Desformalizemos a vida Convenção é aquilo que se admite implicitamente nas relações sociais. Espécie de divisa tão necessária à especificação de valores, quanto a cerca destinada a delimitação da propriedade. Perfeitamente natural que os títulos e as designações funcionem na vida pública e privada, estabelecendo linhas de respeitabilidade às situações de indivíduos ou grupos na ambiente em que se manifestam. Há pessoas, porém, que fazem do conceito objeto permanente de idolatria, solenizando de tal modo as próprias condições que não percebem a queda de si mesmas na escravidão ao formalismo calamitoso. Crendo render culto à vida, isolam-se dela. Escondem-se por trás de usanças e preconceitos, qual se fossem prisioneiros de exigências descabidas e posturas desnecessárias. Não sabem agir sem rituais domésticos ou formalidades públicas, esquecidos de que denominações foram feitas para os homens e não os homens para as denominações. Dizem-se dedicados à distinção para honorificarem a sociedade a comunidade e acabam em campeões autênticos de segregação espiritual, exterminando as melhores plantações de fraternidade com a foice de etiqueta. Acatemos os códigos de boas maneiras no que eles possuem de aproveitável na esfera da polidez. Evitemos o cativeiro ao verniz dos gestos constantemente estudados que nos mumificam os sentimentos. Abstenham-se da cortesia incômoda, da cerimônia excessiva, do convencionalismo sistemático e desformalize a existência naquilo que seja possível. Respeitar as normas dignas de tratamento descongestionando, contudo, as vias de comunicação uns com os outros. Dar passagem à generosidade quando o coração anseie exprimir-se por ela e acolher nos lábios o sorriso irmão que nos nasce na alma, desejoso de apelar para o bem através da boca, ainda que isso nos custe a desaprovação de criaturas que adotam impassibilidade em nome da gentileza. A superconvenção elimina a amizade, além de furtar a alegria de viver. Educação não exclui espontaneidade. Em nossas reflexões nos domínios do raciocínio espiritual cultivemos a cortesia. Mas fujamos da superficialidade e do cálculo em matéria de vivência comum. Recorde cada um de nós que todos necessitamos de uma caridade quase desconhecida, cuja importância é tão grande para quem dá como para quem recebe – a caridade de ser simples.
Posted on: Wed, 31 Jul 2013 22:11:17 +0000