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Joaquim Cardozo por Fátima Quintas* [email protected] Joaquim Cardozo Poeta e calculista, Joaquim Moreira Cardoso (com s mesmo, não se assustem) nasceu no dia 26 de agosto de 1897, no Recife, bairro do Zumbi, à época, região da várzea do Rio Capibaribe – nono dos doze filhos do guarda-livros José Antônio Cardoso e Elvira Moreira Cardoso. Precocemente lidou com a morte: no ano de 1909, sofreu sua primeira perda. Morre de tuberculose (a tísica), aos 23 anos, o irmão mais velho, José Maria Moreira Cardoso, seu mestre afetivo e intelectual, poeta parnasiano que o orientou nas primeiras leituras. Mudou-se em 1910 – acompanhando a família – para a cidade de Jaboatão e iniciou os estudos no Ginásio Pernambucano do Recife, o mais importante educandário da década; aliás, sua excelência pedagógica estendeu-se por muitos anos. O traslado para o Recife acontecia de trem e possibilitava o encontro com futuros amigos da vida literária, como os irmãos Benedito e Honório Monteiro, moradores de Tejipió. A estação da Great Westen congregou um dos cenários desse convívio. Importante frisar o quanto o marcaram tais viagens, pois o trem tornar-se-ia uma imagem recorrente nos escritos de Joaquim Cardozo – basta lembrar o conto Na estação ou o poema Visão do último trem subindo ao céu. Ingressou na Escola Livre de Engenharia em 1915, tendo que interromper o curso várias vezes, inclusive por dificuldades econômicas. Na verdade, levou 15 anos para concluí-lo. Somente em 1930 conseguiu formar-se, com a idade de 33 anos. Poeta ligado ao Modernismo, porém com singularidades, a ponto de Audálio Alves chamá-lo de pós-modernista, Cardozo absorveu o regionalismo de forma veemente, uma fusão que fortaleceu sua capacidade perceptiva. Ao lado Gilberto Freire, Ascenso Ferreira e Vicente do Rego Monteiro, enraizou-se nas tradições populares do Nordeste sem, contudo, desconhecer o que de mais atual acontecia na Europa ou no Sudeste do País. Entrecruzou a visão externa com o atavismo necessário a um processo endógeno. Homem culto, de modéstia exemplar, exortava a sabedoria dos humildes. Seus poemas são plenos de melancolia e introspecção. Mescla traços líricos numa dimensão moderna, sem abraçar o modernismo em totalidade. A leveza dos versos mostra a liberdade de expressão: “Naquele velho sobrado/ Da praia de Santa Rita? Eu via a noite chegar/ Eu via estrelas luzentes/ Erguendo o voo, subindo/ Da superfície do mar”. Conheceu Oscar Niemeyer – ocasião em que assessorava o primeiro gabinete do Serviço de Patrimônio, Histórico e Artístico Nacional (Sphan) – de quem se tornaria amigo e calculista das principais obras. A arquitetura de Brasília, na forma original, deve-se à genialidade de Niemeyer e à capacidade de execução do calculista e poeta Joaquim Cardozo, que conseguiu traduzir matematicamente as diversas peripécias. Durante 12 anos, entre 1942 e 1954, trabalharam em parceria. Não se pode esquecer a ligação com Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, tendo este último afirmado ter recebido influência do amigo matemático. A ligação era tão íntima que jantavam juntos quase todos os dias. Uma curiosidade: Joaquim Cardozo tinha fama de saber de cor todos os seus poemas e de falar em torno de quinze idiomas, o mandarim entre eles. O poeta, calculista, exímio matemático, Joaquim Cardozo faleceu em 4 de novembro de 1978, com 81 anos, em Olinda. E o Brasil tem consciência de seu valor como poeta, calculista, contista, ensaísta e homem de integridade inabalável. *Fátima Quintas é antropólogo, escritora, ensaísta, cronista e atual presidente da Academia Pernambucana de Letras in "Domingo com Poesia"
Posted on: Mon, 26 Aug 2013 13:01:53 +0000

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