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LOBO, O CÃO MANDALETE Dócil, educado e obediente (com os de casa), e um excelente cão mandalete, assim era o Lobo, o cachorro dos meus avós ... Naquele tempo em que moravam na campanha, e o meu avô tropeava, tudo era muito longe. O armazém mais próximo da casa do meu avô era o do compadre Paracelso, que chamavam de Palacércio, que ficava a légua e meia dali. Como se sabe, uma légua de campanha mede seis quilômetros, o que não é tão pouco para quem tem que andar a pé ou a cavalo, ou mesmo de carro, pelas estradas de chão, pedregosas e acidentadas do meio rural. Pois o Lobo, desde novinho, fora ensinado a entregar chasques e a fazer mandados entre a casa dos meus avós e os mais distantes lugares. Era um cachorro grande, de pelo escuro, semelhante ao dos lobos, ou lobuno, como se diz dos cavalos que têm esse tipo de pelagem. Ele costumava, na ida, atravessar correndo os campos e várzeas e trilhar os mais acidentados caminhos com uma mala de garupa e um bilhete preso à coleira; e na volta vinha carregado, ao trotezito, com os mantimentos que o bolicheiro, depois de consultar a lista, colocava na mala de couro, que o lobo trazia, como se fosse uma cela, a cavalo no lombo. Enrolados no pescoço, ele costumava transportar ovos, acondicionados numa coleira de pano, e também, às vezes, embrulhados em papel de astrassa, alguns atados de linguiça caseira. Os tempos no meio rural eram pacíficos e de certa fartura, de modo que ninguém atacava o Lobo para roubar. E se alguém por maldade ou mesmo por brincadeira ousasse atacá-lo, ele virava uma fera; mas afora isso, não era de andar rosnando ou atacando as pessoas, como costumam fazer esses cachorros desocupados que têm o mau hábito de sair, sem nenhum motivo, e às vezes silenciosa e traiçoeiramente, nos calcanhares dos transeuntes que passam na frente das casas de seus donos. Como cão de guarda, para cuidar a casa de noite, ou mesmo de dia, quando os donos o deixavam de caseiro, o Lobo era um cachorro extraordinário. Como todos os cachorros, aos 17 ou 18 anos o Lobo já era idoso, e acabou ficando no pátio da casa como se fosse, e era, um velho cão aposentado. Já não latia com o mesmo vigor, com um latido claro e forte, mas com uma voz cava e rouca. E quando o meu bisavô Policarpio vinha visitar o seu filho e meu avô Luciano, o Lobo (dizem) chamava o meu tio, João Carlos, latindo como se falasse: “João, João, vem dar benção pro vovô!” Muitas estórias contam do Lobo. Uma delas era a de que, quando chegava algum andarilho na porteira da chácara do meu avô, a uns duzentos metros da casa, ele mandava o Lobo receber o forasteiro. E se este não tivesse medo nem fugisse, o Lobo, educadamente, com a pata dianteira direita, destramelava a porteira, e abocanhava delicadamente o punho da camisa ou do casaco do recém chegado e o trazia até a casa. Se o forasteiro fosse uma pessoa direita e bem intencionada, até sorria diante do gesto do Lobo e o elogiava na presença do meu avô, como foi justamente o caso do mascate Abdias, que se tornou mais tarde, muito amigo do meu avô, e que sempre trazia para o Lobo algum presente. O Lobo deve ter morrido beirando os vinte, que mais ou menos correspondia aos cem anos do ser humano, ali no Areal, no pátio da casa do meu tio Mariano. A bem dizer, o Lobo morreu de velho … Luciano Machado
Posted on: Sat, 07 Sep 2013 22:51:33 +0000

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