Friedrich Holderlin É agradável quando seres iguais se unem, mas é divino quando um grande homem eleva para si quem é inferior a ele. Há dias que estou tentando tempo e concentração para falar de Friedrich Holderlin. Mas tem sido dias de tumulto estes. E temo que eles passem sem que fale deste grande poeta alemão nascido próximo ao Reno, filho de uma enfermeira e de um pastor e órfão de pai aos dois anos. Não sou linguista, não me preocupo com formas, não me atenho ao formalismo definidor do que seja poesia ou não, poesia boa ou ruim... Mas Holderlin toca-me o coração profundamente, e isto me basta para colocá-lo em destaque no meu gosto. Há, dele, um poema magistral onde fala dos filhos da classe média, que esta vê e trata sempre como um estorvo resolvível com o pagamento disso e daquilo, em termos financeiros só. E que sentem isso, e que se sentem assim. Só este poema já justificaria a existência de Holderlin. Não o reproduzo aqui, porque, junto à maravilha que é ter uma biblioteca absolutamente desorganizada, onde física, poesia, matemática, tai chi chuan, teologia, romances, filosofia e até artes plásticas se misturam e se abraçam, há um inconveniente de se precisar de um livro e de não achá-lo. Como eu gostaria de ter achado este poema que cito. Talvez vocês consigam. Fico devendo. Holderlin, além de poeta (o que em si é apenas um ofício de lidar com palavras), foi um grande sujeito, um generoso sujeito. Conheçam-no. Vale a pena. Os parvos de sempre até hoje discutem se ele terminou louco ou não. Fato é que terminou seus dias em penúria, sob o cuidado generoso do carpinteiro Ernst Zimmers, seu admirador. Este cuidou dele por quase 40 anos, nos quais permaneceu em um quarto de uma torre, construído para isso, até morrer em 1843. Conta-se que a quem o visitasse - e fosse quem fosse - ele recebia com expressões assim: - seja bem-vinda, vossa majestade, sente-se, vossa alteza. Viam nisso a loucura. Mas, como cogitaram Borges e Sabato, podia ser que ele tão-somente se julgasse tão ínfimo, tão insignificante que, de fato, qualquer um diante dele ele fosse como um rei ou príncipe. Que são as acções e os pensamentos dos homens ao longo dos séculos perante um único instante de amor?, questionava Holderlin. Mas se esquecendo de que, às vezes, aqueles podem mais que este; e acabam nos conduzindo para torres de isolamento, onde nos vemos dependendo das mãos amigas de Ernst Zimmers, quando felizmente há.
Posted on: Sat, 16 Nov 2013 23:29:57 +0000
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