Meus amigos, a você que pretende disputar uma vaga nas - TopicsExpress



          

Meus amigos, a você que pretende disputar uma vaga nas universidades, ou seja, irá fazer o vestibular, enem, e outros, estou postando um material que acho que irá ajudar-lhe um pouco na elaboração da redação, que é o item que mais elimina vestibulando, leia, exercite, monte grupo de estudos, e boa sorte. Redação Neste material, não nos limitaremos, entretanto, só em apresentar temas para redação, criando, dessa forma, uma relação automática que promove um desenvolvimento discutível: dado o tema, o aluno redige; dado o tema, o aluno redige, ..... Pelo contrário, acreditamos na eficácia de uma série de exercícios que tem como finalidade básica melhorar o conhecimento da língua e aperfeiçoar sua aplicação prática. Assim sendo, apresentaremos exercícios práticos versando sobre ortografia, vocabulário, pontuação, concordância, acentuação, bem como aqueles que buscam a redação de um texto com correção, clareza, concisão e elegância. Por outro lado, também acreditamos que para se redigir bem é necessário, antes, aprender a ler bem, ou seja, compreender um texto e aprender suas ideias básicas. Para tanto, faremos algumas interpretações de texto no decorrer de nossas atividades. Oportunamente serão desenvolvidos conceitos básicos a respeito de descrição, dissertação e narração; parágrafo; planejamento de redação; discurso direto e indireto; ... Pontuação Ao se redigir um texto, um dos aspectos mais importantes a ser considerado é a pontuação, cujo uso adequado resulta em correção e elegância. Colocar bem uma vírgula, um ponto-e-vírgula, as aspas, e mesmo um ponto final, é essencial para a prática da redação. Um texto mal pontuado é, no mínimo, difícil de ser lido, além de deselegante, podendo mesmo tornar-se incompreensível. Veja o exemplo: Um lavrador tinha um bezerro e a mãe do lavrador era também o pai do bezerro Como se pode observar, esse enunciado é absurdo. Entretanto, um ponto final já serviria torna-lo mais claro (embora a construção continuasse feia). Um lavrador tinha um bezerro e a mãe. Do lavrador era também o pai do bezerro. Outro defeito muito comum, resultado da má pontuação, é a ambiguidade. Veja os exemplos: Eu como as aves rompendo os grilhões buscando a liberdade. Eu, como as aves, rompendo os grilhões, buscando a liberdade. Uma andorinha, só não faz verão. Uma andorinha só, não faz verão. Muitas são as regras de pontuação; também são muitas as possibilidades de construir um texto, dependendo da intenção de quem escreve e dos aspectos que o autor pretende ou não realçar. Isso significa que não podemos considerar o conjunto de regras de pontuação como algo inflexível, muito pelo contrário. Por essa razão, julgaremos desnecessário enumerar todas as regras de pontuação; limitaremos o nosso trabalho a alguns lembretes e sugestões: BOM-SENSO: esta é a primeira sugestão e a principal regra para a boa pontuação de um texto. Auxiliam o bom-senso algumas regrinhas menores, como: evitar construções complexas; ler o texto várias vezes para ter certeza de que ficou claro e preciso; dar atenção ao ouvido para perceber as pausas e o ritmo final do texto; treinar os ouvidos lendo bons autores; ... PONTO FINAL ( . ): normalmente não o usaremos com a frequência devida. Observe que a maioria dos principais autores modernos prefere a frase curta. Os períodos longos geralmente resultam em falta de clareza e erros de concordância; quanto mais distanciamos um sujeito do verbo, maior a possibilidade de errar a concordância, pois a tendência é concordar com a palavra mais próxima. Analise o seguinte trecho de Graciliano Ramos, em “Vidas Secas”: “Despedira-se, metera a carne no saco e fora vendê-la noutra rua, escondido. Mas, atracado pelo cobrador, gemera no imposto e na multa. Daquele dia em diante não criara mais porco. Era perigoso criá-los.” VÍRGULA ( , ): é o sinal de pontuação mais empregado e, consequentemente, o que apresenta maior número de regras. Entretanto, a regra maior afirma que a vírgula apenas isola graficamente aquilo que já está isolado pelo sentido. Dessa forma, os termos ou expressões que aparecem intercalados vem entre vírgulas (apostos, vocativos, adjuntos adverbiais, termos independentes, expressões explicativas). Também usamos a vírgula para realçar uma palavra ou expressão. Por outo lado, jamais devemos separar palavras ou termos que aparecem logicamente ligados, como o sujeito e o verbo, o verbo e seu complemento, o substantivo e seus adjuntos adnominais, ... Importante: nunca colocar vírgula entre o sujeito e o verbo ou entre o verbo e seu complemento. Da mesma forma, se entre os termos citados aparecer uma palavra ou expressão interrompendo a ligação natural, ela deve ser isolada por vírgulas. Observe: João, foi à feira. (errado) João foi à feira. (correto) João, apesar de gripado, foi à feira. (correto) PONTO-E-VÍRGULA ( ; ): é usado para se obter uma pausa maior do que a da vírgula; normalmente é empregado para separar orações coordenadas, itens de uma redação longa e mudanças de enfoque dentro de um mesmo período. DOIS PONTOS ( : ): é utilizado para iniciar enumerações, esclarecimentos, citações. Veja como Lima Barreto empregou os dois pontos : “O inglês era outra coisa: brutal de modos e fisionomia”. ASPAS (“ ”): são usadas para indicar citações, transcrições, gírias, estrangeirismos, neologismos e palavras utilizadas em sentido não usual, em frases irônicas. Para exemplificar que a pontuação é uma questão de estilo e o que se quer dizer com aquela frase redigida exatamente daquele jeito, com aquelas palavras e aquela pontuação, vamos ler uma poesia de Carlos Drummond de Andrade. A poesia tem por titulo “Nova canção do exilio” e, obviamente, retoma o tema e algumas palavras (palmeira, sabiá) da famosa “Canção do exilio” do poema romântico Gonçalves Dias. Observe como o poeta “brinca” com a pontuação, residindo aí a maior carga poética do texto: Nova canção do exilio Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde é tudo belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. (ANDRADE, Carlos Drummond de. “Nova canção do exilio”. In: Obra completa. 2 ed. Rio de Janeiro, Aguilar, 1967. p. 157.) Ortografia Em primeiro lugar, iremos esclarecer que a grafia correta de uma palavra está ligada à sua etimologia, origem e transformações. A melhor forma para saber se tal palavra se escreve com X ou CH, com J ou G, é consultar um bom dicionário. Entretanto, podemos agrupar certos casos, criar certas regrinhas práticas, todas elas com suas respectivas exceções. X ou CH a) Após um ditongo, emprega-se X: caixão, peixe, ... b) Após EN inicial, usa-se X: enxada, enxaguar, enxame, ... As exceções são: encher e derivados, enchova e palavras iniciadas por CH, antecedidas do prefixo EN-, como: enchapelar (en-+chapéu+ -ar), encharcar (em-+charco+ -ar). c) Após ME inicial, grafa-se com X: mexerica, mexerico, mexicano, mexilhão, mexer... A única exceção é mecha (substantivo). d) Palavras de origem indígena ou africana, grafa-se com X: xangô, xará, xavante, xingar, xinxim, xique-xique, ... e) Palavras aportuguesadas do inglês trocam o SH original por X: xampu (de shampoo), xerife (de sheriff), ... G ou J Importante: O G só terá som de J antes das vogais E e I. antes de A, O e U, usa-se o J. a) Grafam-se com G as palavras terminadas em AGEM, IGEM e UGEM: barragem, garagem, coragem, fuligem, ferrugem, viagem (substantivo) , ... Exceções: pajem, lambujem, viajem (do verbo viajar). b) As terminações ÁGIO, ÉGIO, ÍGIO, ÓGIO e ÚGIO são grafadas com G: pedágio, colégio, prestigio, relógio, refúgio, ... c) Após A inicial, grafa-se GE ou GI: agência, agenda, agente, agiota, ágil, ... Exceção: ajeitar e derivados. d) As palavras de origem indígena e africana são grafadas em J: pajé, canjica, jibóia, jirau, ... Exceção: Sergipe. e) Para se ter certeza de que a palavra é grafada com J, deve-se substituí-la, se possível, por outra palavra da mesma família: sujo: sujeira, sujidade, sujinho laranja: laranjeira, laranjinha. ultrajar: ultraje. loja: lojeca, lojista. Refletindo o Assunto Texto 1 Nos Bailes da Vida Foi nos bailes da vida ou num bar em troca de pão que muita gente boa pôs o pé na profissão de tocar um instrumento e de cantar não importando se quem pagou quis ouvir foi assim Cantar era buscar o caminho que vai dar no sol tenho comigo as lembranças do que eu era para cantar nada era longe, tudo tão bom Até a estrada de terra na boleia de caminhão era assim Com a roupa encharcada e a alma repleta de chão todo artista tem de ir aonde o povo está se foi assim, assim será cantando me disfarço e não me canso de viver nem de cantar. (Milton Nascimento e Fernando Brant) Texto 2 Dom Quixote “A intenção de Cervantes, ao escrever o Dom Quixote, era satirizar a novela de cavalaria, que tinha sido muito popular na Europa e em sua época enfrentava a decadência. Mas acabou retratando o perfil do homem, dividido entre a fantasia e a realidade. Dom Quixote, fidalgo ingênuo e atraído pela história dos grandes cavaleiros medievais, sai pelo mundo como um deles, numa época em que isso já não existia mais. Nos seus delírios, luta contra moinhos de vento achando que são gigantes cruéis. Beija a mão de uma guardadora de porcos pensando que é sua amada Dulcinéia. Sancho Pança, seu fiel escudeiro, admira o amo sem entendê-lo. Tem os pés na terra e uma visão prática das coisas, mas é fascinado pela sua loucura. Duas figuras cheias de bondade e pureza, num mundo onde não há lugar para a bondade e a pureza.” (In: ANGELI, José. Dom Quixote. São Paulo, Scipione, 1985. p. 4.) Após refletir nos textos lidos, escreva uma redação sobre o sonho e a realidade. S ou Z a) Grafam-se com S as palavras derivadas de uma primitiva grafada com S: rosa = roseira, rosinha, rosácea, rosado, róseo liso = alisar, alisador, alisado análise = analisar, analisado, analisador, analista francês = francesinho b) Grafam-se com Z as palavras derivadas de uma primitiva grafada com Z: deslize = deslizar rapaz = rapazinho, rapazote, rapaziada, rapazola gozo = gozar, gozado, gozação c) Grafam-se com S os sufixos –ês, -esa indicadores de nacionalidade, título, origem: chinês, burguês, burguesa, marquês, marquesa, camponês, camponesa, ... d) Grafam-se com Z os sufixos –ez, -eza que formam substantivos abstratos derivados de adjetivos: belo = beleza rico = riqueza ávido = avidez rápido = rapidez e) Grafa-se com s o sufixo –isa indicador de feminino: Poetisa, profetisa, sacerdotisa, pitonisa, ... f) Grafam-se com S os sufixos –ense, -oso, -osa formadores de adjetivos: lisbonense, paraense, palmeirense, amoroso, amorosa, pedregoso, pedregosa, chuvoso, chuvosa, ... g) Grafa-se com Z o sufixo –izar formador de verbos: realizar, hospitalizar, escandalizar, ... h) Após um ditongo, usa-se sempre S: lousa, coisa, causa, Neusa, Cleusa, ... Agora, veremos algumas palavras ou expressões muito comuns em nossa comunicação cotidiana, mas nem sempre corretamente grafadas, pronunciadas, ou, o que é pior, empregadas. Alguns casos corriqueiros são, por exemplo, mal e mau, a par e ao par, aonde e onde, ... MAS e MAIS É um caso muito comum de erro de ortoepia, ou seja, de pronúncia errada. Fala-se, em geral, sempre MAIS, mesmo quando deveria pronunciar MAS. Daí surgirem dificuldades quando se escreve. Convém lembrarmos que: • MAS = é uma conjunção adversativa, indicando, evidentemente, uma adversidade ou contrariedade. Quando falamos: “Eu ia ao cinema mas...”, nem precisamos terminar a ideia, pois, a conjunção adversativa já indica que não realizamos a ação em consequência de uma contrariedade qualquer. REGRA PRÁTICA: o mas pode ser substituído por outra conjunção adversativa, como: porém, contudo, todavia, entretanto, ... • MAIS = é um advérbio de intensidade (“Ela é a mais bonita”). Também pode dar ideia de adição ou de acréscimo. REGRA PRÁTICA: na dúvida, substitua por menos e veja se a frase continua com sentido (obviamente, inverso). Por exemplo, há uma propaganda de um banco que afirma: “O banco que faz mais por você”. É só substituir: “O banco que faz menos por você”. Continua com sentido. MAL ou MAU Na linguagem oral, a pronúncia se confunde; o problema maior reside no texto escrito. Entretanto, é fácil diferenciar um do outro: • MAL = pode ser advérbio ou substantivo, dependendo do contexto. É advérbio de modo quando significa “de modo irregular”, “erradamente”, “incorretamente”, (“Os negócios vão mal”; “Ela comeu mal”). É comum, na infância e juventude, usar a expressão “estar de mal”, isto é, estar de relações cortadas. Como advérbio, mal é invariável. MAL, como substantivo, significa “prejudicial, nocivo, também é empregado como sinônimo de doença, enfermidade, moléstia. No caso, é variável, admitindo o plural males. É empregado sempre em oposição a BEM. • MAU = adjetivo que significa imperfeito, ruim, que causa mal, prejuízo; de má índole, de má qualidade. É variável, admitindo o feminino má e o plural maus. É antônimo de BOM. REGRA PRÁTICA: na dúvida entre mal e mau, substituir por bem ou bom. A distinção torna-se evidente. A PAR e AO PAR Normalmente usa-se a par, no sentido de “estar bem informado”, “ter conhecimento” (“Ele está a par dos acontecimentos”). Só se usa ao par para indicar equivalência entre valores cambiais (“Tal moeda está ao par daquela outra”). AONDE e ONDE Ainda há muita discussão entre os gramáticos, com relação ao emprego de aonde e onde. Entretanto, mais modernamente, admite-se que o advérbio ONDE indica “o lugar em que se está, ou em que se passa algum fato”. Por outro lado, emprega-se AONDE (preposição a + advérbio onde) quando há ideia de movimento, mais especificamente, ideia de aproximação. É quase em oposição a donde, que indica afastamento. AO INVÉS Invés é uma variante de inverso; portanto, a locução ao invés de só é empregada quando indicar oposição, significa “ao contrário de”. AO ENCONTRO e DE ENCONTRO São duas expressões muito usadas, nem sempre corretamente. É necessário atentar para as preposições a e de. Ao encontro de significa “estar a favor de”, “ter posição convergente”, “caminhar ao encontro de alguém”. De encontro a significa “em sentido oposto a”, “ser contra”. Qualidades e Defeitos Inicialmente, reforçamos a ideia de que um trabalho de redação é, antes de mais nada, um trabalho de criatividade. Portanto, é muito pessoal, subjetivo; cada cabeça, um estilo. Considera-se um absurdo a tentativa de se padronizar um texto, de se elaborar um modelo a ser seguido ou, pior ainda, um gabarito para redação (não confundir com o trabalho de reflexão e análise sobre textos de bons escritores, considerados modelos; tal trabalho é proveitoso para que possamos fixar o nosso estilo). Entretanto, mesmo sendo um trabalho subjetivo, de criatividade, de manifestação de um estilo individual, podemos enumerar algumas qualidades e alguns defeitos que, via de regra, devem ser observados ou evitados. Como qualidades que devem ser observadas, podemos citar: correção, clareza, concisão e elegância. Como defeitos que devem ser evitados, mencionamos: ambiguidade, obscuridade, pleonasmo ou redundância, cacofonia e eco. AS QUALIDADES 1- CORREÇÃO = evidentemente, um texto deve observar às regras gerais da língua, ressalvando-se sempre algumas liberdades como consequência do estilo (recordamos o conceito de fala: o uso que cada indivíduo faz da língua, conforme sua vontade). 2- CLAREZA = se o texto não obedece às normas gerais da língua, torna-se pouco claro, difícil de ser compreendido. As palavras devem ser bem colocadas, as ideias devem obedecer a uma determinada lógica, sem se cair, no entanto, num didatismo primário. Ao leitor deve respeitar sempre o prazer da descoberta. 3- CONCISÃO = precisão, exatidão, brevidade; exposição de uma ideia em poucas palavras. Consiste em se apresentar uma ideia em poucas palavras sem, contudo, comprometer a clareza. O procedimento oposto é a PROLIXIDADE que é usar muitas palavras para dizer pouca coisa, em outras linguagens “encher linguiça”, defeito que deve ser evitado. 4- ELEGÂNCIA = é, em última análise, o resultado final obtido quando se observam as qualidades e se evitam os defeitos. É o texto agradável de ser lido tanto pelo seu conteúdo como pela sua forma. OS DEFEITOS 1- AMBIGUIDADE = este vício de linguagem ocorre quando a frase apresenta mais de um sentido, em consequência da má pontuação ou da má colocação das palavras. 2- OBSCURIDADE = é o defeito que se opõe à clareza. Entre os vícios que acarretam obscuridade, podemos citar: má pontuação, rebuscamento da linguagem, frases excessivamente longas (prolixas) ou exageradamente curtas (lacônicas). 3- PLEONASMO ou REDUNDÂNCIA = consiste na repetição desnecessária de um termo ou de uma ideia. Em alguns casos, no entanto, o pleonasmo tem a função de realçar uma ideia, torná-la mais expressiva; dessa forma, o pleonasmo deixa de ser um vício e passa a ser uma figura de linguagem, um recurso estilístico. Portanto, é necessário distinguir os dois tipos de pleonasmo: - PLEONASMO VICIOSO – “subir para cima” , “entrar para dentro”, “decisão unanime de todos”,” monopólio exclusivo”, ... - PLEONASMO DE REFORÇO ou ESTILÍSTICO – Camões, em Os Lusíadas (Canto V, estrofe 18), faz uso de um pleonasmo celebre ao iniciar a descrição de uma tromba d’água marítima: “Vi, claramente visto, o lume vivo que a marítima gente tem por santo.” 4- CACAFONIA ou CACÓFATO = é o som desagradável resultante da combinação de duas ou mais sílabas de diferentes palavras. ...a boca dela, ...meu coração por ti gela, ...uma mão, ... vou-me já, ... por cada, ... Apesar que todos, uma vez ou outra, cometem um cacófato, até mesmo os grandes mestres. Citamos Camões, em um de seus sonetos mais famosos: “Alma minha gentil que te partiste Tão cedo desta vida descontente!” 5- ECO = é a repetição desnecessária de um som, resultando num texto desagradável, com um ritmo batido e monótono. A melhor forma de corrigir esse defeito é ler o texto já acabado com muita atenção; na língua portuguesa é preciso tomar muito cuidado, por exemplo, com as terminações ão, ade, e mente. Uma frase do tipo: “contra a vontade, apenas por bondade, ele foi à cidade; na verdade ...”, machuca o ouvido. NARRAÇÃO – DESCRIÇÃO – DISSERTAÇÃO Leia atentamente os três fragmentos seguintes: Texto 1 “Encontrei-o à noitinha no salão, que servia de gabinete de trabalho, com a filha e três visitantes: João Nogueira, uma senhora de preto, alta, velha, magra, outra moça, loura e bonita. Estavam calados, em dois grupos, os homens separados das mulheres. O Dr. Magalhães é pequenino, tem um nariz grande, um pince-nez e por detrás do pince-nez uns olhinhos risonhos. Os beiços, delgados, apertam-se. Só se deslocam para o Dr. Magalhães falar a respeito da sua pessoa. Também quando entra neste assunto, não para. Naquele momento, porém, como já disse, conservavam-se todos em silencio. D. Marcela sorria para a senhora nova e loura, que sorria também, mostrando os dentinhos brancos.” (Graciliano Ramos, São Bernardo) Texto 2 “- Eu quero ter um casamento tradicional, papai. - Sim, minha filha. - Exatamente como você! - Ótimo. - Que música tocaram no casamento de vocês? - Não tenho certeza, mas acho que era Mendelssohn. Ou Mendelssohn é o da Marcha Fúnebre? Não, era Mendelssohn mesmo. - Mendelssohn, Mendelssohn... Acho que não conheço. Canta alguma coisa dele aí. - Ah, não posso, minha filha. Era o que o órgão tocava em todos os casamentos, no meu tempo. - O nosso não vai ter órgão, é claro. - Ah, não? - Não. Um amigo do Varum tem um sintetizador eletrônico e ele vai tocar na cerimônia. O Padre Tuco já deixou. Só que esse Mendelssohn, não sei, não... - É, acho que no sintetizador não fica bem... - Quem sabe alguma coisa do Queen... - Quem? - Não é a Queen? - Não. O Queen. É o nome de um conjunto, papai. - Ah, certo. O Queen. No sintetizador. - Acho que vai ser o maior barato! - Só o sintetizador ou... - Não. Claro que precisa ter uma guitarra elétrica, um baixo elétrico... - Claro. Quer dizer, tudo bem tradicional. - Isso.” (Luís Fernando Veríssimo, O analista de Bagé) Texto 3 “Para elucidar o problema da leitura operária faz-se necessária uma série de pesquisas e de estudos teóricos. Dispersos nos arquivos de sindicatos de todo o Brasil, nas bibliotecas, os números de velhos jornais feitos por trabalhadores para trabalhadores atestam a existência passada de uma imprensa operária. Contingências históricas, crises sucessivas golpearam duramente o movimento sindicalista brasileiro e com ele esses órgãos de cultura que foram rareando e hoje (ao menos oficialmente) desaparecendo. Tomando seu lugar, a imprensa de massa se dirige ao trabalhador não como membro de um público especial, mas como a um consumidor anônimo, debilitado em sua consciência e sentido e a significação de sua classe. Verdade é que a imprensa de massa opera, desta maneira, para com todas as classes, mas especialmente para com a trabalhadora de onde se espera uma consciência mais viva das carências sofridas.” (Ecléa Bosi, Cultura de massa e cultura popular) Como você pode observar, são três textos distintos, cada qual obedecendo a um tipo de composição. Uma primeira análise, embora rápida e superficial, permite-nos algumas conclusões: No texto 1, temos um retrato de alguns personagens e do ambiente; várias frases nominais indicam ausência de ação e as imagens permitem uma visualização do que está sendo apresentado. Um texto com essas características é uma descrição. Já o texto 2 está centrado num fato ou acontecimento; os personagens atuam, há um narrador que nos relata a ação. Percebe-se um predomínio de frases verbais indicando um processo ou ação. Temos, assim, uma narração. O texto 3 tem um objetivo bem distinto se comparando aos anteriores: nele predomina a defesa de uma ideia, de um ponto de vista. O autor trabalha com argumentos que solidificam sua posição final. Um texto com essas características chama-se dissertação. Esses são os três tipos de composição de textos; narração, descrição e dissertação. Escreva três textos pequenos, com as seguintes características: Texto 1: descrição da sua casa Texto 2: narração de um acontecimento que você tenha presenciado a caminho da escola. Texto 3: dissertação sobre a importância do lazer em nossa vida. DESCRIÇÃO O que é descrição? É a ação que você toma de descrever sobre algo ou alguém. Então, o que é descrever? Vejamos: de acordo com o dicionário, é o ato de narrar, contar minuciosamente. Então, sempre que você expõe com detalhes um objeto, uma pessoa ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Essa última é como se fosse um retrato distinto e pessoal de algo que se vê ou se viu! Assim, para se fazer uma boa descrição, não é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa forma, o que será importante ser analisado para um, não será para outro. Portanto, a vivência de quem descreve também influencia na hora de transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto, pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento. Os pormenores são essenciais para se distinguir um determinado momento de qualquer outro, desse modo, a presença de adjetivos e locuções adjetivas é traço distinto de um texto descritivo. Quando for descrever verbalmente, tenha sutileza ao transmitir e leve em consideração, de acordo com o fato, objeto ou pessoa analisada: a) as cores; b) altura; c) comprimento; d) dimensões; e) características físicas; f) características psicológicas; g) sensação térmica; h) tempo e clima; i) vegetação; j) perspectiva espacial; l) peso; m) textura; n) utilidade; o) localização; e assim por diante. Claro, tudo vai depender do que está sendo descrito. Em uma paisagem, por exemplo, a descrição poderá considerar: a posição geográfica (norte, sul, leste, oeste); o clima (úmido, seco); tipo (rural, urbana); a sensação térmica (calor, frio) e se existem casas, árvores, rios, etc. Veja no exemplo: “Da janela de seu quarto podia ver o mar. Estava calmo e, por isso, parecia até mais azul. A maresia inundava seu cantinho de descanso e arrepiava seu corpo...estava muito frio, ela sentia, mas não queria fechar a entrada daquela sensação boa. Ao norte, a ilha que mais gostava de ir, era só um pedacinho de terra iluminado pelos últimos raios solares do final daquela tarde; estava longe...longe! Não sabia como agradecer a Deus, morava em um paraíso!” A sensação que o leitor ou ouvinte tem que ter em uma descrição é a de que foi transportado para o local da narração descritiva. Da mesma forma, quando um objeto é descrito, o interlocutor dever ter a sensação de que está vendo aquele sofá ou aquela xícara. Por fim, vejamos a seguir os dois tipos de descrição existentes: • Descrição objetiva: acontece quando o que é descrito apresenta-se de forma direta, simples, concreta, como realmente é: a) O objeto tem 3 metros de diâmetro, é cinza claro, pesa 1 tonelada e será utilizado na fabricação de fraldas descartáveis. b) Ana tem 1,80, pele morena, olhos castanhos claros, cabelos castanhos escuros e lisos e pesa 65 kg. É modelo desde os 15 anos. Descrição subjetiva: ocorre quando há emoção por parte de quem descreve: a) Era doce, calma e respeitava muito aos pais. Porém, comigo, não tinha pudores: era arisca e maliciosa, mas isso não me incomodava. Portanto, na descrição subjetiva há interferência emocional por parte do interlocutor a respeito do que observa, analisa. Como você vai saber se fez uma excelente narração descritiva? Quando reler o seu texto e perceber se de fato outros leitores visualizarão como reais o que está sendo descrito! “O homem era alto e tão magro que parecia sempre de perfil. Sua pele era escura, seus ossos proeminentes e seus olhos ardiam como fogo perpétuo. Calçava sandálias de pastor e a túnica azulão que lhe caía sobre o corpo lembrava o hábito desses missionários que, de quando em quando, visitavam os povoados do sertão batizando multidões de crianças e casando os amancebados. Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história, mas algo havia em seu aspecto tranquilo, em seus costumes frugais, em sua imperturbável seriedade que, mesmo antes de dar conselhos, atraía as pessoas.” “… não havia uma só vila, ou lugarejo obscuro, em que não contasse adeptos fervorosos, e não lhe devesse a reconstrução de um cemitério, a posse de um templo ou a dádiva providencial de um açude; insurgira-se desde muito, atrevidamente, contra a nova ordem política e pisara, impune, sobre as cinzas dos editais das câmaras de cidades que invadira…” (Euclides da Cunha. Os Sertões.) “Manhoso, malvado era ele Com capa de santo enganava Ao bom povo d’aquele sertão Com doçura a eles falava.” (Manoel Pedro das Dores Bombinho. Canudos, história em versos.) “Nunca mais pude esquecer aquela presença. Era forte como um touro, os cabelos negros e lisos lhe caíam nos ombros, os olhos pareciam encantados, de tanto fogo, dentro de uma batina de azulão, os pés metidos numa alpercata de currulepe, chapéu de palha na cabeça. Era manso de palavras e bom de coração. Só aconselhava para o bem.” (Depoimento de Honório Vilanova, sobrevivente de Canudos, ao escritor Nertan Macedo, em 1962. NARRAÇÃO O texto narrativo caracteriza-se pelo relato de fatos retratados por uma sequência de ações, relacionadas a um determinado acontecimento, podendo ser estes fatos reais ou fictícios. Para que este relato seja algo dotado de sentido, o mesmo dispõe-se de alguns elementos que desempenham funções primordiais. Representando-os, figuram-se os personagens, peças fundamentais para a composição da história, narrador, espaço, tempo e enredo propriamente dito, ou seja, o assunto sobre o qual se trata. Dentre aqueles caracterizados como narrativos, destacam-se os contos, novelas, romances, algumas crônicas, poemas narrativos, histórias em quadrinhos, piadas, letras musicais, entre outros. Como anteriormente mencionado, os elementos que constituem a referida modalidade são dotados de funções específicas, e para que possamos compreendê-las de modo efetivo, as analisaremos minuciosamente: PERSONAGENS Constituem os seres que participam da narrativa, interagindo-se com o leitor de acordo com o modo de ser e de agir. Algumas ocupando lugar de destaque, também chamadas protagonistas, outras se opondo a elas, denominadas de antagonistas. As demais se caracterizam como secundárias. TEMPO Retrata o momento em que ocorrem os fatos (manhã, tarde, noite, na primavera, em dia chuvoso). O mesmo pode ser cronológico, ou seja, determinado por horas e datas, revelado por acontecimentos dispostos numa ordem sequencial e linear - início, meio e fim; e psicológico, aquele ligado às emoções e sentimentos, caracterizado pelas lembranças dos personagens, reveladas por momentos imprecisos, fundindo-se em presente, passado e futuro. ESPAÇO É o lugar onde se passa toda a trama. Algumas vezes é apenas sugerido no intuito de aguçar a mente do leitor, outras, para caracterizar os personagens de forma contundente. Dependendo do enredo, a caracterização do mesmo torna-se de fundamental importância, como, por exemplo, os romances regionalistas. NARRADOR Ele funciona como um mediador entre a história que ora é narrada e o leitor (ou ouvinte). Sua perspectiva, aliada a seu ponto de vista e ao modo pelo qual organiza tudo aquilo que conta, são fatores decisivos para a constituição da história. A maneira pela qual o narrador se situa em relação ao que está narrando denomina-se como foco narrativo. E, basicamente, há três tipos: Narrador-personagem - Narrando em 1ª pessoa, ele participa da história, relatando os fatos a partir de sua ótica, predominando as impressões pessoais e a visão parcial dos fatos. Narrador-observador – Ele revela ao leitor somente os fatos que consegue observar, relatando-os em 3ª pessoa. Narrador-onisciente – Além de observar, ele sabe e revela tudo sobre o enredo e os personagens, até mesmo seus pensamentos mais íntimos, como também detalhes que até mesmo eles não sabem. Em virtude de estar presente em toda parte, é também chamado de onipresente, o que lhe permite observar o desenrolar dos acontecimentos em qualquer espaço que ocorram. Algumas vezes limita-se a observá-los de forma objetiva, em outras, emite opiniões e julgamento de valor acerca do assunto. ENREDO É o conjunto de incidentes que constituem a ação da narrativa. Todo enredo é composto por um conflito vivido por um ou mais personagens, cujo foco principal é prender a atenção do leitor por meio de um clima de tensão que se organiza em torno dos fatos e os faz avançar. Geralmente, o conflito determina as partes do enredo, representadas pelas referidas partes: Introdução – É o começo da história, no qual se apresentam os fatos iniciais, os personagens, e, às vezes, o tempo e o espaço. Complicação – É a parte em que se desenvolve o conflito. Clímax – Figura-se como o ponto culminante de toda a trama, revelado pelo momento de maior tensão. É a parte em que o conflito atinge seu ápice. Conclusão ou desfecho final – É a solução do conflito instaurado, podendo apresentar final trágico, cômico, triste, ou até mesmo surpreendente. Tudo irá depender da decisão imposta pelo narrador. TEXTO 1 O maior de todos os presentes Al. Fabiano de Oliveira dos Santos Matias (SGS/2010) Era noite. A chuva que caía não dava trégua e se lançava sobre nossa casa torrencialmente. Como sempre acontece em noites de tempestade, a energia acabou. Eu, criança ainda, só poderia estar nervoso e muito assustado; e as estranhas formas tremulantes que o brilho das velas formava nas paredes simplesmente pioravam tudo, o que me levava a perguntar a todo instante: — Pai, quando a luz vai voltar? — Em breve, meu filho — dizia meu pai, puxando-me para perto de si. — Logo, logo a chuva vai diminuir, e a luz vai acabar voltando. Tem que ter paciência. — Eu queria que a mamãe estivesse aqui — eu gemi. — Sim, filho; eu sei. Eu também gostaria muito. Mas, de alguma forma, ela está aqui conosco. Temos de ser pacientes. Meu pai ficara viúvo muito cedo. Eu não conheci minha mãe, e era ele quem tinha de fazer os dois papéis; ele era muito cuidadoso comigo. Foi por ver minha aflição é que hoje eu tenho certeza de que ele fez o que fez. Deixando-me sozinho por uns instantes, foi até o quarto e voltou de lá com algo na mão. Reconheci logo o pequeno objeto: era uma caixa de madeira escura que ele mantinha em sua escrivaninha. Eu tinha curiosidade em saber o que havia ali dentro, pois ele já havia me falado que fora vovô quem lhe presenteara com ela ainda em sua mocidade. — O tempo passa rápido, não é, filho? — ele perguntou. — Passa, papai; que nem flecha, né? — Pois é. Hoje você já está com dez anos e já é quase um homem, não é? — Sim, papai. — Pois, então, é hora de lhe passar esse presente. Naquele momento, ele me entregou a caixa de madeira. Eu já não me aguentava de curiosidade e já ia abri-la, quando ele me fez jurar que eu jamais a abriria sem o seu consentimento. Mesmo contrariado, eu sabia que tinha de obedecer. A luz ainda demorou algum tempo para voltar, mas, de alguma forma, meu medo desapareceu. Vinte anos se passaram. A misteriosa caixa se manteve em meu poder. Sempre que eu passava por uma situação difícil na escola, no trabalho, em minha vida conjugal, eu me recordava daquela noite de tempestade com papai. A doença de meu filho caçula foi o pior de todos os momentos. Os médicos só diziam que eu devia ter paciência que o tratamento demoraria e que mesmo assim o resultado era incerto. Tive de ter um autocontrole que eu não conhecia em mim. Meu pai acompanhou tudo de perto. Até que um dia, finalmente, meu filho recebeu alta do tratamento. Nesse dia meu pai, estando em nossa casa para nos felicitar pela melhora, me pediu: — Filho, você ainda tem aquela caixa? — Sim, papai. — Pode apanhá-la, por favor? Corri até o segundo andar da casa e voltei como uma flecha para a sala. Ele me disse: — Agora você já pode abrir. Nervoso, eu atendi ao seu comando. Fiquei atordoado por alguns segundos. O silêncio que se formou então só foi quebrado por uma brejeira gargalhada dele, seguida de um abraço forte e carinhoso. — Foi a mesma cara que eu fiz quando seu avô me mandou abrir esse negócio. Esse é o maior tesouro de um homem. E, hoje, vejo que esse homem está bem na minha frente! Aquela velha caixa não possuía nenhuma pedra preciosa, nenhum objeto valioso. Na verdade, ela estava vazia. Mas através dela percebi que já havia ganhado o meu maior presente: o autocontrole de saber aguardar pelo momento certo; a paciência do saber esperar. TEXTO 2 O Coveiro Millôr Fernandes Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouviu um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: O que é que há? O coveiro então gritou, desesperado: Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível! Mas, coitado! - condoeu-se o bêbado - Tem toda razão de estar com frio. Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho! E, pegando a pá, encheu-a e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente. Reflexão: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem se apela. TEXTO 3 Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos de dourado e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pinheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os vermelhos e os dourados do céu. E lembro que pensei agora o telefone vai tocar, e o telefone não tocou, e depois de algum tempo em que o telefone não tocou, e podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, [...] então pensei agora a campainha vai tocar. Podia ser o porteiro entregando alguma correspondência, a vizinha de cima à procura da gata persa que costumava fugir pela escada, ou mesmo alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar. TIPOS DE DISCURSOS Discurso aqui deve ser entendido como a maneira que o narrador "deixa" a fala de suas personagens serem reproduzidas ou reproduz o que falam. São três os tipos de discurso: direto, indireto, indireto livre. Discurso Direto O mais comum de todos, nele o narrador "deixa" a personagem falar diretamente com o leitor, reproduzindo integralmente o que ela diz. Geralmente, usa-se o travessão para iniciar tal discurso. Leia: O menino suportou tudo com coragem de mártir, apenas abriu ligeiramente a boca quando foi levantado pelas orelhas: mal caiu, ergueu-se, embarafustou pela porta fora, e em três pulos estava dentro da loja do padrinho, e atracando-se-lhe às pernas. O padrinho erguia nesse momento por cima da cabeça do freguês a bacia de barbear que lhe tirara dos queixos: com o choque que sofreu a bacia inclinou-se, e o freguês recebeu um batismo de água de sabão. - Ora, mestre, esta não está má!... - Senhor, balbuciou este... a culpa deste endiabra- do... O que é que tens, menino? O pequeno nada disse; dirigiu apenas os olhos espantados para defronte, apontando com a mão trêmula nessa direção. O compadre olhou também, aplicou a atenção, e ouviu então os soluços da Maria. - Ham! Resmungou; já sei o que há de ser... eu bem dizia... ora ai está! E desculpando-se com o freguês saiu da loja e foi acudir ao que se passava. Por estas palavras vê-se que ele suspeitara alguma coisa; e saiba o leitor que suspeitara a verdade. (Memórias de um sargento de milícias, Manuel Antônio de Almeida) O discurso direto é considerado mais "natural"; o narrador, para introduzi-lo na narrativa precisa utilizar-se dos chamados verbos dicendi ou declarativos, que introduzem as falas das personagens. Os verbos mais frequentes são: falar, dizer, observar, retrucar, responder, replicar, exclamar, aconselhar, gritar. Antes das falas das personagens aparece, com frequência, o uso de dois pontos e travessão. Há autores, no entanto, que preferem, em vez do travessão, colocar entre aspas as falas das personagens. "Quando lhe entreguei a folha de hera com formato de coração (um coração de nervuras trementes se abrindo em leque até as bordas verde- azuladas), ela beijou a folha e levou-a ao peito. Espetou-a na malha do suéter: "Esta vai ser guardada aqui." Mas não me olhou nem mesmo quando eu saí tropeçando no cesto." (Lígia Fagundes reles, "Herbarium", in Os melhores contos) "Não sei o que me aconteceu, o pau estava no chão, agarrei-o e fiz o risco, Nem lhe passou pela ideia que poderia ser uma varinha de condão, Para varinha de condão pareceu-me grande, e as varinhas de condão sempre eu ouvi dizer que são feitas de ouro e cristal, com um banho de luz e uma estrela na ponta, Sabia que a vara era de negrilho, Eu de árvores conheço pouco, disseram-me de- pois que negrilho é o mesmo que ulmeiro, sendo ulmeiro o mesmo que olmo, nenhum deles com poderes sobrenaturais, mesmo variando os nomes, mas, para o caso, estou que um pau de fósforo teria causado o mesmo efeito, Por que diz isso, O que tem que ser; tem de ser; e tem muita força, não se pode resistir-lhe, mil vezes o ouvi à gente mais velha, Acredita na fatalidade, Acredito no que tem de ser! " (José Saramago, Jangada de Pedra, Record, J 999) Discurso indireto Como o próprio nome esclarece, o narrador "fala" indiretamente por sua personagem. Para tanto, terá que usar, necessariamente, as conjunções integrantes que e se ao introduzir tal discurso. Veja o exemplo: "E a madrinha, Dona Isolina Vaz Costa (cuja especialidade era doce de ovos) foi de parecer que quanto à dicção ainda não era visto, mas quanto à expressão Cícero lembrava o Chabi Pinheiro. No entanto advertiu que do meio para o fim é que era mais difícil." (Antônio de A. Machado, NO Inteligente CíceroN, in Laranja da China, Ed. ) Fôssemos passar o trecho acima para discurso direto, teríamos: E a madrinha, Dona Isolina Vaz Costa (cuja especialidade era doce de ovos) foi de parecer que quanto à dicção ainda não era visto, mas quanto à expressão Cícero lembrava o Chabi Pinheiro. No entanto advertiu: - Do meio para o fim é que é mais difícil. Outros exemplos: "Miguilim chorou de bruços, cumpriu tristeza, soluçou muitas vezes. Alguém disse que aconteciam casos, de cachorros dados, que levados para longes léguas, e que voltavam sempre em casa. Então, ele tomou esperança: a Pingo-de-Ouro ia volta!" (João Guimarães Rasa, Campo Geral, in Manuelzão e Miguilim, José Olímpio Editora) "No noivado da sua caçula Maria Aparecida, só por brincadeira, pediu que uma cigana muito famosa no bairro deitasse as cartas e lesse seu futuro. A mulher embaralhou as cartas encardidas, espalhou tudo na mesa e avisou que se ela fosse no próximo domingo à estação rodoviária, veria chegar um homem que iria mudar por completo sua vida (...)." (Lígia Fagundes Teles, Pombo Enamorado, Os Melhores Contos, José Olímpio Editora) Discurso indireto livre O mais difícil de todos: é resultado da mistura entre os dois outros discursos. Há dois pressupostos básicos para que aconteça nas narrativas: a) narrador em terceira pessoa; b) narrador onisciente. Muito usado nas narrativas contemporâneas, este tipo de discurso quase não se registra, por exemplo, no Romantismo. O Realismo de linha de análise psicológica experimentou-o, mas coube à narrativa moderna desenvolvê-lo e usá-lo como recurso dos mais expressivos. Podemos defini-lo como sendo a captação do pensamento das personagens que vêm à tona num texto de terceira pessoa, sem nenhuma marca indicadora de Discurso Direto (travessão, aspas) ou Indireto (as conjunções integrantes): "Entregue aos arranjos da casa, regando os craveiros e as panelas de losna, descendo ao bebedouro com o pote vazio e regressando com o pote cheio, deixava os filhos soltos no barreiro, enlameados como porcos. E eles estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava-se bem com a ignorância. tinha o direito de saber? tinha? Não tinha." (Vidas Secos - Graciliano Ramos) "Mas a água, só a que lhe inundou de repente as partes, e lhe escorria pelas coxas abaixo, quente, viscosa, pesada... Estremeceu. Poderia ainda continuar? Poderia ainda arrastar-se, cheia de febre, extenuada, em ferida pela serra a cabo? E as dores, cada vez mais apertadas, que a varavam de lado a lado, a princípio rastejantes, quase, voluptosas, e depois piores que facadas? Não, não podia continuar: agora só atirar-se ao chão e, como no dia de São Martinho, rolar sobre a terra em brasa, negra, saibrosa, eiçada de tocos carbonizados, sem palha centeia e quebrar a dureza das arestas, e sem o desavergonhado. do Armindo a cantar-lhe loas ao ouvido... Aguilhoado de todos os lados, o corpo começou a torcer-se, aflito. " (Miguel Torga, H Madalena., Os Bichos, Coimbra) DISSERTAÇÃO Como Fazer um Texto Dissertativo Na hora de fazer a redação, muita gente se atrapalha por não saber como fazer um texto dissertativo. Por isso, preparamos algumas dicas simples para você não se confundir. O que é uma dissertação? Dissertar é discutir assuntos, desenvolver raciocínios, emitir opiniões, argumentar em defesa de uma ideia. Partindo daí, podemos dizer que o texto dissertativo é um texto opinativo, no qual você apresenta e discute ideias, geralmente com o objetivo de convencer o leitor. Dissertar é, por meio da organização de palavras, frases e textos, apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pensamos utilizando-se da fundamentação, justificação, explicação, persuasão e de provas. Como organizar o texto dissertativo Como fazer uma boa dissertação Antes de escrever sua redação, é preciso pensar sobre o tema proposto. Alguns passos são importantes para que você escreva uma boa redação. Sugerimos que você monte um esquema, para organizar suas ideias. Tema Leia atentamente as informações sobre o tema da redação. Geralmente, além do tema, a orientação para a redação inclui textos e imagens que podem lhe ajudar a dissertar sobre o assunto. Fique de olho em todas as informações apresentadas. Faça um levantamento de todas as ideias importante e tente se lembrar tudo o que você sabe sobre o assunto. Se o tema for mais geral, você pode escolher algum ponto específico para abordar em sua redação. Mas se o tema já for delimitado, tente desenvolver suas ideias dentro do que foi proposto. Objetivos Depois de compreender e definir o tema de sua redação, é preciso pensar em quais são os objetivos a serem alcançados com a escrita. Algumas perguntas podem te orientar quanto aos objetivos do texto: Onde quero chegar com meu texto? Quero concordar? Discordar? Questionar? Comparar? O que eu quero provocar no meu leitor após a leitura do texto? Após definir os objetivos, não se esqueça que eles serão o fio condutor do seu texto. Tenha-os sempre em mente para não se perder na hora da escrita. Argumentos Com a argumentação, você deve convencer o leitor daquilo que está defendendo. Pense nas ideias que advogam a favor do seu ponto de vista e busque apresentar provas que sustentem seus argumentos. Você pode usar exemplos, dados numéricos e testemunhos que endossam o que você está dizendo. Para lhe auxiliar, faça uma lista com os argumentos, em ordem de importância e use um parágrafo para desenvolver cada um deles. Se você tiver muitos argumentos, tente reuni-los em torno de 2 ou 3 ideias principais. Como escrever o texto dissertativo O texto dissertativo se divide em três partes principais: introdução, desenvolvimento e conclusão. 1. Introdução: na introdução você deve apresentar o tema, ou seja, a ideia central que será desenvolvida em sua redação. Além de guiar a sua escrita, a introdução também deve servir de orientação para o leitor. Por isso, é importante delimitar muito bem o tema e não extrapolar o que foi proposto. Você também pode da ruma prévia do que usará como argumentos. 2. Desenvolvimento: o desenvolvimento é a parte mais sólida de sua redação. É no desenvolvimento que as ideias, conceitos, argumentos e provas são apresentados de forma mais ampla. Não se esqueça de seguir o seu esquema na hora de apresentar as ideias principais. 3. Conclusão: a conclusão deve amarrar as outras partes do texto e se ligar ao desenvolvimento e à introdução. Por isso, o ideal é retornar ao que foi apresentado na introdução e mostrar como os argumentos conduzem ao objetivo. A produção de textos dissertativos está ligada à capacidade argumentativa daquele que se dispõe a essa construção. É importante destacar que a obtenção de informações, referentes aos diversos assuntos, seja por intermédio da leitura, de conversas, de viagens, de experiências do dia e dia e dos mais variados veículos de informação pode sanar a carência de informações e consequentemente dar suporte ao produzir um texto. ESQUEMA DA DISSERTAÇÃO Tema Introdução 1º parágrafo Tema + 3 questionamentos do tema (por quês) Desenvolvimento 2º parágrafo Desenvolvimento 1º questionamento 3º parágrafo Desenvolvimento 2º questionamento 4º parágrafo Desenvolvimento 3º questionamento Conclusão 5º parágrafo Palavra-chave (Dessa forma, ...) síntese dos argumentos, critica ou ponto de vista, solução.
Posted on: Sat, 28 Sep 2013 17:30:37 +0000

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