MEMÓRIA ELE NÃO TEVE MEDO DA LIBERDADE Maria Nilde Mascellani CONTINUAÇÃO: Depois de um hiato determinado por penoso problema de saúde e de quatro anos de magistério público no Instituto de Educação de Socorro (interior do Estado) voltei a encontrar com mais frequência FLORESTAN, durante a década de 60. Ele colaborou decisivamente em minha formação e de muitos outros professores que integrariam as equipes do Serviço do Ensino Público vocacional (1961-69). Tivemos muitos encontros e seminários nos quais se configurava cada vez mais a defesa intransigente que fazia, e fez até seu último momento de vida, da escola pública, estatal, laica e gratuita. Éramos frutos de uma escola pública, deveríamos ser seus defensores! Sua origem humilde, os sacrifícios da infância e da adolescência, sua consciência de classe o levaram a uma impressionante fidelidade aos excluídos da sociedade, aos "de baixo". Era uma postura contagiante. Mas a Universidade e os grupos politicamente atuantes da década de 60 pagaram um alto preço. Com o golpe militar de 64, sucederam-se as pressões, as perseguições aos opositores do regime e defensores da democracia e da liberdade. FLORESTAN assim como outros combativos intelectuais e cientistas foi aposentado pelo Ato Institucional nº 5 (dezembro/68). O regime militar, ceifando o trabalho docente e de pesquisas, criou barreiras imensas, quase insustentáveis para os atingidos e lacunas até hoje não resolvidas na formação das gerações universitárias que a sucederam. A partir de 69 os "aposentados" e os "cassados" não puderam adentrar a Universidade Pública. FLORESTAN, profundamente abatido por estas circunstâncias, aceitou ministrar cursos no Exterior, mas por breve espaço de tempo. Logo assumiu a grande tarefa de escrever tarefa solitária, produzindo nesse período 12 das 50 obras sobre o Brasil e a América Latina, além de numerosos ensaios e artigos. CONTINUA . . .
Posted on: Sat, 31 Aug 2013 06:15:02 +0000