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Hoje eu fiz a brincadeira perigosa de levar meus pais para visitarem o túmulo dos meus avós. Fui de Faxinal a Lidianópolis pela estrada esburacada ladeada por paisagens que parecem lugares abandonados. Poeira, barro no asfalto. Lugares inacreditavelmente feios, que fazem pensar no quanto é falaciosa a ideia de que cidades pequenas oferecem qualidade de vida. Uma Lidianópolis de ruas por onde não passam dois carros e casas de madeira diante de calçadas de terra e bostas de cachorro. Aqueles nomes conhecidos nas lápides fazem pensar que, se não existir uma dimensão espiritual, as vidas daquelas pessoas não terão valido a pena. Estariam todas presas à necessidade e nunca experimentado a liberdade. Faz pensar em Cruz e Souza e no cárcere que prende todas as almas. Um cemitério em que os túmulos construídos há cinquenta anos estão lá, mas em que as covas de terra se tornaram gramados anônimos, de gente que até os parentes esqueceram. Metáfora da vida: apenas aqueles que constroem obras de valor duradouro podem permanecer e adquirir uma relevância para a espécie humana. O mais se dissolve em grama e esquecimento. A decadência de lugares como Porto Ubá, Vila Diniz, São Domingos, a sujeira que cerca Cruzmaltina com barro e se mistura a construções horrorosas, e a certeza dessa vida sem nenhuma transcendência que as pessoas levam nesses lugares fazem com que a diferença em relação às que têm os nomes naquelas lápides seja muito tênue. As grandes obras pertencem à arte, à filosofia e à ciência. Não há transcendência fora delas. Pelo menos, para quem ainda está aqui.
Posted on: Sun, 27 Oct 2013 04:09:03 +0000

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