O Eli Vieira cita o Oswaldo Porchat Pereira como a - TopicsExpress



          

O Eli Vieira cita o Oswaldo Porchat Pereira como a personificação mesma da idoneidade filosófica que me falta. Vejam quem é o personagem (escrevi este artigo há mais de quinze anos): Difamação ou calúnia? Olavo de Carvalho A propósito de um artigo meu publicado em Bravo! de junho de 1998, que comentava suas declarações a Livro Aberto de agosto de 1997, Oswaldo Porchat Pereira acusa-me de difamador, truculento, pérfido, e indigno de confiança. Tentando dar alguma substancialidade a estes adjetivos, acrescenta que: (1o) operei em suas palavras uma montagem, (2o) amputando-as do contexto, (3o) para lhes impor uma interpretação estapafúrdia com a finalidade de fazer parecer que estivessem revelando um fato lamentável no que concerne ao ensino de filosofia na USP. Sendo Porchat um conhecedor profundo da análise de textos, não é cabível que se enganasse tanto na interpretação de suas próprias palavras, bem como do texto jornalístico que as comentava. O problema pode portanto ser equacionado assim: ou eu alterei as palavras de Porchat para danar sua reputação, ou ele é que está mentindo de caso pensado para me atribuir um crime que não cometi. Sou eu o difamador ou Porchat o caluniador? Como diriam os escolásticos, tertium non datur: não há terceira hipótese. Mas será normal que um homem culto e no seu juízo perfeito, ao lançar acusações de tal porte, não faça em seguida a mais ínfima tentativa de prová-las, mas se limite a afirmá-las, a jogá-las no ar com a presunção insana de quem imagina ter o direito divino de ser crido sob palavra? Pois foi exatamente isso o que fez Porchat. Não digo que apresentasse provas falsas, ou débeis, ou fúteis. Nada disso: ele não apresentou nenhuma. Isso é tanto mais estranho porque provar aquelas acusações, se fossem verazes, teria sido bem fácil. Bastaria cotejar algumas frases da entrevista com sua transcrição espúria, e pronto: estaria demonstrada a montagem, a perfídia do truculento difamador. Se Porchat não fez isso, tendo à sua disposição quase uma página inteira da Folha para explicar-se, foi por uma única razão: porque sabia que suas palavras transcritas em Bravo! eram idênticas, na forma e no sentido, às de Livro Aberto. Não o fez porque sabia que, desse cotejo, quem sairia esmagado seria o acusador e não o acusado. Não o fez porque sabia que estava mentindo. Farei eu, portanto, o que ele não fez. Onde ele preferiu planar no genérico e no alusivo para espalhar discretamente veneno no ar evitando os riscos de um confronto direto, vou descer aos detalhes do texto. I Montagem é desmembrar as partes de um texto para arranjá-las numa nova ordem que pode, eventualmente, alterar o sentido do conjunto. As frases de Oswaldo Porchat citadas no meu artigo foram as seguintes: Primeira: Nenhum estímulo é dado [no departamento de Filosofia da USP] para a reflexão pessoal e original – mais do que isso: desaconselha-se vivamente qualquer veleidade de proceder a uma elaboração crítica do próprio pensamento. Segunda: Exerci uma influência certamente nefasta sobre meus alunos na USP, na medida em que eu defendia essa proposta. As frases são duas e apenas duas. Ora, entre duas frases, como aliás entre dois elementos quaisquer, só pode haver duas e não mais de duas ordens: da primeira para a segunda e da segunda para a primeira. E as duas frases de Porchat, seja numa ordem, seja na inversa, significam exatamente a mesmíssima coisa. Montagem, pois, se houvesse, seria inócua: dando na cabeça ou na cabeça dando, o que ele disse foi que o ensino da filosofia na USP inibe a capacidade crítica de seus alunos, que isto é uma coisa lamentável, e que ele próprio contribuiu para produzi-la com sua influência pessoal, mais que lamentável, nefasta. E influência nefasta é expressão dele, não minha. II Quanto à segunda acusação, de que separadas do contexto as declarações tinham seu sentido alterado, ela é o contrário simétrico da verdade. O contexto não faz senão enfatizar o sentido unívoco e inquestionável das duas sentenças. Para demonstrá-lo, cederei a meu acusador o espaço de que disponho, para lhe dar a oportunidade de se enforcar com sua própria corda. Transcrevo aqui, por extenso, o trecho de onde saíram as duas frases: Livro Aberto: É possível afirmar que isso ainda é fato no curso de filosofia da USP? Porchat: (Eu vou responder a essa pergunta daqui a pouquinho...) Assim, eu não tive tempo de fazer opções próprias de leitura e muito menos de elaborar uma reflexão pessoal. Bom, sob a influência da doutrina estruturalista, eu deixei de acreditar na reflexão pessoal.... O estruturalismo funcionou de maneira extremamente castradora sobre mim e meus colegas, isto é, o que é lícito fazer é estudar o sistema, é compreendê-lo, aprofundar a análise interna das obras. Nós podemos eventualmente tornar-nos bons historiadores da filosofia, mas nenhum estímulo é dado para a reflexão pessoal e original – mais do que isso: desaconselha-se vivamente qualquer veleidade de proceder a uma elaboração crítica do próprio pensamento. Em filosofia, só cabe conhecer e analisar estruturas de pensamento filosófico – essa é, vamos dizer, a orientação fundamental do estruturalismo filosófico. Sob influência desse estruturalismo eu fui vítima daquilo que chamei, há pouco, de uma castração intelectual: ser filósofo era, para mim, ser um bom historiador, ser capaz de analisar estruturas. E durante muito tempo eu me consagrei a fazer história da filosofia, entendendo que isso era fazer filosofia. O problema das opções pessoais, de elaborar um pensamento crítico – tudo isso foi abandonado; mais do que isso, eu tornei-me um defensor encarniçado do método estruturalista e dessa postura, exercendo uma influência certamente nefasta sobre meus alunos na USP, na medida em que eu defendia essa proposta, batalhava por ela. Ocorreu que muitos de meus colegas foram – graças ao Gianotti e a mim – levados a receber essa mesma influência do Goldschmidt. Vários professores do Departamento foram para a França estudar com Goldschmidt por nossa sugestão e os que não foram se formaram aqui conosco, de modo que se desenvolveu, no Departamento de Filosofia, toda uma postura estruturalista no ensino da filosofia, que até hoje, a meu ver, é dominante. E esse me parece um fato bastante infeliz, na medida em que se privilegia o estudo dos autores, deixando-se totalmente de lado o estímulo à reflexão filosófica pessoal e original. É claro, é fundamental que os autores sejam estudados, eu não vejo como se possa fazer uma filosofia pessoal e criadora sem bons e sólidos conhecimentos históricos. Acho uma felicidade que o Departamento de Filosofia da USP tenha tão bons historiadores e tão bons cursos de história da filosofia como tem (o que não acontece em muitos lugares do Brasil e fora dele), mas acho uma infelicidade que, ao lado disso, floresçam pouco outras formas de ensinar filosofia e, sobretudo, que a elaboração filosófica pessoal, a elaboração crítica, fique tão prejudicada. Os alunos não são estimulados a reagir intelectualmente. Há alguma dúvida quanto à identidade de sentido do texto e do contexto? Responda-o o próprio leitor: o que acaba de ler é ou não a revelação de um fato lamentável no que concerne ao ensino de filosofia na USP e o mea culpa de quem reconhece haver ajudado a produzi-lo? III A terceira acusação, enfim, é que seria uma interpretação absurda afirmar que essas palavras estivessem revelando um fato lamentável. Para ver o quanto isto é coisa falsa e de má-fé, basta reparar que, no final do trecho, Porchat, após descrever o estado reinante no ensino de Filosofia da USP, faz dele, literalmente, a seguinte avaliação: Esse me parece um fato bastante infeliz. Pode haver a mais leve dúvida de que a infelicidade é lamentável e de que a interpretação estapafúrdia que ele me atribui é dele mesmo? A única coisa que falta, não no meu artigo, mas na entrevista mesma, é a longa introdução oca e laudatória que Porchat agora acrescentou às suas declarações para tentar disfarçar a gravidade do que denunciavam. Ou seja: não fui eu que amputei as declarações do contexto, foi Porchat que lhes enxertou um contexto postiço para dar a impressão de que não disse o que disse e de que disse o que não disse. Se ele deu a entrevista num arroubo fugaz de sinceridade, e em seguida, acometido de um ataque de temor servil, resolveu voltar atrás, é problema dele, mas é aliás coisa que não me espanta num adepto do pirronismo filosófico, o qual é, por definição, a filosofia dos indecisos. Para encerrar, três lembretes: 1) Malgrado algumas gozações que lhe fiz no meu artigo, Porchat emergia dele na condição afinal honrosa de quem dissera parte da verdade onde todos a calavam por completo. Ao recuar, temeroso, das conseqüencias do bem que fizera, ele trocou meia honra pela completa desonra. 2) Ele lança suas acusações sem nome do destinatário mas com indicações suficientes do seu endereço, sob a forma de alusões. É procedimento típico do caluniador malicioso, que se abriga por trás de um discurso aparentemente genérico para poder ferir, sem ser apanhado, um alvo muito preciso e determinado. 3) Após espalhar seu veneno, ele pretende dar o debate por encerrado e sair de fininho. Imagina que pode divulgar uma acusação caluniosa e depois ir para casa como se nada tivesse acontecido. Julga portanto que é coisa normal ficar isento das conseqüências de seus atos. Mas devo informar-lhe que, desta vez, ele não tem autoridade ou poder para conferir a si mesmo semelhante isenção. O que ele fez contra mim foi acusar-me de um crime do qual sabe que estou inocente – e esta acusação é crime maior ainda. Não cabe a Porchat dar o caso por encerrado. Isto é atribuição exclusiva da Justiça, da qual nem os mais escorregadios subterfúgios da sofística universal poderão salvá-lo.
Posted on: Sat, 19 Oct 2013 20:23:55 +0000

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