médica: "Incomodou-me bastante ter - TopicsExpress



          

Depoimento no Dignidade Médica: "Incomodou-me bastante ter ouvido do governo que os profissionais de saúde têm que atender ao SUS para serem humanizados. Parece-me que de alguma forma o governo acredita haver diferença entre a doença do paciente do SUS (pobre) e a doença de pacientes de planos de saúde ou particulares (ricos). Desde o início de minha formação em medicina, há mais de dez anos, eu jamais vi nenhum livro que ensinasse medicina de pobre e outro que instruísse em medicina de rico. Minha esposa, enfermeira, riu quando perguntei se durante o seu curso ela tinha tido acesso a algum livro de enfermagem de pobre ou enfermagem de rico, dizendo que também nunca viu nada parecido. Ouso concluir que nem psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, farmacêuticos, bioquímicos e terapeutas ocupacionais também não aprendem diferenças na doença do pobre ou do rico. Nem tampouco aprendi com meus professores que a doença possui história natural distinta para doentes com contas bancárias polpudas ou para miseráveis. Não existem diferenças, simplesmente, por que o doente é um ser humano com vísceras, sangue, ossos, músculos e emoções como qualquer um, independentemente do seu nível social, fato comprovado pelos estudos milenares de anatomia e fisiologia. Aprendi sim que o saneamento básico, nível de instrução, acesso à equipe de saúde bem preparada e com estrutura física e organizacional adequada faz uma enorme diferença tanto na incidência epidemiológica destas doenças, no impacto que elas causam na qualidade de vida do doente bem como o seu desfecho, tudo isso enormemente desfavorável para doentes pobres. Ora, se os fatores que influenciam nas diferenças entre o doente pobre e rico são estes: - saneamento básico - educação - acesso à equipe de saúde bem preparada e com estrutura física e organizacional adequada fica claro que o que tornaria o SUS mais humano seria investir no saneamento básico, na educação de nosso povo e na estrutura pífia do sistema de saúde público, algo que nem médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, dentistas, farmacêuticos, bioquímicos e terapeutas ocupacionais são capacitados a fazer. Quem neste país pode fazer mudanças no saneamento básico, nível de instrução, acesso à equipe de saúde bem preparada e com estrutura física e organizacional adequada? Não seriam essas pessoas que com poderes para melhorar o saneamento básico, nível de instrução, acesso à equipe de saúde bem preparada e com estrutura física e organizacional adequada e que nos últimos 10 anos negligenciaram estas necessidades deveríamos “humanizar”? Que tal 2 anos no SUS para os políticos serem humanizados?"
Posted on: Mon, 15 Jul 2013 02:49:02 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015