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MARXISMO E DITADURA “A condenação do “comunismo” autoritário por Bakunin Daniel Guérin Nossa dívida para com Mikhail Bakunin é múltipla. Mas uma delas é mais importante do que as demais. Os comunistas libertários do final do século XX devem-lhe sobretudo — para além de suas polêmicas com Marx, superando-as amplamente — por ele ter sabido prever com muita antecedência o que viria a ser um dia o bolchevismo. Decerto, para isso, ele mostrou-se excessivo, às vezes injusto, em relação a seu contemporâneo, o fundador do socialismo dito científico, em que pese os traços autoritários e manchados de estatismo observáveis em Marx, manifestando-se em estado embrionário. O golpe desferido no Congresso de Haia, em 1872, excluindo Bakunin da Internacional, agravou essas veleidades. Bakunin, em sua polêmica, ataca menos o seu rival do que o Estado popular (Volksstaat) dos lassallianos e social-democratas que Marx e Engels levaram muito tempo para reprovar. Todavia, tendo revelado o embrião, Bakunin teve a genial clarividência de sua excrescência futura. De tal forma que sua crítica severa e um pouco tendenciosa será justificada a posteriori quando for aplicada aos epígonos abusivos de Marx. A presciência de Bakunin quanto aos desvios perversos, antes de se tornarem monstruosos, daquilo que assumirá impropriamente o nome de “marxismo”, merece, de nossa parte, rasgados elogios. Antes mesmo de querelar contra o inspirador da Primeira Internacional, o profeta russo havia advertido contra o “comunismo” autoritário. Desde 19 de julho de 1866, em uma carta a Alexandre Herzen e a Nicolai Ogarev, tuteando seus dois correspondentes como se tratasse de uma única pessoa, Bakunin escrevia: “Tu que és um socialista sincero e devotado, seguramente, estarias pronto a sacrificar teu bem-estar, toda a tua fortuna, tua própria vida, para contribuir à destruição desse Estado cuja existência não é compatível nem com a liberdade, nem com o bem-estar do povo. Ou, então, fazes socialismo de Estado e és capaz de reconciliar-te com essa mentira, a mais vil e a mais temível que o nosso século engendrou: o democratismo oficial e a burocracia vermelha.” No que concerne ao “comunismo” autoritário, Bakunin retomava as imprecações de seu mestre Proudhon. No segundo congresso da Liga da Paz e da Liberdade, em Berna, no final de setembro de 1868, antes de romper com essa emanação do liberalismo burguês, ele clamava: “Detesto o comunismo [autoritário], porque ele é a negação da liberdade, e não posso conceber nada de humano sem liberdade. Não sou em absoluto comunista porque o comunismo concentra e absorve todas as forças da sociedade no Estado, porque ele desemboca necessariamente na centralização da propriedade nas mãos do Estado. [...] Desejo a organização da sociedade e da propriedade coletiva ou social de baixo para cima, pela via da livre associação, e não de cima para baixo por meio de qualquer autoridade que seja. Eis em que sentido sou coletivista e de maneira alguma comunista.”
Posted on: Sat, 13 Jul 2013 15:06:42 +0000

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