Diante da esfuziante leitura, potencializada pelo encontro e - TopicsExpress



          

Diante da esfuziante leitura, potencializada pelo encontro e debate com o autor, compartilho para eventual comparação aos movimentos populares atuais, suas origens, reflexos e expectativas: A hora é de cadáveres adiados. Organismos dados como mortos e superados e que afinal persistem, mais desfigurados ou mais transfigurados, decidindo políticas, restringindo direitos, forjando alternativas, falhando soluções, numa palavra, em claro modo de operatividade. De todos eles foi dito, em dado momento, estarem extintos ou temporalmente desajustados, teoricamente enterrados ou, na melhor das hipóteses, ligados ao ventilador; de todos eles foi indicado o nome do fenômeno, entidade ou ismo que seria o respetivo sucedâneo, ou, na melhor das hipóteses, que o problema residiria na dificuldade, seguramente paradoxal, dessa indicação; a todos eles foi atestada a morte crítica sem previa correspondência biológica. O rol é vasto: o Estado sempre a beira de desaparecer por exaustão e tragado pelo mercado e pelo crime; o capitalismo, a quem se promete caixão (desta vez é que é) por ocasião de cada crise; Marx e o marxismo, mortos sem aviso prévio por incumprimento de expectativas; a democracia, que falar dela é trazer a morte na boca, tal como se de ditadura se tratasse; a ditadura ela mesma, eliminada no dia exato da transição para o que quer tenha vindo depois; a dogmática jurídica, consumida pelo mundo da vida, esse assassino involuntário da modernidade (também superada, evidentemente); o constitucionalismo, que também ele só por distração não percebeu no fim da história o seu próprio fim (e o dirigismo constitucional, que teria morrido também às mãos da trans-estalidade); processo penal, vítima de garantismo-dependência e invariavelmente o próximo a partir; os limites, desaparecidos pela ausência de valores, por seu turno desaparecidos pela ausência de limites; as fronteiras, mortas de morte matada pelo fim da metáfora muro e do próprio Estado; o Estado; de novo o Estado, sempre à beira de desaparecer por exaustão e tragado pelo crime e pelo mercado; o capitalismo, de novo o capitalismo... Martins, Rui Cunha. A hora dos cadáveres adiados: corrupção, expectativa e processo penal, / Rui Cunha Martins – São Paulo: Atlas, 2013.
Posted on: Sat, 19 Oct 2013 21:52:37 +0000

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