Do convite do papa. Acompanhei a visita do papa Francisco pelos - TopicsExpress



          

Do convite do papa. Acompanhei a visita do papa Francisco pelos noticiários. Não sou católica, mas não ignoro a influência de tudo quanto ele diz ou faz em um mundo com cerca de um terço de sua população seguindo alguma forma de cristianismo, principalmente em um País que até poucos anos atrás era majoritariamente católico e que, mesmo perdendo público, notadamente para credos evangélicos/pentecostais, ainda guarda essa influência católica histórica. Some-se a isso a maciça cobertura jornalística dada à sua visita, que monopoliza as atenções e não permite que ninguém a ignore. Portanto, mesmo como agnóstica, não haveria como não acusar a sua presença. A despeito das diferenças de credo e de pensamento, tenho respeito pelo papa Francisco. Não só o respeito devido a um ser humano por outro, principalmente quando este outro ser humano é mais velho, experiente e provavelmente mais sábio, mas aquele devido a uma pessoa em posição de autoridade que se apresenta da maneira como ele se apresenta: respeitando as diferenças de crença ou descrença (que seu antecessor não respeitava), aspirando por um mundo com menos abismos sociais e econômicos entre seus habitantes, avesso às pompas e luxos que caracterizam a milenar instituição por ele liderada; e, para culminar, demonstrando uma imensa simpatia pessoal. Tudo isso só desperta minha admiração pela figura do papa. Espero, ainda, que ele consiga implementar na Igreja Católica as mudanças que deseja e que, acredito, a própria Igreja necessita. O motivo desta manifestação é o convite feito por Sua Santidade em missa, ontem, na praia de Copacabana. Nela, o papa conclamou aqueles que deixaram a Igreja e de crer em Deus devido à “incoerência de cristãos e de ministros do Evangelho” a voltarem para Cristo e para a Igreja. A frase é extremamente corajosa, já que foi dita pelo próprio líder espiritual dessa mesma Igreja, mostrando que esse líder não fecha os olhos diante dessas falhas, nem impõe àqueles que levantam suas vozes para criticar tais falhas o “silêncio obsequioso” que seu antecessor tanto aplicou para silenciar as críticas. Mas receio dizer que, pessoalmente, declinarei o convite. Não tenciono retornar à Igreja Católica Apostólica Romana em que fui batizada ainda bebê e educada até uma parte de minha infância. Além da profunda descrença pessoal a que as experiências de minha própria vida levaram – e aqui é uma questão de foro íntimo, mas de qualquer forma não faria sentido voltar a uma igreja para adorar a um deus de quem não tenho prova alguma de sua existência e que, portanto, não consigo amar e louvar – existem outros fatores. Não posso retornar a uma instituição que, até o momento, pouco praticou aquilo que prega. Uma Igreja que cobra a caridade, a simplicidade e a pobreza de seus fiéis mas acumula há séculos riquezas incalculáveis para uso de seus representantes. E aqui não falo do patrimônio artístico da Igreja, único no mundo pela sua qualidade, quantidade e incalculável valor histórico e cultural, mas dos bens móveis e imóveis, mesmo: quando os noticiários dão conta de malas de dinheiro transportadas em jatinhos por prelados e de apartamentos de luxo servindo às autoridades eclesiásticas. Sei que o papa Francisco está se levantando contra isso e louvo sua atitude, mas isso precisa chegar aos seus comandados, para que eles cheguem um pouco mais próximos à coerência com os ensinamentos que eles mesmos pregam e juraram seguir. Mais grave que isso, não posso seguir uma Igreja que por tantos anos varreu para debaixo do tapete a vergonha da pedofilia praticada por alguns de seus representantes ou com a conivência destes e que vitimou, infelicitou e traumatizou tantas crianças. Definitivamente não posso seguir uma instituição que pratica coisas que vão contra o que aprendi ser justo e bom. Como eu disse no começo do texto, espero, mesmo, que o papa Francisco consiga mudar o comportamento da Igreja. É um trabalho hercúleo e, sabemos, perigoso: o último papa que tentou "limpar a casa" não durou um mês. Francisco já ganhou meu respeito e admiração e acredito em sua capacidade de levar tais mudanças a cabo. Sei que talvez este texto seja um mero rugido de camundongo na ordem das coisas. Parafraseando a letra de uma canção de um compositor brasileiro, eu sou só uma mulher latino-americana, sem dinheiro no bolso, sem amigos importantes. Só mais uma. Um número. Muitos dos seguidores da Igreja Católica diriam mesmo um zero à esquerda. Mas talvez minhas palavras possam ajudar a compreender – ou, como acredito, mais possivelmente confirmar o que já se sabe – o motivo de tantos católicos se afastarem da Igreja, e a ela não retornarem. Juliana Guido.
Posted on: Sat, 27 Jul 2013 14:43:08 +0000

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