Exercício da OFICINA DO ESCRITOR, durante a XXXI Semana Cultural - TopicsExpress



          

Exercício da OFICINA DO ESCRITOR, durante a XXXI Semana Cultural José Lins do Rego (de 04 a 07 de Junho de 2013), ocorrida na Escola Estadual José Lins do Rego. Participante: José Moreira da Silva, que transcreveu e comentou trecho do livro O CAPITÃO SAIU PARA O ALMOÇO E OS MARINHEIROS TOMARAM CONTA DO NAVIO, de Charles Bukovisk: “Hoje, foi devagar no hipódromo. Minha maldita vida pendurada no gancho. Vou lá todos os dias. Não encontro ninguém lá, só os funcionários. Provavelmente, tenho alguma doença. Saroyan perdeu seu rabo no hipódromo, Fante, nas cartas, e Dostoievsky, na roleta. E realmente não é uma questão de dinheiro, a não ser você fique duro. Eu tinha um amigo jogador que dizia: “Não me importo se perco ou se ganho, só quero apostar”. Tenho mais respeito pelo dinheiro. Tive pouco na maior parte da vida. Sei o que é um banco de praça, e o proprietário bater na porta. Só existem duas coisas erradas com o dinheiro: quando é demais ou de menos. “Acho que sempre arranjamos alguma coisa para nos atormentar. E, no hipódromo, você sente as outras pessoas, a escuridão desesperada, e como jogam e desistem com facilidade. A multidão do hipódromo é o mundo em tamanho menor, a vida lutando contra a morte e perdendo. No final, ninguém ganha; buscamos apenas uma prorrogação, um momento sem ser ofuscado. (Merda, a brasa do cigarro queimou um dos meus dedos enquanto estava meditando sobre esta falta de sentido. Isto me acordou, me tirou deste estado sartriano!) Diabos, precisamos de humor, precisamos rir. Eu costumava rir mais, eu costumava fazer tudo mais, exceto escrever. Hoje escrevo e escrevo e escrevo, quanto mais velho fico, mais escrevo, dançando com a morte. Excelente show. E acho que a coisa está boa. Um dia, dirão: ‘Bukowski está morto’, e daí serei verdadeiramente descoberto e pendurado em fedorentos e brilhantes postes de luz. E daí? A imortalidade é uma estúpida invenção dos vivos. Você vê o que faz o hipódromo? Faz com que o texto flua. Relâmpagos e sorte. O último azulão cantando. Qualquer coisa que digo soa bem porque eu arrisco quando escrevo. Gente demais é cuidadosa demais. Estudam, ensinam e fracassam. A convenção apaga a sua chama. “Me sinto melhor agora, aqui neste segundo andar com o Macintosh. Meu companheiro. “E Mahler está no rádio, desliza com tanta facilidade, arriscando muito, isso é necessário às vezes. Então, ele manda um daqueles trechos apoteóticos. Obrigado, Mahler, pego emprestado de você e nunca poderei pagar. “Fumo demais, bebo demais, mas não consigo escrever demais, o texto fica vindo e peço mais e chega e se mistura com Mahler. Às vezes, paro deliberadamente. Digo espere um pouco, vá dormir ou olhe seus nove gatos ou sente com sua mulher no sofá. Você está no hipódromo ou com o Macintosh. E então paro, piso no freio, estaciono a maldita coisa. Algumas pessoas escreveram que meus livros as ajudaram a seguir em frente. Me ajudaram também. Os livros, os cavalos, os nove gatos. “Aqui, há uma pequena sacada, a porta está aberta e posso ver as luzes dos carros na Harbor Freeway sul, nunca param, o rolar das luzes, sem parar. Todas aquelas pessoas. O que estão fazendo? O que estão pensando? Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz. Somos aterrorizados e esmagados pelas trivialidades, somos devorados por nada. “Continue, Mahler! Você fez com que esta fosse uma note maravilhosa. Não pare, filho da puta! Não pare.” Comentário: O texto apresenta inicialmente um aspecto melancólico, automático e rotineiro, que vai limitando as dimensões do mundo aos limites do hipódromo e ao cotidiano conformado ou inconformado com o dia a dia, tentando compreender e direcionar o verdadeiro sentido da vida. A insatisfação do ser provoca uma busca constante de algo que muitas vezes ele próprio não compreende; seus desejos materiais ou outras coisas que lhe dêem prazer. A repetição de ações buscando fugir da realidade alimenta o jogo entre a vida e a morte. Quando e como nos sentimos bem? Quais as respostas que precisamos para seguir em frente? Muitas vezes não procuramos, mas encontramos. Outras vezes procuramos, e não encontramos. É preciso ouvir a própria consciência e ter certeza da existência e utilidade daquilo que faço ou posso fazer de útil para o meu bem estar e de outras pessoas. Como devo conduzir-me diante dos desafios da vida? As lições que devo aprender e por em prática dependem da forma como vejo o mundo e da análise daquilo que é conveniente ou satisfatório, conforme a minha concepção. Um fato interessante é o horário desta conversa. Normalmente quando o sono vai embora e ficamos com os nossos fantasmas, sonhos e desencantos, refletimos sobre o nosso existir e o sentido da nossa existência. A vida é uma luta constante entre o bem e o mal, o começo e o fim, as dúvidas e as incertezas. É o fio que conduz as esperanças para um novo amanhecer.
Posted on: Tue, 11 Jun 2013 13:17:37 +0000

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