Esta história homenageia as bodas de ouro dos meus avós por - TopicsExpress



          

Esta história homenageia as bodas de ouro dos meus avós por parte de pai,neste 30 de setembro de 2013 comemoramos os 114 anos de matrimônio de vovô Serafim e vovó Palmira. “Bodas de Ouro em Ipojuca” Do Diário da Tarde (Alfredo Pessoa de Simões) Ipojuca, a trinta minutos de automóvel de Arcoverde é um arruado que já desfrutou de relativa importância. Antes que a estrada de ferro deslocasse para Mimoso, o centro das relações comerciais das redondezas, a sua feira apresentava notável volume comercial. Hoje é um reduto dos Britto Cavalcanti. Nesta época do ano a paisagem é feia, vista por olhos de citadino. A terra está nua ou vestida de insuficiente e sala graveteria. Até os dois tamarineiros que estão no meio da Rua Principal, estão com aspecto desagradável, atacado de parasitas e quase sem folhas. Mas o que em Ipojuca merece a atenção melhor é a paisagem humana. Aos 30 de setembro de 1899, segundo o rito católico, uniram-se em matrimonio Serafim de Britto Cavalcanti e Palmira Teodomira Cavalcanti. Ambos tinham nas veias boa dosagem de sangue inglês, repontando ainda hoje vigorosamente nos cabelos alourados e nos olhos azuis de algumas dezenas de netos. Serafim de Britto é hoje aos 75 anos de idade uma expressiva figura de sertanejo. Porte ereto. Estatura alta. Face curtida pelo sol do sertão, encontro nele aquela dureza de expressão que “Sir” Anbreg Smith, o velho ator cinematográfico traz às vezes para a tela. Dona Palmira de Britto deve ter sido no vigor dos seus anos, moça robusta e de muita higidez. Hoje é uma figurinha delicada que o tempo e o ofício materno foram esvaziando de músculos e enchendo de graça respeitável. Mas os dois velhos poucos cabelos brancos tem. Sentados à mesa do banquete que reuniu muito mais de uma centena de descendentes em linha reta, não tinham a aparência de quem “acaba a carreira”, mas de quem está disposto a continuar vivendo a vida do mesmo modo pelo qual a iniciaram, foi uma maravilhosa reunião da família. A vilazinha estava cheia. Muita animação. E no numero dos presentes apenas três estranhos. O padre Luiz Simões, pelo seu ministério religioso identificado com as suas ovelhas deixava de ser na verdade ume estranho. Apenas o articulista e o Airon Rios, dentista na região e broto político, eram realmente estranhos, admitidos ao santuário familiar de Ipojuca, pelo convite de algumas das gerações mais novas. Núcleo de católicos romanos Ipojuca se reuniu na capelinha local para ouvir a missa e o sermão gratulatório. Ao almoço os discursos da praxe e a Palavra fácil e feliz de Airon Rios evocando o noivado ainda presente de cinco decênios pretéritos. E como no dia do casamento, à moda antiga, os noivos presentes a todas as mesas, recebendo as honras dos comensais. O orador do dia foi sem dúvida o Ulisses, neto e afilhado do casal celebrante vadio e inteligente estudante, “doublé” de funcionário autárquico e de exímio “danceur”, espantando os olhares modestos da vila com os seus passos muito mais lépidos do que as suas palavras de Demóstenes antes dos exercícios na praia. Foi uma conversa de neto, dosada de entonação especial e necessária à compulsória emoção dos circunstantes. Seguiram-se as fotografias e o Crispim realizou prodígios para agasalhar nas chapas da sua maquinhazinha antiquada toda aquela multidão de Britto Cavalcanti. Posaram especialmente os quatro irmãos Britto Cavalcanti: Serafim, o celebrante; Donana, veneranda genitora do Sr. Viturino Freire; D. Tetê Britto a caçula do grupo e o mano mais velho, Zuza Britto, admirável figura de homem do sertão, contando 89 anos e convalescendo muito bem de recente e gravíssima operação, carregando uma bengala a que não se anima propriamente, pois bem mais certo é que brande com viveza a estilização civilizada do cacete. De uma hospitalidade digna de ser citada até em Manaus, os Britto Cavalcanti deixaram os dois estranhos na impressão de que a festa era também deles ou que eles estavam em casa. A orquestra contratada por dificuldade de transporte não compareceu. Recorreu-se à velha concertina regional e foi então que o “Zeca” demonstrou que os Britto topavam tudo, todo o tempo. Os velhos chotes e as poucas ressuscitadas pelo émulo de Luiz Gonzaga animaram desde a tarde, rapazes, moças e alguns amadurecidos dançarinos de outras quadras. “Garoto” trouxe os estilos do Acre; “Maravilha”, “Alcobaça”, “chia-chia”, “Tica” não deram tréguas aos seus pares e enfrentaram heroicamente uma quadrilha marcada à antiga. So o “Bacurau” permaneceu rodando a sala e preferindo o refrigério da cerveja ao calor dos sambas movimentados. E olhando tudo e todos, o velho Serafim, vigilo, sem sinal de fadiga, com a liberdade de movimentos que certamente não teve em dia igual, há 50 anos, tomava parte nas conversas, controlava o consumo de bebidas e enchia os “bate-papo” com a sua presença verdadeiramente patriarcal. Magníficas, as horas que vivemos no meio daquela gente em que a adustão das terras não cria reflexos, senão os necessários para setemperar o ânimo de luta e a confiança com que nos dias áridos se esperaram os dias férteis e promissores. Diz o salmista que a média da nossa vida é de setenta anos e o que disso passa são enfados e canseiras. Tive a impressão de que Serafim e Teodomira Britto não amargam ainda enfados e canseiras. Vendo diante de si três gerações com o seu nome e com o seu sangue, mas parecem ter realizado o propósito daquela oração escriturista: ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios. Ipojuca não se mede pelas suínas da “fábrica” de caroá, abandonada agora, ante a hegemonia do agave. Nem pela vagarosidade das suas construções. Mas pela sua gente – Os Britto Cavalcanti realizando naquele fendo, moldes de vida que são singularmente brasileiros. Não vimos doentes. Poucos de pele morena em vão buscamos no ar, limpo e hígido, um cheiro mesmo vago de descontentamento social ou de agitação. Graças a Deus ainda há por esse Brasil muros caídos, sem o pixamento agitador das mentiras de encomenda. Se estas colunas fossem um plenário legislativo, proporíamos para Serafim Britto Cavalcanti, o reconhecimento público e a condecoração a que tem mais direito do que os fazedores de morte. Na verdade eles tem sido doadores de vida e a que receberam multiplicaram segundo o verdadeiro espírito da Palavra. Honra e estima pois aos noivos felizes de 1899 e à sua pequena Ipojuca. Copiado por Palmira de Britto Cavalcanti Ipojuca, 24 de outubro de 1963.
Posted on: Wed, 16 Oct 2013 23:26:52 +0000

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