Não Se Esqueça de Mim é um curta metragem de animação digital - TopicsExpress



          

Não Se Esqueça de Mim é um curta metragem de animação digital escrito e dirigido pelo brasileiro Cristovão Mario. Desprovido de diálogo, assim como muitas produções semelhantes, vale-se dos efeitos sonoros e da trilha para atingir o âmago, reforçando o visual. Muito elogiado no Animamundi de 2012, o filme trata metalinguisticamente do ciclo de vida das idéias e das inspirações: como nascem, como crescem e, apesar da maneira gradativa que as esquecemos ao longo da vida, como nunca morrem. Justamente por isso, também é uma história sobre a desistência, a indolência, a descrença e o ceticismo que permeiam nossas vidas, que silenciam ou esterilizam nossos potenciais e ansiedades, que não tiram nosso interesse em transformar a realidade em mais do que ela é e, nisso, vivenciemos a plenitude e a felicidade. Uma visão quase platônica do nosso mundo, apresentado como uma analogia pobre de um mundo potencial invisível apenas perceptível pelos entes ideais e aqueles que nunca desistiram deles. Se utilizando da linguagem visual emprestada dos quadrinhos, a idéia/sonho é representada por uma nuvem de pensamento viva, com cauda de bolinhas e tudo, com a qual ela se ancora na cabeça de quem a alimenta. Ela surge ainda simples e impulsiva na mente do pensador, igualmente infantil e energético. Ambos crescem juntos e paralelos, à medida que o contato com os livros e as demais influências faz o projeto, ainda desconhecido pelo espectador, fique mais e mais ambicioso. Porém a vida acontece e, de súbito, a aparentemente inseparável parceria do sonho e do sonhador é rompida, ao passo que o último começa a dividir seu tempo com um número crescente de novos deveres, preocupações e interesses. Logo, a idéia pára de crescer, e vaga, insubstancial porém cônscia, ao redor de seu criador, estranhando tanta distância. Muito tempo depois, quando enfim percebe que não será considerada de novo, a idéia se vai, ao léu pelas ruas, até se deparar com a constatação de que não é a única. A cidade lotada e caótica mostra hordas de transeuntes humanos cruzando indiferentes com multidões de idéias soltas, uma civilização fantasma, marginal e alheia como os próprios mendigos das calçadas. A idéia protagonista conhece percebe que o mundo exterior é um campo rico e pleno, onde as idéias são aparentemente livres e se inter-relacionam, brotando umas das outras. A princípio contente com a suposta utopia, a idéia cedo percebe o quão amarga é a eternidade do “talvez um dia” a que estão submetidos. Conhece a história de um sonho cujo sonhador morrera sem nunca ter sequer a revelado, paralelo a outra idéia, que “se elevou” contente a qualidade de coisa real, se tornando aquilo a que se referia. Determinada a completar seu significado, a idéia retorna ao seu criador, encontrando-o “completo”, nos sistemáticos critérios modernos: é homem, é esposo, é pai, é funcionário de uma firma de sucesso. Mas é infeliz. Meditando a respeito desse vazio, eis que o antigo sonhador encontra rascunhos das coisas que pensava e, de repente, tem um vislumbre da idéia. A conexão se restabelece. Mas será que o sonho é forte o suficiente para superar tantas camadas de tempo e arrependimento? Poderia a idéia perdoar seu criador por ter se esquecido dela? Ou quem sabe a idéia, assim como seu colega cujo dono havia morrido, poderá viver através de seus filhos e sucessores, gerações a fora pelas memórias, registros ou rascunhos, até um dia ser real. Um dia ser aquilo ou parte daquilo. Ser um prédio, um desenho, uma bomba, um texto. Até um dia apenas Ser. Afinal, antes de tudo ser tudo, tudo era uma idéia.
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 05:41:44 +0000

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