Eu não bebi. Eu não bebi o sangue das tuas lágrimas que compulsivamente jorraram do teu rosto. Eu não te salvei, meu bem. Enquanto o teu abismo era maior do que a distância que nos separava. Choraste infinitas madrugadas pelo amor que nunca te dei, pelo amor que nunca pude demonstrar. Eu bebi. Eu bebi tuas lágrimas de pranto na boca de outras mulheres em noites quaisquer. Eu te matei, meu bem. Enquanto o meu prazer estava situado em noites calorosas e boêmias. Choraste infinitas madrugadas pela dor que sentiste por um amor sem reciprocidade, sem equivalência. As minhas ressacas foram todas doloridas pela manhã. Pois quando eu acordava pela manhã o lado vazio da cama ocupava o meu ser. Eu sim, querida, tive uma juventude repleta de desencantos e fiz tanta besteira. Deixar-te chorar para sentir o prazer que nunca senti, embriagar-me para esquecer os problemas. Quais problemas? O fato é que eu errei todas as vezes sem saber. A vida cobra com juros e correção monetária! Eu bebo! Hoje eu bebo a minha dor e me embriago dela. Sem álcool, sem álcool eu tenho ressaca. Eu bebo a minha angústia e os teus sorrisos sem querer. Não saio, meu bem. Mas eu ainda viro as noites em branco para aproveitar cada instante dessa efemeridade que no meu peito pulsa. Hoje faz anos. Anos que me exilei no meu próprio existir, no meu próprio sofrer. Perguntam-me por que mudei. Não tenho respostas. A vagar nas noites obscuras eu procuro uma razão para me satisfazer. Não a encontro. E assim por aqui fico, meu anjo. Como um velho de tão pouca idade, como uma criança que guarda tanto amor. Moacir Macedo. As noites se tornam piores a cada dia.
Posted on: Sun, 18 Aug 2013 15:38:46 +0000
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