Fragmento de carta enviada hoje por Caralâmpio Trillas aos - TopicsExpress



          

Fragmento de carta enviada hoje por Caralâmpio Trillas aos libertários de Portugal dando conta dos últimos acontecimentos. "Para além do que aqui foi relatado pode-se dizer que o ato colheu ontem (19 de junho) uma primeira e importante vitória. O governo do Rio de Janeiro, Município e Estado, decretou a redução da tarifa, fez com que a passagem retornasse ao valor anterior de 2,75 reais. A redução alcançou também os bilhetes de metro, comboios e barcas. Uma vitória que, por si só, já justificaria o fim das manifestações, uma vez que o decreto governamental atende ao principal reclamo dos manifestantes. Entretanto, o ato marcado para hoje (20 de junho), quando acontece também uma partida no estádio do Maracanã, prevista no calendário da Copa das Confederações, não foi desmarcado por ninguém e a própria mídia burguesa já estima que lá estarão mais de 1 milhão de pessoas. Um sintoma que nos permite supor que o movimento pode avançar para uma pauta social mais ambiciosa. No caso da Organização Popular, tendência social e política na qual estou inserido, estivemos nos atos atuando a partir de duas entradas. Uma, que configura a preocupação com a defesa dos manifestantes, quando engrossamos o grupo de advogados da Ordem dos Advogados do Brasil, na sua comissão de Direitos Humanos, e outra, quando procuramos ombrear com a Frente Internacionalista dos Sem-Teto (FIST) na coluna dos movimentos sociais. Esta ultima orientação tinha como objetivo central reforçar a necessidade de imprimir ao ato uma fisionomia classista, uma vez que, por força do protagonismo estudantil, nem sempre ficava clara a presença dos movimentos sociais e de suas outras reivindicações. Sobre as raízes do atual movimento, acredito que seja diferente dos recentes eventos dos “ocupa” e também da “marcha dos indignados”. Vai muito além também da demanda de “liberdade irrestrita” dos “Anônimos”. Acho que a pauta econômica deu mais consistência ao processo atual. As questões do universo cidadão burguês aparecem sim, mas não o suficiente para apagar a centralidade do reajuste das passagens. A reação ao reajuste, até por ser de “apenas” 20 centavos, revelou também uma outra face. Uma que os projetos assistencialistas do governo Dilma tentam escamotear, aquela que a massa empobrecida experimenta cotidianamente. Me refiro ao estigma social do capitalismo, tanto mais cruel em um país de economia periférica. Nesse caso, 20 centavos podem demarcar a fronteira entre a vida e a morte. Isso diz muito. Tão pouco determinando tudo, determinado a existência de um povo que já virou massa e de uma massa que, se organizada, pode mudar a História. Essa conjuntura peculiar, ainda que familiar, pode alavancar algo verdadeiramente novo caso as manifestações sejam adensadas pelas organizações sociais não docilizadas pelas políticas de assistência. Se essas ingressarem no movimento com determinação e com a força das suas pautas, nas quais estão os elementos que de fato colocam o atual sistema em flagrante contradição. Caso os elementos de antagonismo tornem-se explícitos através da persistência da ação organizada e tenaz dos movimentos. E finalmente se a necessidade das favelas, ocupações sem-teto e desempregados assumir contornos de programa mínimo, certamente teremos algo diferente acontecendo. Um outro dado da conjuntura imediata, de ontem para hoje, diz respeito ao lento mas importante deslocamento dos sindicatos no sentido de integrarem o movimento. Se essa disposição se traduzir em aliança tácita ou ainda em solidariedade ativa aos demais grupos oprimidos, penso que teremos algo de extremo valor acontecendo. A estrutura dos sindicatos, bem como a experiência acumulada com as lutas, certamente podem definir a favor do movimento as circunstâncias a partir das quais vamos construir a luta nos próximos meses. Em qualquer das hipóteses é fundamental que os anarquistas estejam zelando pela organização do movimento. Fazendo com que a ideologia seja colocada a serviço dos oprimidos e não o inverso. É o tempo da minoria ativa, do trabalho de base, da ação consequente junto aos movimentos sociais autônomos, sempre com eles, nunca na sua frente ou sem eles. É isso caro compa, fiz aqui um relato breve, muito em função do meu tempo, uma vez que estou atuando simultaneamente em várias frentes sociais. Fraternalmente"
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 18:29:04 +0000

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