Humildade (no sentido de "modéstia") Quando a gente reconhece que fulano de tal é uma pessoa "humilde", à primeira vista, se fossemos indagados a explicar como é essa nossa sensação em relação à humildade, diríamos estar diante de uma pessoa "fodona" em algum aspecto ou que possui uma qualidade especial que a distingue dos demais, mas que, por um ato de pura "humildade" dessa pessoa, ela resolve não exacerbar perante "os outros" , transmitindo aquela boa sensação de ser alguém dotado de nobre e admirável desapego em relação a si mesmo. Mentira. Pensa bem. Te encara mais a frio e nota que na maior parte das vezes essa "boa sensação" em relação ao "humilde" não é, verdadeiramente, o reconhecimento de um "nobre e transcendente desapego" dele em relação às próprias qualidades e dessas em relação aos "outros"; mas, sim, decorre do fato único de que o humilde te protege de ti mesmo, do teu mais íntimo sofrimento. Pensa .. Amamos o humilde porque ele pratica a omissão benevolente de ofuscar/tampar as nossas próprias deficiências; porque ele deixa de manifestar aquela qualidade faltante em nós (e que invejamos), a qual, se porventura o fizesse, faria lembrar-nos do vácuo interior que só toma forma quando comparamos nós mesmos com o outro. Essa sensação boa que sentimos pelo "humilde" carrega uma forma sutil de egoísmo - coisa muito parecida com aquela simpatia inata que todos sentimos pela pessoa que traz uma boa notícia: nem conhecemos ela (!), mas imediatamente simpatizamos pelo simples fato de que ela trouxe algo que acariciou nosso ego, e, só por isso, se nos perguntassem sobre tal pessoa, diríamos que é uma pessoa excelente! (?) Talvez, se percebêssemos a exata medida disso, poderíamos notar que tampouco essa "humildade" é em si muito nobre - ou melhor, verdadeira - justamente porque não é honesta. O humilde deixa artificialmente de demonstrar seus "brinquedos" para evitar nos outros a má sensação de lembrar-lhes das suas próprias deficiências. Ele sabe disso -inconscientemente - porque o humilde também é um deficiente em relação a todas aquelas qualidades que nele faltam; e ele também ele quer a simpatia de todos. Todo o humilde é um deficiente e todo o deficiente é um humilde. Toda a relação entre um e outro é baseada em uma ilusão, propiciada pela falta de conhecimento de nós por nós mesmos. A humildade é artificial e o reconhecimento da humildade é artificial, da mesma forma, pois dentro de nós está sempre pulsando alguma comparação, algum sofrimento, alguma simpatia por qualquer coisa que nos evite o mal - só não sabemos ver a lama por trás dos sentimentos. Desapego verdadeiro é aquele em que não está em jogo nenhum componente do ego. Humildade está bem longe de ser desapego.
Posted on: Thu, 26 Sep 2013 14:41:28 +0000
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