Leiam e me digam o que acharam. A noite estava nublada e chuvosa, - TopicsExpress



          

Leiam e me digam o que acharam. A noite estava nublada e chuvosa, tipicamente londrina. No céu escuro das duas da madrugada, nuvens se uniam em uma só e se desfaziam nas calçadas. - Doze libras – Disse a atendente. Janine tirou alguns trocados que tinha no casaco e despejou-os na bancada da única loja de conveniências 24h daquela região. A atendente á lançou um olhar solidário, provavelmente percebendo as bolsas escuras debaixo dos olhos e o pijama sujo de açúcar. - Não é o suficiente, querida. – Seus cabelos ruivos balançaram junto com a cabeça, em um sinal claro de pena. - Não tenho mais aqui, vou buscar. Deixando seu dinheiro sobre a bancada, a menina se virou e entrou de novo embaixo dos pingos finos de chuva, ouvindo os sinos da loja tilintarem com a sua saída. Seus cabelos loiro-acinzentados grudavam nas bochechas e caiam sobre os ombros, fazendo o rosto ficar marcado. Desde seus 12 anos, quando o corpo dela começou a mostrar sua forma definitiva, todos a recomendavam ser modelo. Bem, o conselho geral não foi bom. Sem o mínimo de cuidado, Janine subiu a escada fincada no meio de um beco sem saída, abrindo a porta de sua “casa” quando chegou ao final. Na verdade aquela era uma construção vitoriana de um homem já morto, que foi dividida em 3 partes pelos netos do falecido, a menor (e pior) acabou sendo vendida para Janine Hems, por um preço solidariamente baixo. No primeiro andar morava um casal francês, Mabelle e Ramy, que mesmo depois de 8 anos morando em Londres não haviam perdido o sotaque florido da França. Eles tinham um estúdio de pintura e vendiam suas telas na frente da casa. Era um negócio que dava lucro, por eles morarem em Camden Town, a área provavelmente mais alternativa e artística de Londres. No segundo andar, Yvon, um tatuador com sotaque Russo, mas que afirmava ser londrino. Seu estúdio de tatuagens ficava há apenas algumas quadras dali, e sua casa era acessível pela mesma escada que a da de Janine. E por fim, no terceiro andar, o dela. Nunca havia ficado por muito tempo nas outras repartições da construção, mas a menina sabia que a dela era a pior. O piso de madeira rangeu á seus pés. Janine acendeu a luz e seguiu em direção á pequena sala, formada por um sofá-cama com uma colcha de lã colorida jogada em cima e duas poltronas azuis. Ao centro, uma mesinha de madeira de menos de 30 cm de altura, abarrotada de papeis de doces e restos de cigarro. Ela procurou em meio á sujeira alguma, qualquer nota. Nada. Saiu dali e foi olhar em seu “quarto”. Em apenas 2 peças, a menina teve que se virar como pôde. Com a ajuda de um amigo, ela construiu uma plataforma de madeira, para arranjar mais espaço no cômodo, transformando dali, o seu quarto (claro que o teto alto a ajudou muito). Embaixo da plataforma ficavam as estantes de livros e um tapete felpudo com algumas almofadas, lugar que ela usava para ler, mas era obvio que ali não teria dinheiro. Subiu a escada da plataforma com a habilidade de 2 anos morando ali e levantou o colchão, que ficava no chão, procurando notas. Nada, novamente. Pulou para o chão, dispensando a escada pintada de um branco descascado e entrou no pequeno closet, apertado entre o banheiro e a parede que delimitava seu imóvel. Além de algumas roupas amassadas e jogadas de qualquer jeito, só havia um pacote de chocolate pela metade. Janine o pegou, desistindo de procurar por dinheiro, e voltou comendo para a loja. A atendente sorriu quando ouviu o sininho tilintar. - Não tenho nada. Me dá só um pacote e fica com o outro. – Disse Janine, mastigando o chocolate com descaso. Mariby, a atendente, guardou um pacote de cigarros Marlboro e deu o outro para ela, junto com o que eram as ultimas notas de dinheiro dela. Voltou para a casa e fumou até sua boca ficar seca, vendo o sol subir. /Sander
Posted on: Sat, 07 Sep 2013 01:40:01 +0000

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