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Nós, os estúpidos --------------------- A maior parte da comunidade não liga à política. Até foge dela. Daí tantos alimentarem uma larvar ou infecta repulsa por todo e qualquer um que a faça, essa porca e essa puta (pois é, o machismo bronco anda de mão dada com o bronco populismo). Estes infelizes estão cheios de histórias para contar, que relatam de baba a escorrer pelos cantos das beiçolas, daquele e do outro que roubaram, fizeram, aconteceram… e voltaram a roubar. Outros vivem-na como um conflito identitário, mergulhados na infernal defesa do que julgam ameaçado pela alteridade. São os sectários e os fanáticos, e também os oligarcas (os de posses ou os de delírio). Outros não possuem as condições cognitivas, intelectuais ou morais para sequer acederem aos conceitos primeiros inerentes à actividade política – pense-se nos imaturos, nos analfabetos, nos alienados. Finalmente, os doentes, com mais e pior para pensar. Os partidos, mesmo os que utilizem sofisticadas métricas demográficas, não falam para esta mole tão díspar como ubíqua. E por evidentes razões. Como despertar o interesse a quem não está disposto a ouvir-nos? E ainda antes: que dizer a um conjunto definível pela ausência de mínimos programáticos comuns? Em vez desta missão impossível, os partidos discursam para um eleitor que representa quem eles melhor conhecem: as suas próprias e mui estimadas pessoas mais os respectivos grupos de pertença. Por isso, nesse fatal egocentrismo, os oradores tentam derrotar os adversários através do aumento dos decibéis e da exposição de caras feias, não pela curiosidade que gera confiança, e cuja confiança aumenta a curiosidade pela diferença. Regista-se a mesma disfunção que leva um jogador de futebol a ofender e ameaçar um árbitro para que ele volte atrás no que decidiu, embora não haja notícia de alguma vez isso ter acontecido a não ser em jogos da distrital sem policiamento. Os políticos contentam-se com as palmadinhas nas costas dadas pelas suas claques após os espectáculos, rendidos à evidência de que não se pode remar contra a maré se a ideia for a de querer chegar a algum lado. Universidades, imprensa de opinião e organizações civis variegadas não oferecem soluções, alternativas ou esperança. Aceita-se fácil e confortavelmente o marasmo por ser previsível, uma constante produção de irrelevâncias. Atenção: não se trata de considerar irrelevante o que os partidos apresentam e os políticos defendem ou atacam – irrelevante é o resultado do debate político, por ser mecânico, por ser estéril. Estaremos, portanto, condenados à estupidez que consiste em fazer da política uma guerra civil? Sim. Será uma guerra enquanto existirem hierarquias de poder social e financeiro geradoras de desigualdades económicas, algo que não consta estar para acabar nos próximos dez mil anos. Mas poderá ser uma guerra menos estúpida. Se começarmos por tratar de nós. Nós, os estúpidos (Val, no "aspirina")
Posted on: Mon, 19 Aug 2013 18:35:01 +0000

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