Excelente poema de Lorena Miranda: All the Dead Dears Drive your cart and your plow over the bones of the dead — William Blake Não é fácil vê-los partir com nossos ossos na bagagem e todo o escárnio de quem ri dos que ficamos na outra margem, para lá do estupor da infância e de engodos que eles repartem com seus comensais, na lambança — bandeiras, caos, gritos de ordem — da qual só sai quem paga fiança, em espécie de vida, aos que morrem: eles que, ao morrer, nos alijam dos rascunhos que fomos ontem. São nossos pares que aí vão, esses zumbis entorpecidos crentes de que ainda nos perfilham, de que nos cegam sãos e vivos, quando em verdade vamos longe, sem mais temer deuses antigos. Levam, porém, consigo os nomes do que fomos, no saco de ossos pesado e basto onde se escondem entre lascas de carne os nossos erros e fiascos pessoalíssimos. Há que chorar por esses mortos, porém chorar sem confundi-los — é verdade — com algum emblema da fatalidade, do estilo com que nos obriga o diadema inelutável da má sorte. Matamo-los como quem enterra com as próprias mãos a própria morte, após cogitar dessa entrega em que consiste ser consorte de uma pulsão que a tudo nega, inclusive ao que se é sozinho e que em meio à turba não medra. Seguimos por outro caminho. aviacrucisdocorpo.blogspot.br/2013/06/all-dead-dears.html
Posted on: Sun, 16 Jun 2013 00:34:47 +0000
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