E teve essa vez que o Olavo de Carvalho mandou cartinha de - TopicsExpress



          

E teve essa vez que o Olavo de Carvalho mandou cartinha de resposta! Carta à revista Caros Amigos Rio de Janeiro, 24 de Agosto de 1998 Ilmo. Sr. Sérgio de Souza Editor de Caros Amigos Editora Casa Amarela R. Fidalga, 174 São Paulo 05432-000 SP fax: 011 816 1276 e-mail: [email protected] Prezado senhor, Já que sua revista não respeita mesmo o direito de resposta, não tenho alternativa senão divulgar pela minha homepage – sem prejuízo das providências legais cabíveis no caso – a seguinte Resposta a André Forastieri e Carlos Ribeiro Não respondi de imediato ao sr. André Forastieri porque me pareceu mais justo aguardar que alguém viesse em seu socorro, de modo que os dois, somados, perfizessem um leitor inteiro e eu não fosse acusado de entrar na peleja com superioridade numérica. Que o sr. Forastieri é apenas meio leitor, ele mesmo o declara, ao assegurar que não lê em hipótese alguma – não sei se por princípio ou por impossibilidade intrínseca – livros que tenham citações em francês e/ou latim. Como se não bastasse tão austera renúncia, que exclui de seu horizonte legente praticamente toda a literatura filosófica, econômica, histórica, jurídica etc., ele proclama ainda que se abstém rigorosamente de qualquer obra que tenha recebido aval de Roberto Campos, com o quê o seu estado de privação bibliográfica começa a raiar o calamitoso, tendo em vista a notória afeição do ex-ministro aos clássicos das letras. Já o sr. Carlos Ribeiro, de Londrina, PR, é inequívocamente um leitor – no sentido, é claro, de que não faz parte do corpo de redatores. É um leitor, também, no sentido de ter lido a página 326 do livro do Maestro Júlio Medaglia, Música Impopular, e o título inteirinho do meu livro Astros e Símbolos. Do primeiro ele concluiu que a contingência de o maestro ter usado ali a expressão "imbecilidade coletiva" em 1988 prova que foi pura auto-repetição casual, sem a mais remota alusão mesmo inconsciente a O Imbecil Coletivo, o fato de que voltasse a usá-la nove anos depois, em plena efervescência de uma polêmica nacional em torno desse livro e no contexto de um debate sobre o mesmíssimo assunto dele. Do segundo, concluiu que se tratava de "um livro de astrologia". A primeira conclusão demonstra que o sr. Ribeiro tem razões que o próprio cálculo das probabilidades desconhece. A segunda demonstra que a leitura não passou do título, já que a obra citada trata de simbólica metafísica nas Artes Liberais, e não de "astrologia" no sentido corrente do termo, como há de percebê-lo, entre vãos espasmos cerebrais, qualquer astrólogo que o tente ler confiado numa formação humanística haurida nas obras de Zora Yonara e Walter Mercado – os parâmetros bibliográficos que o sr. Ribeiro parece ter tido em mente ao falar do caso. Não é de espantar que, com esse cabedal de informações, o sr. Ribeiro alcance tão pífio desempenho na sua função, auto-atribuída, de meu biógrafo. Sondando o meu passado com as asas da imaginação, proverbialmente amplas em quem de fatos não saiba nem deseje saber, ele informa aos leitores que, tendo estreado somente em 1983 com o supracitado "livro de astrologia", e não havendo publicado O Imbecil Coletivo senão em 1996, não posso estar bem da cabeça ao alegar minha condição de veterano na crítica da cultura brasileira. Já o meu curriculum vitae, do qual eu teria cedido de bom grado uma cópia ao eminente inventor da vida alheia, documenta que estreei como crítico de assuntos culturais na revista Brasil-Israel em 1969; que em 1976, além de vários artigos sobre cultura e sociedade saídos no Jornal da Semana de São Paulo, publiquei ainda, na obrinha coletiva Imprensa Hoje, suplemento do mesmo jornal, um longo ensaio onde, sob o título "Imprensa e Cultura", se anunciavam com antecedência de duas décadas alguns dos temas básicos de O Imbecil Coletivo, inclusive a propensão imperial – então apenas nascente – com que o jornalismo de cultura ia subjugando as manifestações culturais em vez de refleti-las. Entre o ano de publicação de Astros e Símbolos e o de O Imbecil Coletivo, a revista Sala de Aula, distribuída a todas as escolas secundárias do país pela Fundação Victor Civita, publicou vários artigos meus sobre crise da educação, ilusões da intelligentzia, etc. E no próprio Astros e Símbolos o sr. Ribeiro encontraria, caso o tivesse lido, algumas páginas relativas à dissolução da inteligência nacional pela influência corrosiva das pseudo-religiões, observações que depois seriam retomadas não apenas em O Imbecil Coletivo como, antes dele, em A Nova Era e a Revolução Cultural (1994). Não foi, portanto, em 1996 que resolvi – para usar o termo do sr. Ribeiro – "dar uma de" observador crítico da cultura brasileira. O leitor há de compreender que, se entro nestes detalhes, não é por afeição nostálgica a meus feitos passados, mas simplesmente para ilustrar o grau de confiabilidade que têm as especulações bisbilhotógrafas do sr. Ribeiro. Escritas, ademais, naquela típica "eloqüência canina" de moralista de palanque, de um mau gosto atroz, sem o mínimo senso de humor ou das proporções, elas não poderiam terminar senão numa desvairada coda onde o sujeitinho, jogando sobre mim todos os dejetos de sua atividade, digamos, cerebral, sente os arrebatamentos de emoção cívica de quem assinasse a libertação dos escravos ou proclamasse diante do espelho, vestido de Robespierre, com a meia da avó na cabeça a título de barrete frígio, a sentença de morte de todos os malvados. Sou aí, em gran finale, acusado de nada menos que "a mais infame e escandalosa tentativa de difamação que um intelectual já ousou perpetrar" – o que, confesso, nem ouso responder, tamanha a glória que semelhante asneira me confere. Depois disso, voltar ao sr. Forastieri é um anticlímax. É cair de Lord Byron a Amado Batista, de tuba sonorosa a reco-reco. Vamos, pois, às miudezas. A primeira delas é o próprio Sr. Forastieri. Tendo marcado presença num trecho de O Imbecil Coletivo II apenas na condição modestíssima de exceção parcial às críticas que eu fazia à orientação geral da revista, ele proclama, contra toda evidência, que é o alvo principal delas, "o grande alvo". Tão intenso é seu desejo de remover-se da periferia para o centro, que ele chega ao paroxismo de declarar que o título desse trecho, "O Imbecil Imitativo", é uma referência direta à sua pessoa. Não sei se o tranqüilizo ou se o irrito mais ainda ao dizê-lo, mas o fato é que, por definição, a exceção parcial a uma afirmação geral não pode ser o objeto central dela. Não discutirei este tópico, pois é coisa que, se já não fosse ponto pacífico na lógica de Aristóteles, pelo menos se pode dar por definitivamente resolvida desde o advento da moderna teoria dos conjuntos. Quanto ao título, "O Imbecil Imitativo", longe de aludir à pessoa de quem quer que seja, não designa sequer a revista Caros Amigos em especial, mas o hábito geral de parasitar o discurso alheio em vez de contestá-lo lealmente. Esse hábito está tão disseminado entre os políticos de esquerda e direita que se pode considerá-lo, sem erro, um dos pilares do Estado moderno. Sua introdução nos debates culturais é efeito da politização sectária da vida intelectual. A suspeita de que no caso de Caros Amigos se tratasse precisamente disso é justificada pela seguinte consideração: quando a revista foi lançada, ou os orientadores da revista conheciam o debate aberto pel’O Imbecil Coletivo e decidiram entrar na luta fingindo ignorar que ela já havia começado, ou, ao contrário, ignoravam realmente a mais ruidosa polêmica cultural dos últimos meses e estavam portanto muito mal qualificados para dar palpites sobre atualidade cultural brasileira. As duas hipóteses são deprimentes e uma delas é necessariamente verdadeira. Pode-se, como o faz aliás o próprio sr. Forastieri, alegar que tudo foi pura coincidência. Mas é preciso ser realmente muito burro para não perceber que isto apenas confirma a segunda hipótese. Quanto à alegação pretensamente indignada de que o acusei de plágio, só revela na ótica do sr. Forastieri um grave caso de paralaxe – o deslocamento entre o foco e o objeto. Imitar esquemas da argumentação alheia com o propósito de inverter-lhe o sentido não pode ser plágio em hipótese alguma: vai aí toda a diferença entre a cópia servil e a elaboração criativamente maliciosa. Foi disto, e não daquilo, que acusei Caros Amigos. O sr. Forastieri, não podendo defender a revista da acusação que lhe fiz, julgou mais fácil, com razão, defendê-la de uma que não lhe fiz. Não tendo argumentos, apelou para o fingimento. A prova de que ele sabe que está fingindo é que, logo após refutar a imputação que nunca lhe fiz, ele anuncia sua intenção de aguardar que o autor de O Imbecil Coletivo enriqueça com seus livros para então, no momento propício, "tomar-lhe uma grana" (sic), usando para esse fim os serviços de advogados, os quais, assegura, "afinal foram feitos para essas coisas". Ora, quem com sinceridade se sentisse acusado injustamente de plágio e contemplasse seriamente a possibilidade de obter uma reparação na justiça não iria desmoralizar de antemão a própria causa, apresentando-a como se fosse um tipo de extorsão premeditada e descrevendo-a em termos cafajestes que, apresentados a um juiz, não renderiam ao autor da ação senão um processo por desacato. O sr. Forastieri finge que foi acusado de plágio, finge que está ofendido, finge que se defende, finge que vai me processar. Fingidor sem ser poeta, finge a dor que não sente para não ter de revelar a que sente. Encena um arremedo de indignação para não mostrar que está apenas com vergonha. Ora, tudo o que é puro fingimento é sumamente tedioso e sem sentido como um teatrinho de velhas esclerosadas num asilo. O sr. Carlos Ribeiro, malgrado sua condição de escriba amador, é muito mais interessante. Pelo menos é o bastante destituído de senso de humor para se tornar engraçado involuntariamente, ao passo que o sr. Forastieri, querendo parecer engraçado com seu humorismo ginasiano, nos dá apenas o melancólico espetáculo de uma falsa consciência que se debate entre as garras do irrespondível.
Posted on: Fri, 20 Sep 2013 16:27:49 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015