O CORAÇÃO OCULTO Carlos Bartolomeu O coração das artes cênicas é o Espetáculo. A atuação e a voz da atuação, encenadores e o público reunidos formam uma unicidade indissolúvel: a representação, o Espetáculo. Gesto, Dança são a essência do Drama, e o texto escrito, um recurso por vezes, demasiado enfático. A literatura dramática pretende o eterno, as artes plásticas ligadas a cena teatral, música e, todo aquele suporte que supõe a humana noção de durabilidade, aspiram o sempre. Apenas o espetáculo em sua temporalidade, aceita a dissolução, o fim. O espetáculo, na arquitetura da não permanência se irradia, se dilui e se preserva. É no contínuo de vida e morte que ele extrai sua vitalidade. É na esperança de que a vida, não incluindo desfechos insolúveis, acende a poesia e restabelece o prosseguir. O espetáculo fingindo repetir-se interpreta positivamente a humana aspiração de encontro com a essência superior. Este trabalho sobre a gestualidade de CLOWNS e CLÓVIS, AUGUSTOS E BRANCOS, mimando trejeitos populares e os das elites, teima na reverente obsessão de apreender nos corpos humanos, o lirismo. Aplica-se a recuperar no discurso das brincadeiras selvagens da programação trash da TV, e o que de humanamente terno possa estar oculto. No lixo e no periférico há poesia, ao menos, possibilidades dela. Aceitar a sombra é pressagiar a luz. Quem tiver olhos, veja... 02/2003
Posted on: Sat, 21 Sep 2013 03:04:08 +0000
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