E eles eram Francisco e Clara. Não eram de Assis, mas de uma - TopicsExpress



          

E eles eram Francisco e Clara. Não eram de Assis, mas de uma pequena cidade do interior. E, como todo Francisco vira Chico, eram conhecidos como Chico e Clarinha. Foram amigos de infância, daquele tipo de amigos que na adolescência se transformam, inexoravelmente, em namorados. Ficaram noivos numa ceia de Natal para se casarem quase três anos depois no mês de maio, porque, inexoravelmente, amigos que se transformam em namorados e noivam no Natal casam-se em maio. E tinham a convicção de que seriam felizes para sempre, porque, inexoravelmente, todos os que se casam por amor acreditam nisso. Dois anos depois, veio Matheus. Não demorou muito, chegaram Célio e Célia, os gêmeos. E como acontece com casais que passam a ter filhos, as coisas foram ficando mais difíceis, porque isso também é inexorável. Chico já não tinha tanta convicção no “serem felizes para sempre”, mas Clara, apesar de todo trabalho de casa e do cuidado com as crianças, ainda tinha mais fé. E as noites, na cama, terminavam, quase sempre, com boa noite e durma bem. Ou, me acorde as seis, porque, inexoravelmente, a rotina sempre afasta os casais, mesmo os que foram formados por amigos na infância, namorados na adolescência, que ficaram noivos no Natal e se casaram em maio. Chico começava a chegar cada vez mais tarde do trabalho e Clara, cansada pela luta diária, na maioria das vezes, já estava deitada ou dormindo. E começou o afastamento, porque era inexorável. Há algum tempo, Chico já pensava em separação, mas como poderia sustentar Clara e os três filhos e ainda sobrar dinheiro para o seu próprio sustento? E ele foi ficando, porque chegou à conclusão de que aquela situação era inexorável. Clara só chorava às escondidas, mas se Chico olhasse com um pouco mais de atenção teria percebido que o brilho dos olhos havia desaparecido, ou estava encoberto por um véu de cor escura. E foi numa ceia de Natal que, após abrirem os humildes presentes, Chico perguntou ao filho Matheus, já com sete anos, se ele havia gostado do seu presente de Natal. Matheus disse que sim, mas, não sabia bem porque, achava que o Natal na casa deles não era igual ao Natal que via nos filmes da televisão. Chico tentou explicar que nos filmes as ceias são fartas, os presentes são caros e, normalmente, são filmes americanos e que lá no Natal tem neve. Matheus pensou um pouco e disse que não era isso, pois, apesar da neve, o Natal nos filmes tinha mais calor. Chico abaixou os olhos por um tempo e quando os levantou encontrou com os de Clara. Duas lágrimas já desprendiam dos cantos dos olhos para rolarem, inexoravelmente, pela face. Chico tentou sorrir. Clara também. E como por encanto um véu de cor escura desapareceu dos olhos de Clara e seus olhos brilharam como num Natal já distante. Chico sorriu de verdade e se aproximou da sua esposa dizendo. “Clara quer se casar comigo nesta noite de Natal com o compromisso de sermos felizes para sempre”? Os olhos de Clara brilharam mais do que todas as lâmpadas de todas as árvores de Natal de toda cidade, e respondeu: “Sim, meu querido. É o que mais quero”! E Chico e Clara foram felizes, porque amigos de infância que se transformam em namorados na adolescência, ficam noivos na noite de Natal e se casam em maio, podem se desencontrar por um tempo, mas se tiverem coragem de retornar ao ponto de partida, refazem a caminhada reparando os erros. E isso só poderia ter acontecido numa noite de Natal, inexoravelmente.
Posted on: Sat, 23 Nov 2013 11:48:44 +0000

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