Joaquim Barbosa, política e racismo. Fábio Nogueira de Oliveira[1] Apesar de nem sempre concordar com suas posições políticas, na entrevista publicada no Globo, Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), acerta ao colocar os pingos nos “is” sobre a recente campanha de denúncias contra ele[1]. Considero, no mínimo, muito estranho o comportamento de setores que atacam Joaquim Barbosa! Estes ataques têm como principais motivos a sua posição firme de punir os mensaleiros e o crescimento do seu nome nas pesquisas eleitorais para presidência da República. Porque estas denúncias aparecem agora e não antes? Todos sabem que sou do PSOL e o meu partido terá candidato próprio à presidência da República. Como um socialista não há a menor condição de apoiar um candidato que se declara “social democrata a la europeia”. Ainda mais um candidato que afirma que o problema do país é que ele gasta mal os recursos e silencia quanto à questão do pagamento de juros da dívida que joga no ralo a maior parte dos recursos públicos. Contudo a inescrupulosa união entre petistas e setores da mídia, como a Folha de São Paulo, um jornal a serviço do tucanato, para atacar Joaquim Barbosa merece uma réplica: O que esperavam de um negro? Que baixasse a cabeça e ficasse calado? Que fosse grato por sua indicação ao Supremo? É fato que Joaquim Barbosa seria um excelente nome para um setor da direita conservadora. Ainda com o desempenho anêmico de Aécio Neves das pesquisas eleitorais. Porém este não é o centro do meu argumento. O centro do meu argumento é há setores interessados em desestabilizar a imagem de Joaquim Barbosa. E estes ataques não se colocam no plano das diferenças ideológicas. Mas em exigir que ele seja um “negro comportado, obediente e dócil” diante da presidente Dilma e daqueles que o atacam. O fato dele se tornar um “símbolo da ética” é um fenômeno muito mais complexo do que o da “concertação midiática”. Ele é negro, de origem popular, representa um poder que aos olhos da massa não tem caráter “político” (o judiciário) e é tecnicamente bem preparado pra função de ocupa. Isso incomoda muito gente, inclusive na esquerda, não apenas por questões ideológicas ou partidárias, mas também raciais. Um negro poderoso incomoda muito. Ainda mais em uma sociedade racista como a nossa. Não endosso o comportamento autoritário e por vezes destemperado de Joaquim Barbosa. Agora é de se considerar que já tivemos presidentes do Supremo muito mais autoritários, prepotentes e direitistas (como Gilmar Mendes, por exemplo). Porém, a reação não foi a mesma que vemos quando se trata de um negro. O PSOL, um partido que parece querer dialogar preferencialmente dialogar apenas com uma fração da classe média que se desiludiu com o petismo, deve ter a capacidade política (que não mostrou até o momento) de ver em Joaquim Barbosa mais do que o plano B da burguesia (o plano A é Aécio), mas um fenômeno político novo. Esta dificuldade do PSOL e outros setores progressistas se estendeu também a dificuldade do partido em interpretar as recentes manifestações Brasil afora e a repetição de bordões já batidos da “rebelião pré-revolucionária” até a “revolução dos coxinhas”[2]. Rótulos não servem às análises principalmente aqueles que se considerem herdeiros da tradição marxista e revolucionária. Eu me solidarizo com Joaquim Barbosa porque o elemento racial é determinante para explicar a campanha que movimentam contra ele. [1]Para a entrevista na íntegra, acessar: oglobo.globo/pais/joaquim-barbosa-brasil-nao-esta-preparado-para-um-presidente-negro-9224636 [2] Uma excelente exceção é o texto de Edson Miagusko: “As manifestações no Brasil do século XXI: apontamentos de um novo ciclo” que está no site:politicidades.blogspot.br/2013/07/as-manifestacoes-no-brasil-do-seculo.html professorfabionogueira.wordpress/2013/07/29/joaquim-barbosa-politica-e-racismo/ [1] Professor da UNEB, Coordenador Nacional do Círculo Palmarino e Coletivo Rosa Zumbi/PSOL.
Posted on: Mon, 29 Jul 2013 17:03:04 +0000
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