Hoje acordei com medo de te amar para o resto da vida. Parece que - TopicsExpress



          

Hoje acordei com medo de te amar para o resto da vida. Parece que nunca sairá de mim todo esse sentimento que ouso sentir, parece que você nunca conseguirá compreendê-lo e correspondê-lo na mesma intensidade. Hoje acordei com medo de que me chamem de louca ou otária. Hoje eu acordei chorando por sua causa e por aquele tempo que jamais voltará. O tempo em que brincávamos em cabines fotográficas e disputávamos no par ou ímpar quem iria escolher o sabor do suco no Bar do Tio Hernani. Chorei por saber que isso não te faz a mesma falta que me faz, e que, apesar de dizer sentir saudade, você não a sente realmente. É difícil admitir isso, porém, talvez eu precise confessar que tenho quase certeza de que nunca fui amada por você. Pode parecer absurdo, tristonho, penoso e tudo mais, mas essa talvez seja a verdade. Ao contrário do que você dizia, a sua vida vai muito bem sem mim. Hoje acordei com o seu cheiro espalhado pelo meu quarto e seu velho casaco verde, que havia sido costurado pela sua avó, rasgado. Perdão. Eu me descontrolei e rasguei-o para não rasgar a mim mesma. A dor que senti cortava mais que qualquer navalha que as meninas de hoje em dia possam pensar em usar. A dor que senti parece, aos olhos de qualquer pessoa, absurdamente exagerada. Mas eu juro que doeu em cada célula de mim, em cada veia, em cada órgão, em cada músculo, em cada pulsar do meu podre coração que já se cansou de apanhar. Eu juro que queria poder me reerguer, dizer o quão forte estou e até, quem sabe, amar outra pessoa. Mas eu sei que nunca amarei deste modo novamente. Porque você foi, é, e sempre será o cara da barba mal feita que se fazia perfeita ao deslizar por minha pele, o cara do gosto musical estranho, das calças justas e do cabelo bagunçado. Porque você sempre será o cara que meu pai dizia não querer para mim. Você sempre será esse desleixo em pessoa, estranhamente perfeito em suas cavernas particulares mais obscuras. Porque você sempre será aquele cara de novela em que o público pega ódio por judiar tanto da mocinha. E ela, trouxa, continua amando. Porque a trouxa sou eu e o odiado é você. Eu te odeio, juntamente com todo o público que me viu desabar com sua partida. Eu te odeio por causa desse sorriso idiotamente lindo, te odeio por esse seu cheiro que se exala com facilidade, te odeio por esse seu jeito de menino-homem que me dá vontade de cuidar, mimar e ajeitar sua vida. Eu te odeio, com todo meu amor. E eu odeio o fato de saber que, mesmo que vinte anos se passem, eu ainda irei te amar e me lembrar da tarde chuvosa em que seu corpo, pela primeira vez, fez morada no meu. Eu odeio o fato de te querer a cada instante do meu dia, pelo fato de pensar em te ligar, pelo menos, sete vezes antes do almoço. Eu odeio essa obseção que sinto, essa vontade de te ter de volta. Odeio a faculdade que você cursa, as amigas que você tem, os trabalhos que você faz, as unhas que você rói, o dinheiro que você desperdiça em cachaça, o seu hábito de mentir para mim. Eu odeio assumir que fui ingênua e acreditei em você, mesmo que todos dissessem que você não era o cara ideal. Mas eu não me arrependo. Digo, eu aceito essa condição. Porque há alguns dias, li a melhor definição de amor que alguém já pôde pensar em escrever: "amar é se jogar de um precipício sem saber se lá embaixo vai ter alguém para segurar a gente”. E eu me joguei. Cara, eu me joguei sem medo do que viria. Contudo, infelizmente, você me decepcionou. Você não me segurou e eu fui direto para o chão. A queda me fez acordar daqueles sonhos lindos de princesas e príncipes. A queda me fez ver que você não estava por perto quando mais precisei. E continua não estando. Você foi embora e hoje, volto a dizer, acordei com medo de você. Com medo de que você nunca morra para mim, como eu morri para você. Medo de que eu me case, tenha filhos e seja sempre parcialmente feliz sem você. Medo de que meu marido descubra aquela nossa velha foto que quase queimei e hoje escondo no bolso do jeans surrado que não uso mais. Porque você é e sempre será o cara dos meus sonhos... Medo de que nunca deixe de ser você para mim, mesmo com a certeza de que para você já deixou de ser eu há muito tempo. Por isso, aqui confesso que hoje tive um péssimo dia, como todos os outros que tenho tido desde que você se foi e como todos os outros que sei que terei até você voltar. — Hora de Sonhar
Posted on: Fri, 12 Jul 2013 01:19:07 +0000

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