Lo Sguardo di Michelangelo para Moacy Cirne O primeiro impacto - TopicsExpress



          

Lo Sguardo di Michelangelo para Moacy Cirne O primeiro impacto surge da possibilidade de poder (re)encontrar o Cineasta de Ferrara. (Re)encontro que, em um curta-metragem, quer apenas testemunhar os passos de Antonioni sob o templo, a vitalidade do seu corpo ainda que velho e, sobretudo, a certeza de sua existência, mais do que um trabalho que, a despeito de qualquer obstáculo, é mesmo assim monumental em termos de diálogo que se estabelece com uma imagem: a escultura de Moisés erguida por outro Michelangelo (O Renascentista). Ao entrarmos em “Lo Sguardo di Michelangelo” (2004), habitarmos cada quadro, movimento de câmera e o seu silêncio, Antonioni irrompe com a força da memória de seus filmes. No entanto, como personagem e diretor, Michelangelo Antonioni (o formalista), paradoxalmente, assemelha-se a um fantasma, desenhado na entrada e na saída do templo que guarda a escultura de Moisés sobre o túmulo do Papa Júlio II. Retomado, permanentemente, por figuras tarimbadas do cinema contemporâneo (como Wim Wenders e Wong Kar-wai), a imagem de Antonioni nos prende, de imediato, como um imã: à lentidão de cada passo dado, ao seu corpo vulnerável e, principalmente, ao seu rosto tomado pelas marcas do tempo, da velhice, ao seu olhar e ser sozinho. Realizador de obras-primas como “A Aventura” (1960), “O Deserto Vermelho” (1966) e “Passageiro: Profissão – Repórter” (1975), Antonioni afastou-se do mundo do cinema, quando, em 1985, sofreu um derrame que paralisou parte do seu corpo e o impossibilitou de falar e, por extensão, que o impossibilitou de segurar a câmera no ombro e, ao mesmo tempo, orientar a atuação de um ator, a composição de uma cena e o formalismo de cada quadro. Em um dos momentos mais dolorosos da História do Cinema, o afastamento de Antonioni parecia sugerir o confinamento na escuridão do tempo e de um passado primoroso como realizador, caso não fosse o permanente trabalho que outros diretores empreendem para retomar o desejo do Cineasta de Ferrara de estar por trás da concepção de uma obra de cinema. Em “Lo Sguardo di Michelangelo”, à medida que transcorre o tempo e a permanência de Antonioni diante da escultura de Moisés, o segundo impacto irrompe do silêncio que, a cada plano, preenche a solidão daquele homem, constituindo toda a imagem e nossa percepção. Assim, paralisados, aprendemos sobre a conjunção promovida por uma circunstância histórica que vincula um homem preso ao silêncio e a imagem como possibilidade em si. Porque, em “Lo Sguardo di Michelangelo”, o silêncio de Antonioni impulsiona a formação de uma estrutura voltada para o olhar, que delineia o campo entre a visão e o objeto, a interiorização através do ato de ver por lugares mais recônditos da alma humana e a total absorção na contemplação. Nos intervalos entre a contemplação da eternidade de uma escultura e a constatação da fragilidade do seu corpo, Michelangelo Antonioni desenvolve os meandros do olhar, que, ao mesmo tempo, sistematiza o diálogo calcado na oticidade. Mas o que contempla o olhar de Michelangelo Antonioni? Cada parte do complexo escultórico sobre o túmulo de Julio II, o corpo de Moisés (perna, mãos, barba, olhos, nariz, a severidade e empáfia de um Rei) e a obra de outro italiano já eternizado na solidez de esculturas e pinturas nos anais da história da arte. Em silêncio, apenas, ao fundo, com desenvolvimentos sonoros discretos (se não me engano, o abrir e fechar de portas), “Lo Sguardo di Michelangelo” é mais do que o aparente canto derradeiro de um pássaro sem eternidade. Fundado no ato de ver, o terceiro impacto do último trabalho de Antonioni promove todo um sistema de espelhamentos, encontro e desejos escondidos, visitados, mas não totalmente revelados. Da constatação da existência do Cineasta de Ferrara ao silêncio do seu corpo vulnerável e envelhecido, do silêncio de um homem, aparentemente, preso a uma fatalidade ao seu olhar contemplativo, visitamos o interior de “Lo Sguardo di Michelangelo” da mesma forma como Michelangelo Antonioni visita a Igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma. Assim, o curta-metragem transforma-se num “lugar de contemplação”, onde, a cada seqüência, verifica-se uma mise-en-scene ainda vital no controle e no saber de sua concepção e se permanece no silêncio controlado por um olhar que não desgruda um só instante da monumentalidade de uma obra que poderia ter ficado perdida na escuridão e reclusão do tempo. Por extensão, “Lo Sguardo di Michelangelo” impacta, antes de tudo, porque se constitui num espaço de impossibilidade, seja porque o nosso olhar não é capaz de reter toda a magia, seja porque não se tem como tocar a realidade da luz concretizada em imagem. Diferentemente do avanço do ato de ver em direção a sensação táctil, quando a mão de Antonioni se desloca sobre o que o olho não consegue prender, ficamos impossibilitados de também sentir em nossas mãos a existência do diretor italiano, de segurar seus passos sob o templo, seu silêncio e contemplação. (arquivo)
Posted on: Sat, 05 Oct 2013 02:09:19 +0000

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