" Não sou médico, não sou cubano, não moro no interior e não - TopicsExpress



          

" Não sou médico, não sou cubano, não moro no interior e não sou presidente da república. Mas sou jornalista e fiquei muito assustado com a leviandade com que tem sido tratado o assunto da "importação" dos médicos. É irresponsável quem acha que trazer médicos de Cuba não é um ato político. Idealizar a ilha (e sua relação com o Brasil) é um erro quase tão grotesco quanto endemonizá-la. Cuba tem seus problemas, assim como Liechtenstein; e suas virtudes, assim como Bangladesh. Tão ou mais irresponsáveis são os corporativistas cretinos dos conselhos regionais de medicina que também não são cubanos, não moram no interior, não são presidentes da república e, a julgar pelo que dizem, sequer são médicos. Não têm o menor pudor de assassinar a ética para defender uma "soberania" - um tanto estrábica. A priori, eu sou entusiasta dos acordos de cooperação do Brasil com os outros países da América Latina. Estamos distantes demais dos centros mundiais de poder para nos consumirmos em nossas próprias picuinhas. Sempre acreditei que o Brasil tem obrigação de exercer de maneira decente seu papel de "potência regional": sem paternalismo, intervencionismo, muito menos filantropia, mas com o interesse em um desenvolvimento equilibrado de toda a região. E, justamente por isso, não tenho vergonha nenhuma de aceitar qualquer braço estrangeiro que se me ofereçam. Pensar assim é tomar o caminho oposto à paranoia, às restrições migratórias, ao muramento, enfim, da "prosperidade". Mas a tal "importação", embora ofereça soluções práticas pra um déficit concreto, tem um fundo político grande demais para ser ignorado. E é contra o simbólico que a patrulha anda fazendo coro. Pois bem, não tenho opinião formada. Continuo não sendo médico, cubano, interiorano ou presidente da república e, por isso, vou me eximir das tecnicitudes. Mas na condição de um brasileiro com ojeriza à xenofobia, ao racismo, ao fundamentalismo ideológico e à ditadura privatizatória da saúde (que deveria ser pública, segundo a constituição) permito-me dizer: Sejam bem-vindos, colegas médicos de Cuba. E engenheiros, atletas, músicos, prostitutas, professores, diplomatas, jornalistas de onde quer que sejam. " João Cavalcanti
Posted on: Tue, 27 Aug 2013 15:16:05 +0000

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