Muita gente, quando me vê avaliar negativamente alguns aspectos - TopicsExpress



          

Muita gente, quando me vê avaliar negativamente alguns aspectos negativos do SIT em Uberlândia, me rotula de ingrato ou maluco. Não ligo; afinal, é mais que público e notório que a maior parte da população, ao avaliar algum sistema de transporte coletivo, tem pouco ou nenhum referencial externo - ou seja, outras cidades para referência - para comparação. Noutras palavras, é ignorante, não enxergando outra realidade além da própria. Por isso fazem elogios ou críticas superficiais: periodicidade das viagens, lotação, limpeza, idade média, educação dos operadores. Sim, são aspectos necessários e legítimos, mas a gênese de qualquer defeito ou melhoria desses quesitos não estão neles em si como o grosso da população acha, mas sim no planejamento do sistema. Dentre os itens que devem fazer parte de qualquer planejamento sério está o da frota operante, principalmente o tipo de veículo e o que ele oferece. Pois um bom sistema, ao contrário do que a população imagina, não é feito meramente de ônibus novos. Mais importante que uma baixa idade média é o tipo de veículo empregado e sua conservação - a título de exemplo, a Metra, que opera o corredor ABD na região metropolitana de São Paulo/SP, possui em sua frota vários ônibus que estão com 24 anos de idade, em bom estado de conservação, segurança e conforto (Qualquer idade acima de 15 anos é tida como suicida por praticamente todas as empresas e gestores no Brasil, pela incapacidade dos mesmos de conseguirem manter uma frota dessa idade em boas condições, o que destaca ainda mais a Metra). Sim, o tipo de veículo e o que ele oferece é um item primordial, mas plenamente negligenciado por praticamente todos os gestores e empresários. Por falta de planejamento ou por lobby dos empresários, tendem a comprar os veículos os mais baratos e básicos possíveis: lucrativos para os operadores, mas desumanos para os usuários, que são quem mantêm os sistemas. Ainda tratam os passageiros como reserva de mercado de um serviço que são obrigadas a oferecer, se esquecendo que este não sai de graça - na verdade é muito caro - e que a concorrência dos modais individuais está cada vez mais acirrada, incentivada também por políticas equivocadas dos governos em todos os níveis. Sim, para muitos andar de ônibus no Brasil é sinal de pobreza; carro é sinal de status... Existem poucas, mas interessantes iniciativas, que visam tornar o ônibus atrativo ao passageiro. Tais iniciativas passam por uma qualificação do sistema em geral - integração, corredores exclusivos, terminais em boas condições de utilização, uma boa e digna frota - exigindo do poder público postura para exigir e das empresas iniciativa e mudança do paradigma de que só podem lucrar se cortarem os custos ao máximo, independentemente da qualidade do serviço que oferecem. Neste quesito a Metra se destaca por causa da frota oferecida aos passageiros. Todos os ônibus da empresa são do tipo Padron, sendo que a empresa inova ao implantar tecnologias que sequer são cogitadas para implantação no Brasil, como: - Ônibus híbridos ou mesmo movidos a célula de hidrogênio; - Ar-condicionado em boa parte da frota (será padrão na frota conforme caminham as renovações); - Sistema de internet a bordo (wi-fi); - Transmissão automática presente em toda a frota, mesmos nos carros com mais de 20 anos de uso; - Bancos estofados, muitos deles em veludo; - ônibus de piso baixo em metade ou mais da frota (o corredor ABD não opera em estações elevadas) que, com as renovações, serão padrão na frota; - Suspensão pneumática presente em todos os veículos; - Outras. A Metra ainda possui como ônus a manutenção de todo o corredor, bem como dos terminais - encargos normalmente a cargo do poder público ou de algum preposto; normalmente as empresas só têm como responsabilidade os custos com a frota e nada mais. Qual o valor pago por cada passageiro para essa "brincadeira" toda? R$ 3,20 (possivelmente esse valor deve reduzir)!! Isso levando-se em conta que o corredor ABD não é apenas um corredor, mas um sistema de corredores METROPOLITANO que passa por três municípios: São Paulo, São Bernardo do Campo e Diadema. Ainda, faz integração direta com os sistemas municipais dos citados municípios (isto é, sem o pagamento de nova tarifa ao se valerem do corredor ou mesmo apenas a diferença das tarifas), absorvendo os passageiros destes sem bônus algum por parte dos mesmos, ou seja, sem subsídio algum. A título de comparação, praticamente todo o sistema metropolitano de Belo Horizonte, que praticamente não possui integração e conta com uma frota básica (praticamente toda formada por ônibus com motor dianteiro e sem nenhum dos itens acima citados como de conforto presente nos ônibus da Metra), possui tarifa igual ou superior ao R$ 3,20 cobrados na Metra, sendo que, em muitos casos, a quilometragem rodada com essa tarifa é muito menor que a média rodada pelos passageiros que se valem do corredor ABD. O investimento na frota por parte da Metra é tal que, mesmo sem o corredor ABD poder ser chamado de BRT (por não possuir pagamento de passagem externo em estações fechadas), este apresenta altíssimos níveis de satisfação dos usuários (segundo pesquisa da ANTP, cerca de 80% dos usuários pesquisados avaliaram o sistema como, no mínimo, bom). A foto em anexo apenas mostra mais uma das aquisições a serem incorporadas à frota da empresa. E por ela se percebe o comprometimento da mesma em oferecer transporte de qualidade. Sim, o investimento é maior, mas os lucros, que talvez possam demorar mais a aparecer, são duradouros. Pois um passageiro, quando tratado como cliente e não como gado, adquire confiança. E um cliente que adquire confiança no sistema não o troca por qualquer coisa... Enquanto isso, Uberlândia recebe ônibus sem espuma, de câmbio manual, suspensão a molas e motor dianteiro,mesmo em linhas de alta demanda. Isso em linhas municipais e muitas delas com menos de 10 km de trajeto (considera-se apenas o de ida; pois os passageiros têm mais o que fazer do que ficar dando voltas para fazer a volta completa - ida e volta). E tudo a um preço de R$ 2,85 que, com intervenção do MPE, deve baixar a R$ 2,70. Então, quando falo de referenciais, falo disto: procurar exemplos de fora e comparar com o existente aqui para, depois, emitir opinião. Pena que a maioria das pessoas sequer cogitam isso, avaliando por suas próprias convicções ou interesses... Marcelo Petrelli Bruno Guimarães Alexandre Andrade Wenes Petrucci Léo Vieira Rodrigo Dos Reis Vithor Carvalho Mel Vieira
Posted on: Thu, 04 Jul 2013 14:36:12 +0000

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